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ANÁLISE
Pane tem natureza muito diferente do apagão de 2001
NIVALDE J. CASTRO
ROBERTO BRANDÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O grande blecaute de anteontem reacendeu no imaginário
popular o fantasma do apagão.
Tudo o que dá errado no Brasil
em termos de infraestrutura é
chamado de apagão. Fala-se de
apagão aéreo, de apagão logístico, de apagão rodoviário. Mas o
apagão original, aquele que popularizou o termo, foi o racionamento de energia de 2001.
O que houve na última terça,
por mais impressionante que
tenha sido pela extensão da
área geográfica afetada, foi um
evento de natureza muito diferente do apagão de 2001.
Naquele ano, o Brasil vinha
de um longo período de baixos
investimentos em geração e
transmissão de energia elétrica. O índice de chuvas foi abaixo da média, e o sistema elétrico, que trabalhava sem a folga
adequada, não teve como abastecer o país.
Hoje, a situação do setor elétrico é outra. Houve uma recuperação dos investimentos no
setor, sobretudo em linhas de
transmissão, mas também em
geração termoelétrica e hídrica. Além disso, este tem sido
um ano muito úmido, trazendo
farta disponibilidade nos reservatórios das hidroelétricas.
Outro aspecto importante foi
a crise econômica, que reduziu
o consumo de energia elétrica,
de modo tal que hoje temos
uma carga menor do que havia
sido antecipado.
Mas se tudo está tão bem
com a geração e a transmissão
de energia, como pôde ocorrer
um blecaute como o de terça?
Ora, um blecaute, isto é, uma
falha geral no sistema de transmissão, é um evento improvável, mas que pode acontecer. É
um pouco como morrer fulminado por um raio: é difícil de
ocorrer, mas não é impossível.
Anteontem, houve um desligamento simultâneo de três linhas de transmissão de 750 kV
de Itaipu, cuja causa precisa
ainda está sendo investigada. O
sistema elétrico simplesmente
não é capaz de resistir a um
evento como esse.
Se considerarmos a lógica do
planejamento e da operação do
sistema de transmissão, entendemos que a perda de dois equipamentos de um mesmo circuito pode até ser contornada; mas
a perda de três aparelhos com a
mesma função sempre resulta
em um blecaute.
A dimensão do blecaute é explicada pela importância do
circuito atingido: o sistema de
transmissão de Itaipu, o maior
do país.
NIVALDE J. CASTRO é coordenador do Gesel
(Grupo de Estudos do Setor Elétrico) da UFRJ
ROBERTO BRANDÃO é pesquisador sênior do
Gesel
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