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Herbert teme virar
mendigo no Brasil
enviado especial a Medina, Ohio
Preso pela primeira vez em
agosto de 1997 por tentar vender
maconha a um policial disfarçado, Joao Herbert, 21 anos, poderá
ser expulso para o mesmo país de
onde foi tirado aos 7 anos por
uma família norte-americana.
Suas únicas lembranças do Brasil aparecem em sonhos e na forma de imagens do que acredita
ser o orfanato onde passou seus
primeiros anos de vida. Teme
chegar no Brasil sem falar português e acabar mendigando.
Ele recebeu a Folha num dia de
visitas na prisão de Medina.
Folha - Você tem lembranças
do Brasil?
Joao Herbert - Às vezes vejo
imagens em sonhos. Acho que
são do orfanato onde eu morava.
Folha - O que você acha de ser
deportado para o Brasil?
Herbert - Não quero ir, mas
prefiro ir a ficar na cadeia para
sempre. Já cumpri minha pena e
só não me soltam por causa dessa
situação. Vejo pessoas que cometeram crimes piores que os meus
entrarem e saírem daqui.
Folha - Você se sente brasileiro ou americano?
Herbert - Americano, é claro.
Cresci aqui, não falo português,
amo meus pais e minha vida. Fui
muito bem educado, frequentei
uma das melhores escolas do Estado (Ohio). Mas agora tudo está
complicado na minha cabeça.
Folha - De que forma?
Herbert - É como se eu não tivesse país... não pertencesse a lugar nenhum. Nasci brasileiro, me
transformei em americano e querem que vire brasileiro de novo.
Folha - O que você sabe sobre
o Brasil?
Herbert - Pouco. No ano novo,
reuni meus amigos da prisão para
acompanhar pela TV a virada do
ano 2000 em Copacabana. Fiquei
impressionado. Se tiver que voltar, quero ir para o Rio. O Peter
Jennings (âncora da TV norte-americana) disse que a economia
do Brasil iria dar um salto na nova
era. Fiquei contente. Tenho medo
de virar um mendigo se tiver que
voltar. Mas, outro dia, recebi a
(revista) "Vibe" e tinha uma matéria sobre o Brasil, com foto de
mulheres. Todo mundo gostou.
Eles me chamam de Brasil aqui.
Folha - Quando você descobriu que poderia ser deportado?
Herbert - O juiz que me condenou a pouco mais de um ano de
cadeia, suspendeu a pena e permitiu que eu ficasse num centro
de reabilitação. Um dia, recebi a
visita de um homem da imigração
dizendo que seria deportado assim que cumprisse toda a pena.
Fiquei desesperado e fugi. Fui pego alguns meses depois quando
tentava visitar minha mãe.
Folha - Por que você foi condenado?
Herbert - Vendi maconha para
um policial disfarçado. Fiz uma
besteira, mas não mereço ser deportado por isso.
Folha - Você tem conversado
com o consulado brasileiro?
Herbert - Tentei ligar várias vezes, mas a ligação não completa.
Folha - O que você queria falar?
Herbert - Queria que telefonassem, que mostrassem que tem alguém interessado em mim.
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