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Árvores atrapalham o Campo de Marte
Além de deixarem controladores de vôo sem visão de uma das cabeceiras da pista, eucaliptos são obstáculo para pousos e decolagens
Bosque é um dos problemas de segurança do aeroporto, o 5º mais movimentado do país e de onde partiu o Learjet que caiu no dia 4
EVANDRO SPINELLI
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Lá do alto da torre, os controladores de vôo têm visão de toda a pista e ajudam os pilotos
nos pousos e nas decolagens.
Era para ser assim. Mas não
é, pelo menos no aeroporto
Campo de Marte (zona norte
de São Paulo), o quinto mais
movimentado do país, cercado
por casas, perto da marginal
Tietê, por onde circulam 750
mil carros por dia.
Da torre do Campo de Marte
só se enxerga parte da pista. A
cabeceira 12 -como é chamado
o trecho da pista por onde decolou o Learjet 35A da Reali Táxi Aéreo, pouco antes de cair na
tarde do dia 4 em cima de casas
no bairro da Casa Verde, matando oito pessoas- está encoberta por árvores.
Um animal que invada a pista, por exemplo, só será percebido quando o avião já estiver
bem próximo, e o piloto puder
enxergá-lo. Se enxergar.
Essa falta de visibilidade pode ter alguma relação com o
acidente da semana passada?
Provavelmente não. Mas é um
exemplo dos problemas de segurança do Campo de Marte,
alguns relatados pela própria
Aeronáutica no Rotaer, um
guia de consulta obrigatória para pilotos e co-pilotos.
As regras do Rotaer fazem do
Campo de Marte um aeroporto
ainda mais restritivo do que
Congonhas, considerado perigoso pela maioria dos pilotos.
Um exemplo: é proibido no
Campo de Marte o pouso de
aviões sem transponder, equipamento que evita o choque de
aeronaves, o que demonstra a
preocupação com a possibilidade de acidentes. Em Congonhas, não há essa restrição.
Outro exemplo: a pista do
Campo de Marte tem 300 metros "interditados" para pousos
e decolagens na cabeceira 12,
que fica do lado oposto da praça
Campo de Bagatele, por causa
de obstáculos que prejudicam a
aproximação dos aviões.
Nem o Oscar's Hotel, interditado após o acidente com o
avião da TAM em julho por prejudicar os pousos em Congonhas, atrapalha tanto.
Um dos obstáculos do Campo de Marte é um bosque de eucaliptos. E não é coincidência.
Os eucaliptos fazem parte do
mesmo bosque que prejudica a
visibilidade dos controladores.
Técnicos e assessores do Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), do
DEPRN (Departamento Estadual de Proteção aos Recursos
Naturais), da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e da Subprefeitura de
Santana foram unânimes: basta haver um pedido e a retirada
das árvores será autorizada.
Edgard Brandão Filho, ex-superintendente regional sudeste e agora assessor especial
da Infraero, afirmou não ter recebido nenhuma reclamação
oficial da Aeronáutica sobre a
falta de visibilidade.
"Não recebemos reclamação
formal, mas se as árvores estão
crescendo bastante pode ser
que em mais alguns anos a situação fique mais complexa",
disse Brandão Filho.
Segundo ele, haverá uma licitação para contratar uma empresa que faça um estudo de
impacto ambiental para a retirada das árvores. O plano diretor do aeroporto prevê a ampliação de pátio e hangares.
O procurador do trabalho
Fábio de Assis Fernandes, que
investigou as condições de trabalho dos operadores de vôo
em São Paulo até agosto deste
ano, disse que "a torre só funciona como torre de rádio e
perde sua função de controle".
Não bastassem esses problemas, a Aeronáutica ainda alerta
os pilotos para que tomem cuidado com urubus, pipas e balões de sondagem meteorológica que costumam sobrevoar o
aeroporto e as áreas de aproximação e decolagem dos aviões.
A preocupação com a falta de
segurança do aeroporto é tanta
que o Rotaer alerta até para o
perigo de máquinas de cortar
grama na beira da pista. Em
Congonhas não tem nada disso.
Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília
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