|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Lista tríplice não lesa democracia
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Se o governador José Serra,
contrariando a tradição, deixar
de escolher o nome que encabeça a lista tríplice de candidatos à reitoria da USP, não estará
cometendo nenhum crime de
lesa-democracia.
Existem diversas maneiras
de entronizar um "rector universitatis". A eleição direta por
professores, funcionários e alunos, que vigora em várias universidades federais, é muito
provavelmente a pior delas.
Além de favorecer enormemente o populismo -o candidato que prometesse acabar
com as provas, por exemplo, ganharia preciosos pontos entre
estudantes-, o voto direto é essencialmente antidemocrático.
No caso da USP, excluiria completamente do processo o conjunto de habitantes do Estado
de São Paulo, que, vale lembrar,
é quem paga as contas através
dos 9,57% do ICMS constitucionalmente repassados às três
universidades paulistas.
Não é preciso PhD em ciência política para perceber que
um bom modelo precisa não
apenas dar algum tipo de voz ao
eleitorado-contribuinte paulista como também conferir pesos
diferenciados a cada categoria
envolvida no processo.
Professores, que em tese têm
compromisso acadêmico de
longo prazo, precisam influenciar mais na escolha do que alunos, cuja maioria está na universidade por apenas quatro
anos e com o objetivo muito
pragmático de obter o diploma.
O sistema de eleição utilizado pela USP, no qual a comunidade acadêmica elabora uma
lista com três nomes e o governador faz a escolha final, está
longe do ideal, mas ao menos
tem o mérito de reservar algum
papel para a população de fora
da academia. O governador,
goste-se ou não dele, foi eleito e
é titular de um mandato.
O problema com o modelo
uspiano está menos na existência da lista tríplice do que na
forma como se chega a ela. O segundo turno da eleição -o que
de fato importa- é decidido
por um colégio restritíssimo de
256 professores, todos eles
muito próximos à reitoria.
Esse sistema acabou contribuindo para a criação de uma
espécie de burocracia universitária que desenvolveu dinâmica e interesses próprios não necessariamente concordantes
com os da academia.
Texto Anterior: Diretor da Física encabeça lista tríplice da USP Próximo Texto: Serra pode escolher o segundo da lista Índice
|