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VIOLÊNCIA
Para colegas, lugar era bonito, mas estava malcuidado; antigo dono deixou área após suposta tentativa de homicídio
Amigos não viam sítio como local perigoso
SIMONE IWASSO
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o grupo de adolescentes
que costumava acampar no sítio
de Embu-Guaçu (Grande São
Paulo) nos últimos dois anos, o
local não era perigoso. "Era um
lugar bonito. Tinha cavalos, animais e muito sossego. Nunca tivemos a impressão de ser um lugar
perigoso", disse Renato de Araújo
Ramalho, 20, amigo de infância e
vizinho de Felipe Silva Caffé.
Ramalho conta que seu pai chegou a visitar o sítio em uma das
viagens do grupo para saber onde
eles estavam. "Como não tem telefone e o celular não pega lá, meu
pai foi com a gente um dia para
conhecer e, se acontecesse alguma
coisa, ele conseguiria nos encontrar", afirmou.
O jovem chegou a mostrar algumas fotos do sítio, com cavalos
pastando e a grama cortada. Mesmo assim, reconhece: "Nas últimas vezes que a gente foi até lá, já
estava meio abandonado".
O sítio fica na divisa de Juquitiba com Embu-Guaçu, a cerca de
50 km de São Paulo. É preciso pegar um ônibus até Embu-Guaçu
para chegar ao local, em uma viagem de cerca de duas horas, e, em
seguida, outro ônibus para Santa
Rita, um lugarejo próximo ao sítio abandonado.
Para chegar ao ponto em que os
estudantes montaram a barraca é
preciso andar ainda cerca de 4,5
km dentro da mata.
O sítio foi abandonado pelo
proprietário, um artista plástico
português, há pouco mais de um
ano. O dono teria sofrido uma
tentativa de homicídio no local e
desistido de permanecer na casa.
Segundo Fernando da Silva
Santos, 21, amigo que apresentou
o local a Felipe, o português uma
vez encontrou um desmanche
próximo e ordenou aos criminosos que fossem embora. Eles então teriam agredido o proprietário do sítio com um facão.
Enquanto era mantido pelo
proprietário, que morava no local
desde 1983, o sítio costumava
abrigar as barracas dos jovens que
iriam acampar. As exigências do
artista plástico, que não cobrava
pela permanência no sítio, consistiam em não jogar lixo ou pontas
de cigarro no chão.
O sítio era decorado com as esculturas que o proprietário fazia
-grandes estátuas com símbolos
fálicos, construídas com latões de
alumínio e madeira.
Com a saída do proprietário, as
esculturas foram depredadas, a
mata cresceu e as construções do
sítio se deterioraram. De acordo
com os próprios estudantes, a frequência no sítio diminuiu muito
depois da saída do dono.
Caffé, segundo amigos, já havia
ido pelo menos 20 vezes ao local.
Mas foi a primeira vez que levou a
namorada para lá.
Local violento
O município de Embu-Guaçu
está na lista dos mais violentos da
região metropolitana. Em 2002,
chegou a bater os índices de homicídios dolosos -com intenção
de matar- registrados na capital.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Embu-Guaçu teve 73
assassinatos por 100 mil habitantes naquele ano, contra 44 em São
Paulo. Além disso, a região é conhecida por ser alvo de desova de
cadáveres e de carros roubados.
A mata no local é tão fechada,
que, durante as buscas, nem mesmo o rádio da polícia funcionava.
Colaborou o "Agora"
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