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"Só estou achando meio vazio", diz Antônio, 46
DA ENVIADA ESPECIAL A CARAGUATATUBA
Para qualquer direção que
Antônio olhe, a paisagem é a
mesma: mato, muito mato.
São tantas árvores que mal
dá para ver a estradinha de
terra que liga a fazenda Santa
Mônica, no pé da Serra do
Mar, até a parte asfaltada de
Caraguatatuba. Desde quarta-feira, Antônio de Paula,
46, morador de rua acostumado a dormir nos quiosques da praia, vive na fazenda, alugada pela prefeitura
para abrigar seus mendigos.
No primeiro dia de funcionamento da casa, chovia
sem parar. Antônio não perdeu tempo. Pegou o guarda-chuva e foi dar uma volta ao
redor da sede. Gostou. "Vou
achar bom aqui. Sei que é
Deus que está me dando essa
chance", dizia segurando o
crucifixo no pescoço.
A chuva apertou. E Antônio teve de entrar. Com o
olhar curioso, queria saber
onde seria seu quarto. Ficou
contente quando ganhou
muda de roupa, toalha, coberta. "Só estou achando
meio vazio, espero que chegue mais gente." Seu pedido
foi atendido. Na sexta-feira,
a fazenda tinha mais 15 moradores, que se distribuíram
nos três dormitórios e tentavam se acostumar com os
insistentes borrachudos.
Com 16 alqueires, a Santa
Mônica tem 4.000 bananeiras, 1.200 coqueiros e um número sem fim de insetos. Na
sede, além dos quartos, escritório, enfermaria, refeitório, banheiros, área social e
cozinha. Lucimara dos Santos, 23, é a cozinheira oficial.
Nunca fez comida para tanta
gente. "A macarronada vai
ser sucesso", apostava. Na
quarta-feira, o cardápio do
jantar tinha arroz, feijão,
frango e sopa. "Hoje vou ter
janta de rei", dizia Antônio.
A mordomia, para ele,
compensava a distância do
centro da cidade. Até lá, são
23 quilômetros, 13 deles em
uma estrada de terra esburacada e praticamente deserta.
Algumas casas são encontradas pelo caminho, mais
três bares e muitos búfalos.
Pimenta, 23, o segundo estreante na fazenda, ficou boquiaberto ao ver os animais.
"O bicho é forte", dizia com
dificuldade já que, na noite
anterior, havia consumido
crack demais. Ele só se deu
conta da distância quando
quis ir ao posto médico e
soube que teria de esperar.
Ônibus na estradinha da
Santa Mônica, só uma vez
por semana. Assim, os moradores de rua que quiserem
pedir esmolas aos turistas terão de caminhar horas a pé.
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