São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Índice

Ex-morador de rua vai comandar a fazenda

DA ENVIADA ESPECIAL A CARAGUATATUBA

Os moradores de rua instalados na Fazenda Santa Mônica que quiserem pedir esmolas aos turistas de Caraguatatuba vão precisar de preparo físico para ir a pé até o centro da cidade. "A fazenda fica longe demais, depois que forem duas vezes, vão desistir e ficar aqui", aposta o coordenador da Associação Terapêutica Vida Nova, que vai administrar a Santa Mônica, Jéferson Moreira Junqueira, 34. "Mas acho a distância boa porque ajuda na recuperação. Longe do centro, eles não ficam querendo fazer besteira."
A fazenda, que conta com sete funcionários fixos, pode receber até 40 moradores de uma vez. A estimativa, conta Junqueira, é que existam 98 na cidade, a maioria nas redondezas da rodoviária. "Vamos fazer abordagens diárias nas praças e praias e insistir até convencer todo mundo a vir conosco", diz. "O desafio do trabalho já começa por aí e depois continua na fazenda, onde faremos de tudo para que esses moradores se livrem de vez dos vícios adquiridos na rua."
Jéferson sabe do que está falando. Ele já foi morador de rua. Passou sete anos nas sarjetas, depois de morar dois anos em um galinheiro assim que a mulher o abandonou. Seu problema foi que começou a beber e a fumar maconha. Perdeu o emprego, os parentes e os amigos. Perambulava sozinho por Caraguatatuba pedindo esmolas para ter o que comer, beber e fumar.
Se orgulha de nunca ter precisado roubar e conta que viu de tudo nas ruas. "Era briga, assalto, droga pesada. Mas o pior eram os domingos. Quando eu passava na frente de uma casa e via a família reunida para o almoço, lembrava da maionese que minha avó fazia todo fim de semana e chorava sem parar."
Jéferson só mudou de vida porque teve a ajuda de um veterinário cansado de encontrá-lo dormindo em sua varanda. "Fui para uma casa de recuperação e há cinco anos criei a Vida Nova para ajudar os que estavam na mesma situação que eu", lembra. "Por experiência própria sei que, em uma fazenda, as tentações ficam muito mais longe."


Texto Anterior: "Só estou achando meio vazio", diz Antônio, 46
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.