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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Para colegas, lugar era bonito, mas estava malcuidado; antigo dono deixou área após suposta tentativa de homicídio

Amigos não viam sítio como local perigoso

SIMONE IWASSO
PEDRO DIAS LEITE

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o grupo de adolescentes que costumava acampar no sítio de Embu-Guaçu (Grande São Paulo) nos últimos dois anos, o local não era perigoso. "Era um lugar bonito. Tinha cavalos, animais e muito sossego. Nunca tivemos a impressão de ser um lugar perigoso", disse Renato de Araújo Ramalho, 20, amigo de infância e vizinho de Felipe Silva Caffé.
Ramalho conta que seu pai chegou a visitar o sítio em uma das viagens do grupo para saber onde eles estavam. "Como não tem telefone e o celular não pega lá, meu pai foi com a gente um dia para conhecer e, se acontecesse alguma coisa, ele conseguiria nos encontrar", afirmou.
O jovem chegou a mostrar algumas fotos do sítio, com cavalos pastando e a grama cortada. Mesmo assim, reconhece: "Nas últimas vezes que a gente foi até lá, já estava meio abandonado".
O sítio fica na divisa de Juquitiba com Embu-Guaçu, a cerca de 50 km de São Paulo. É preciso pegar um ônibus até Embu-Guaçu para chegar ao local, em uma viagem de cerca de duas horas, e, em seguida, outro ônibus para Santa Rita, um lugarejo próximo ao sítio abandonado.
Para chegar ao ponto em que os estudantes montaram a barraca é preciso andar ainda cerca de 4,5 km dentro da mata.
O sítio foi abandonado pelo proprietário, um artista plástico português, há pouco mais de um ano. O dono teria sofrido uma tentativa de homicídio no local e desistido de permanecer na casa.
Segundo Fernando da Silva Santos, 21, amigo que apresentou o local a Felipe, o português uma vez encontrou um desmanche próximo e ordenou aos criminosos que fossem embora. Eles então teriam agredido o proprietário do sítio com um facão.
Enquanto era mantido pelo proprietário, que morava no local desde 1983, o sítio costumava abrigar as barracas dos jovens que iriam acampar. As exigências do artista plástico, que não cobrava pela permanência no sítio, consistiam em não jogar lixo ou pontas de cigarro no chão.
O sítio era decorado com as esculturas que o proprietário fazia -grandes estátuas com símbolos fálicos, construídas com latões de alumínio e madeira.
Com a saída do proprietário, as esculturas foram depredadas, a mata cresceu e as construções do sítio se deterioraram. De acordo com os próprios estudantes, a frequência no sítio diminuiu muito depois da saída do dono.
Caffé, segundo amigos, já havia ido pelo menos 20 vezes ao local. Mas foi a primeira vez que levou a namorada para lá.

Local violento
O município de Embu-Guaçu está na lista dos mais violentos da região metropolitana. Em 2002, chegou a bater os índices de homicídios dolosos -com intenção de matar- registrados na capital. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, Embu-Guaçu teve 73 assassinatos por 100 mil habitantes naquele ano, contra 44 em São Paulo. Além disso, a região é conhecida por ser alvo de desova de cadáveres e de carros roubados.
A mata no local é tão fechada, que, durante as buscas, nem mesmo o rádio da polícia funcionava.


Colaborou o "Agora"


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