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OUTRO LADO
'Perto da realidade, filme desaparece', afirma Meirelles
DA REPORTAGEM LOCAL
Informado do fato de moradores da Cidade de Deus afirmarem que seu filme gerou
preconceito e discriminação, o
diretor Fernando Meirelles alegou que, por outro lado, havia
recebido muitas cartas de moradores com manifestações favoráveis ao filme. "Muitos me
disseram que o filme foi sensacional porque, agora, as pessoas conhecem a realidade."
Meirelles diz não acreditar
que, após o lançamento do filme, uma pessoa que preencha
as qualificações para determinado emprego seja recusada
apenas por morar na Cidade de
Deus. "Isso não é razoável."
Já a alegação de moradores
de que a polícia passou a realizar operações na favela com
mais frequência, Meirelles encara como um ponto positivo.
"Se a polícia entrar na favela
para extorquir, aí é ruim. Mas,
se está apenas sendo mais severa, pode ser bom."
O diretor não acha que o filme estigmatizou a comunidade. "No ano passado, foram
publicados nos jornais mais de
60 assassinatos na Cidade de
Deus. E o que prejudica eles é
um filme de ficção assistido por
3 milhões de pessoas? E os assassinatos noticiados na TV
para 40 milhões? Perto da realidade, o filme desaparece."
"Filmamos na Cidade Alta, e
geramos muitos empregos, fizemos um campo de futebol e
demos computadores para a
comunidade de lá. Infelizmente, a Cidade de Deus não pode
ser beneficiada porque não nos
autorizaram a filmar lá", diz, ao
comentar outra reclamação.
Quanto à fidelidade da história, Meirelles lembra que o filme é uma ficção, e não um documentário. Ele afirma que optou por manter os nomes reais
de alguns personagens, como o
de Zé Pequeno, por causa de
sua trajetória. "Essa lógica é toda fiel à maneira como ele tomou conta da Cidade de Deus.
Como fiz o que estava no livro,
mantive [o nome"."
Já Paulo Lins, autor do livro
que deu origem ao filme, afirma que é "besteira" a afirmação de moradores de que a polícia passou a ser mais ostensiva. "A polícia sempre invadiu a
Cidade de Deus." Questionado
sobre dona Ba, que diz ter sido
caluniada ao ser retratada no livro como uma prostituta, Lins
diz não se lembrar dela. "São
500 personagens. Não me lembro de todos", afirma.
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