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À MARGEM
Estudo indica que condição social do aluno e falta de estímulo são as principais causas do abandono da vida escolar
48% dos "sem-estudo" quer voltar à escola
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Necessidade de trabalhar, falta
de interesse pelos estudos, distância entre a escola e a casa. São esses alguns dos principais motivos
que levaram 65 milhões de brasileiros com mais de 15 anos a abandonar a escola antes de completar
o ensino fundamental.
É isso o que indica um estudo
inédito coordenado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação em parceria com o Instituto
Paulo Montenegro (o braço social
do Ibope): o "Mapa das crianças,
jovens e adultos fora da escola"
(leia texto e quadro nesta página).
De acordo com o mapa, apesar
dos obstáculos impostos pela
condição social e pela falta de estímulo, 48% dos entrevistados desejam retomar os estudos.
Para Ricardo Henriques, secretário de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade do
Ministério da Educação, a escola
"não é capaz de acolher com o encanto necessário quem trabalha".
O mapa foi feito a partir de entrevistas realizadas por estudantes de norte a sul do país e levantou o perfil de milhares de brasileiros que estão fora da escola:
45% dos entrevistados têm renda
familiar de até um salário mínimo; 54% são afrodescendentes.
"Existe um processo de discriminação educacional que, no Brasil, está vinculado basicamente à
pobreza e à exclusão social", avalia Pablo Gentili, do Observatório
Latinoamericano de Políticas
Educacionais da Universidade do
Estado do Rio (UERJ).
Entre os entrevistados, 39%
abandonaram a escola entre a 1ª e
a 4ª séries do ensino fundamental,
29% o fizeram entre a 5ª e a 8ª. No
total, 87% já sentaram em um
banco escolar, ou seja, tiveram
acesso à escola, mas isso não foi o
suficiente para mantê-los ali.
"Durante muito tempo, o abandono escolar era colocado sob
responsabilidade do próprio aluno. Hoje, sabemos que essa é uma
falência do modelo educacional,
com métodos pedagógicos inadequados. Mas é também uma falência da própria família, que está
na base da pirâmide social", diz a
deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), da Comissão de Educação da Câmara.
"Há fatores externos à escola
que se somam a outros internos e
levam ao abandono da escola. É a
história do ovo e da galinha: o sujeito tem baixa remuneração porque tem escolaridade baixa e, por
viver em condições sociais de exclusão, com pais pouco remunerados, freqüenta uma escola ruim.
Um causa o outro, e vice-versa",
explica a educadora Maria Malta,
da Fundação Carlos Chagas.
"A escola foi pensada para uma
comunidade ideal e uma família
ideal, que não é a das periferias
urbanas ou de parte do mundo
rural", avalia Henriques.
Efeito cascata
Um resultado do mapa que chamou a atenção de especialistas foi
o fato de famílias de núcleo mais
numeroso terem maior número
de pessoas fora da escola. Todos
os membros da família haviam
parado de estudar antes do tempo
em 37% daquelas com quatro
pessoas, em 43% das compostas
por cinco pessoas e em 70% das
famílias com seis ou mais pessoas.
"É como se um puxasse o outro.
Um efeito cascata que poderia
muito bem ser revertido: se um
voltar a estudar, todos poderiam
voltar", supõe Miriam Abramovay, pesquisadora da Unesco.
De fato, José Everaldo Farias, 52,
é um exemplo da teoria de Abramovay. Seu filho de oito anos o levou, 33 anos depois de largar os
estudos, de volta à escola. "Ele me
questionava muito. Tive de voltar
à escola para buscar as respostas.
Estou orgulhoso disso."
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