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Milícia de policiais assedia área nobre do Rio
Esquema clandestino de segurança contra traficantes e usuários de drogas foi oferecido por sargento a 45 edifícios na zona sul
Grupos, que também têm bombeiros e agentes de prisões, expulsaram tráfico nos subúrbios, mas exigem taxa de segurança em troca
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Milícias formadas por policiais, ex-policiais, bombeiros,
agentes penitenciários e militares já expulsaram traficantes
de comunidades pobres das zona oeste e norte, invadiram e
ocuparam 3 das 17 favelas do
complexo da Maré (zona norte), começaram a fechar ruas
nos subúrbios e agora chegam à
zona sul do Rio de Janeiro.
Semanas atrás, síndicos de
45 edifícios do Leme (extremidade esquerda de Copacabana)
receberam por escrito a proposta de adotar um esquema de
proteção 24 horas por dia.
A proposta, assinada por um
sargento aposentado da Polícia
Militar, oferece segurança (seis
agentes por turno de seis horas) em quatro ruas próximas à
favela do Chapéu Mangueira.
O motivo da oferta, de acordo
com o documento, é "o grande
índice de criminalidade" na
área. O policial cita os crimes
cometidos: "furto, roubo, tráfico e uso de entorpecentes".
O sargento estipulava o dia
28 passado como data-limite
para a aprovação da proposta.
Só então diria aos "clientes" o
preço da taxa de segurança.
Mesmo assim, já estipulava a
data do pagamento: entre os
dias 15 e 19 de cada mês.
Após consultar condôminos,
os síndicos recusaram a proposta e denunciaram o policial,
que está sendo investigado pela
corporação. Embora aposentado, o sargento trabalha no serviço interno do 9º Batalhão, em
Rocha Miranda (zona norte).
Cabe a essa unidade patrulhar parte de Jacarepaguá (zona oeste), região que é uma espécie de paraíso das milícias,
onde controlam todas as favelas, exceto Cidade de Deus.
A ação miliciana na zona oeste começou no fim dos anos 70
na favela Rio das Pedras, perto
da Barra da Tijuca, a primeira a
ter o tráfico expulso. Em troca
era cobrada taxa de segurança.
A prática se espalhou na região
e hoje as milícias substituem o
tráfico. Nas zonas norte e oeste,
milicianos cobram de moradores e comerciantes por segurança, pelo uso dos serviços de
transporte alternativo (van,
Kombi, mototáxi), por botijão
de gás e pelas ligações clandestinas de TV a cabo, o "gatonet".
Para se estabelecer, a milícia
tem representantes nas comunidades, geralmente policiais
que moram lá. Com a ocupação,
chegam outros milicianos. Os
traficantes são ou mortos ou
expulsos, segundo relatos.
Assim como o tráfico, a milícia usa o assistencialismo como
meio de angariar a simpatia do
morador. Nesse final de ano,
nas comunidades do Quitungo
e Guaporé (zona norte), a milícia anunciou que distribuirá
cestas de alimentos no Natal e
brinquedos para as crianças.
Conquistados recentemente,
a favela do Quitungo e o conjunto Guaporé são conhecidos
no subúrbio pela presença ostensiva do grupo miliciano autodenominado "Os Galáticos".
Seus integrantes são policiais
e ex-policiais que moravam na
área, aproveitaram o enfraquecimento do tráfico para se impor, convidaram colegas com
experiência de ações semelhantes em outras áreas e dizimaram os criminosos.
Na região, o comentário é
que pelo menos 20 rapazes envolvidos com o tráfico desapareceram. A polícia não confirma; diz que não há registro oficial de desaparecimentos e que
nada está sendo investigado.
Na região de Campo Grande,
na zona oeste, um outro grupo
miliciano se destaca. Eles são
conhecidos com "Os Justiceiros". Seu símbolo é o Batman.
Os membros da milícia costumam vestir roupas com a estampa do personagem.
Nos carros, pregam adesivos
também alusivos ao super-herói. O chefe da milícia, de acordo com os moradores, tem um
apelido na região: Mata Rindo;
é um policial civil.
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