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Marido proíbe mulher de retomar curso
DA REPORTAGEM LOCAL
Já no final da primeira aula do
dia, em uma sala da escola de Viçosa do Ceará (CE), Antônia Muniz, 26, começava a enxergar embaçado. Aos 14 anos, ela já trabalhava como doméstica para engrossar a renda da família, mas
ainda assim insistia em freqüentar as aulas da segunda série do
ensino fundamental.
"Forçava a vista, mas, na segunda aula, já não conseguia ver mais
nada na lousa", lembra. "Não tinha dinheiro para exames ou para
comprar óculos e acabei cansando. Larguei os estudos."
Antônia é uma das 12.604 pessoas entrevistadas no "Mapa das
Crianças, Jovens e Adultos Fora
da Escola". Integra os 48% de entrevistados que pretendem voltar
a estudar, mas faz parte também
daqueles para quem a relação de
gênero é o principal impedimento
ao retorno às aulas: seu marido
não permite que ela volte à escola.
"É ruim não ter estudado. Mal sei
assinar meu nome e já perdi muita oportunidade de trabalho. Até
hoje penso em voltar para a escola, mas meu marido não aceita."
Diferentemente de Antônia, sua
irmã Edinete, 18, está na oitava série. A defasagem entre sua idade e
a série (o ideal seria cursar a oitava aos 14 anos) se deve à insistência e ao gosto de Edinete pelos estudos. Como a única escola de Viçosa do Ceará tinha aulas apenas
até a terceira série do ensino fundamental, Edinete resolveu, após
concluir a série, voltar para a segunda para não parar de ir à escola. "Fiz a segunda e a terceira duas
vezes para não ficar parada. Aí, fui
para Fortaleza para poder continuar a estudar", conta ela.
Michele de Souza Vieira, 24,
abandonou a escola de Perus (zona norte de São Paulo) neste ano.
"Desanimei. Era ruim demais, faltava material e até cadeira para assistir às aulas."
Trabalho
Para Maria das Graças, 33, o
problema foi o trabalho. Aos 23
anos, ainda na oitava série, Maria
largou os estudos para trabalhar
como auxiliar de escritório.
"Foi triste parar de estudar. Ainda hoje penso em voltar para escola. Acho que nunca é tarde para
aprender, mas me falta a coragem
de encarar os alunos mais novos e
as matérias, que devem ter mudado muito", diz.
"Minha filha, que tem sete anos,
não vai parar de estudar como eu,
não. Estou prevendo até faculdade para ela, como eu queria fazer
quando jovem. Não quero que ela
seja como a mãe."
(FM)
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