São Paulo, quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Lista tríplice não lesa democracia

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se o governador José Serra, contrariando a tradição, deixar de escolher o nome que encabeça a lista tríplice de candidatos à reitoria da USP, não estará cometendo nenhum crime de lesa-democracia.
Existem diversas maneiras de entronizar um "rector universitatis". A eleição direta por professores, funcionários e alunos, que vigora em várias universidades federais, é muito provavelmente a pior delas.
Além de favorecer enormemente o populismo -o candidato que prometesse acabar com as provas, por exemplo, ganharia preciosos pontos entre estudantes-, o voto direto é essencialmente antidemocrático. No caso da USP, excluiria completamente do processo o conjunto de habitantes do Estado de São Paulo, que, vale lembrar, é quem paga as contas através dos 9,57% do ICMS constitucionalmente repassados às três universidades paulistas.
Não é preciso PhD em ciência política para perceber que um bom modelo precisa não apenas dar algum tipo de voz ao eleitorado-contribuinte paulista como também conferir pesos diferenciados a cada categoria envolvida no processo.
Professores, que em tese têm compromisso acadêmico de longo prazo, precisam influenciar mais na escolha do que alunos, cuja maioria está na universidade por apenas quatro anos e com o objetivo muito pragmático de obter o diploma.
O sistema de eleição utilizado pela USP, no qual a comunidade acadêmica elabora uma lista com três nomes e o governador faz a escolha final, está longe do ideal, mas ao menos tem o mérito de reservar algum papel para a população de fora da academia. O governador, goste-se ou não dele, foi eleito e é titular de um mandato.
O problema com o modelo uspiano está menos na existência da lista tríplice do que na forma como se chega a ela. O segundo turno da eleição -o que de fato importa- é decidido por um colégio restritíssimo de 256 professores, todos eles muito próximos à reitoria.
Esse sistema acabou contribuindo para a criação de uma espécie de burocracia universitária que desenvolveu dinâmica e interesses próprios não necessariamente concordantes com os da academia.


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