São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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Árvores atrapalham o Campo de Marte

Além de deixarem controladores de vôo sem visão de uma das cabeceiras da pista, eucaliptos são obstáculo para pousos e decolagens

Bosque é um dos problemas de segurança do aeroporto, o 5º mais movimentado do país e de onde partiu o Learjet que caiu no dia 4

EVANDRO SPINELLI
KLEBER TOMAZ

DA REPORTAGEM LOCAL

Lá do alto da torre, os controladores de vôo têm visão de toda a pista e ajudam os pilotos nos pousos e nas decolagens.
Era para ser assim. Mas não é, pelo menos no aeroporto Campo de Marte (zona norte de São Paulo), o quinto mais movimentado do país, cercado por casas, perto da marginal Tietê, por onde circulam 750 mil carros por dia.
Da torre do Campo de Marte só se enxerga parte da pista. A cabeceira 12 -como é chamado o trecho da pista por onde decolou o Learjet 35A da Reali Táxi Aéreo, pouco antes de cair na tarde do dia 4 em cima de casas no bairro da Casa Verde, matando oito pessoas- está encoberta por árvores.
Um animal que invada a pista, por exemplo, só será percebido quando o avião já estiver bem próximo, e o piloto puder enxergá-lo. Se enxergar.
Essa falta de visibilidade pode ter alguma relação com o acidente da semana passada? Provavelmente não. Mas é um exemplo dos problemas de segurança do Campo de Marte, alguns relatados pela própria Aeronáutica no Rotaer, um guia de consulta obrigatória para pilotos e co-pilotos.
As regras do Rotaer fazem do Campo de Marte um aeroporto ainda mais restritivo do que Congonhas, considerado perigoso pela maioria dos pilotos.
Um exemplo: é proibido no Campo de Marte o pouso de aviões sem transponder, equipamento que evita o choque de aeronaves, o que demonstra a preocupação com a possibilidade de acidentes. Em Congonhas, não há essa restrição.
Outro exemplo: a pista do Campo de Marte tem 300 metros "interditados" para pousos e decolagens na cabeceira 12, que fica do lado oposto da praça Campo de Bagatele, por causa de obstáculos que prejudicam a aproximação dos aviões.
Nem o Oscar's Hotel, interditado após o acidente com o avião da TAM em julho por prejudicar os pousos em Congonhas, atrapalha tanto.
Um dos obstáculos do Campo de Marte é um bosque de eucaliptos. E não é coincidência. Os eucaliptos fazem parte do mesmo bosque que prejudica a visibilidade dos controladores.
Técnicos e assessores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), do DEPRN (Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais), da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e da Subprefeitura de Santana foram unânimes: basta haver um pedido e a retirada das árvores será autorizada.
Edgard Brandão Filho, ex-superintendente regional sudeste e agora assessor especial da Infraero, afirmou não ter recebido nenhuma reclamação oficial da Aeronáutica sobre a falta de visibilidade.
"Não recebemos reclamação formal, mas se as árvores estão crescendo bastante pode ser que em mais alguns anos a situação fique mais complexa", disse Brandão Filho.
Segundo ele, haverá uma licitação para contratar uma empresa que faça um estudo de impacto ambiental para a retirada das árvores. O plano diretor do aeroporto prevê a ampliação de pátio e hangares.
O procurador do trabalho Fábio de Assis Fernandes, que investigou as condições de trabalho dos operadores de vôo em São Paulo até agosto deste ano, disse que "a torre só funciona como torre de rádio e perde sua função de controle".
Não bastassem esses problemas, a Aeronáutica ainda alerta os pilotos para que tomem cuidado com urubus, pipas e balões de sondagem meteorológica que costumam sobrevoar o aeroporto e as áreas de aproximação e decolagem dos aviões.
A preocupação com a falta de segurança do aeroporto é tanta que o Rotaer alerta até para o perigo de máquinas de cortar grama na beira da pista. Em Congonhas não tem nada disso.


Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília

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