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Ex-morador de rua vai comandar a fazenda
DA ENVIADA ESPECIAL A CARAGUATATUBA
Os moradores de rua instalados
na Fazenda Santa Mônica que
quiserem pedir esmolas aos turistas de Caraguatatuba vão precisar
de preparo físico para ir a pé até o
centro da cidade. "A fazenda fica
longe demais, depois que forem
duas vezes, vão desistir e ficar
aqui", aposta o coordenador da
Associação Terapêutica Vida Nova, que vai administrar a Santa
Mônica, Jéferson Moreira Junqueira, 34. "Mas acho a distância
boa porque ajuda na recuperação.
Longe do centro, eles não ficam
querendo fazer besteira."
A fazenda, que conta com sete
funcionários fixos, pode receber
até 40 moradores de uma vez. A
estimativa, conta Junqueira, é que
existam 98 na cidade, a maioria
nas redondezas da rodoviária.
"Vamos fazer abordagens diárias
nas praças e praias e insistir até
convencer todo mundo a vir conosco", diz. "O desafio do trabalho já começa por aí e depois continua na fazenda, onde faremos
de tudo para que esses moradores
se livrem de vez dos vícios adquiridos na rua."
Jéferson sabe do que está falando. Ele já foi morador de rua. Passou sete anos nas sarjetas, depois
de morar dois anos em um galinheiro assim que a mulher o
abandonou. Seu problema foi que
começou a beber e a fumar maconha. Perdeu o emprego, os parentes e os amigos. Perambulava sozinho por Caraguatatuba pedindo
esmolas para ter o que comer, beber e fumar.
Se orgulha de nunca ter precisado roubar e conta que viu de tudo
nas ruas. "Era briga, assalto, droga pesada. Mas o pior eram os domingos. Quando eu passava na
frente de uma casa e via a família
reunida para o almoço, lembrava
da maionese que minha avó fazia
todo fim de semana e chorava
sem parar."
Jéferson só mudou de vida porque teve a ajuda de um veterinário
cansado de encontrá-lo dormindo em sua varanda. "Fui para
uma casa de recuperação e há cinco anos criei a Vida Nova para
ajudar os que estavam na mesma
situação que eu", lembra. "Por experiência própria sei que, em uma
fazenda, as tentações ficam muito
mais longe."
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