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ENTORPECENTE
Pelo texto, juiz decide se caso é de tráfico ou de "consumo pessoal"
Câmara aprova fim de prisão para consumidores de drogas
IURI DANTAS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados aprovou ontem, em votação simbólica, o fim da pena de prisão e da
obrigatoriedade de tratamento
para os usuários de drogas.
O projeto deixa nas mãos do
juiz, em vez da polícia, a função de
definir se o caso é de tráfico ou de
"consumo pessoal". O governo
ainda considera tímidas as mudanças e quer incluir na categoria
de usuário outras condutas. Como o texto original veio do Senado e foi alterado na Câmara, volta
para análise dos senadores.
"Esse projeto não é, certamente,
o que alguns imaginavam, porque
alguns queriam entrar num debate sobre descriminalização. Mas é
um passo importante", disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS),
que relatou a proposta.
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, disse que a descriminalização do usuário é "consenso em direito penal" e "uma
atitude sábia", mas não considerou "que esse projeto seja o melhor projeto possível".
Como exemplo do que o governo pretende modificar no Senado,
Bastos citou uma "figura intermediária" entre usuário e traficante.
"Existe uma figura intermediária,
que é aquele usuário que entrega a
droga para o amigo experimentar. É difícil achar justo que ele seja punido com o mesmo rigor
com que se pune o traficante."
Se a proposta for aprovada pelo
Senado, o usuário não precisará ir
à delegacia para registro da ocorrência. A PM poderá lavrar um
termo, encaminhando o caso diretamente para a Justiça.
Em lugar da pena de seis meses
a dois anos de prisão, quem for
pego consumindo ou portando
drogas poderá ser advertido pelo
juiz, ser obrigado a prestar serviços comunitários ou freqüentar
curso ou programa educativo por
cinco meses. Em caso de reincidência, o período dobra.
Caso não cumpra a determinação judicial, o dependente ficará
sujeito à restrição temporária de
direitos, como perda da carteira
de habilitação, por exemplo.
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), negou que
o projeto sirva de incentivo ao
consumo de drogas ao suavizar as
punições.
Uma das principais mudanças
do texto na Câmara foi a introdução da subjetividade para avaliar
quem é traficante ou usuário. O
juiz precisa levar em conta o tipo e
a quantidade de droga, o local e as
circunstâncias da apreensão, a
condição social e profissional do
usuário. Em caso de dúvidas, pode requisitar perícia médica.
O coordenador de dependência
química da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), João Carlos
Dias, classifica a mudança como o
"calcanhar-de-aquiles" do projeto. "Talvez o mais viável fosse capacitar equipes nos tribunais para
subsidiar a decisão do juiz", disse.
Se a Justiça definir o caso como
"consumo pessoal", não haverá
obrigatoriedade de tratamento. O
texto aprovado diz que o juiz poderá, no máximo, "encaminhar"
o usuário para internação e obriga
União, Estados e municípios a
fornecerem atendimento.
"A rede pública não está preparada. Essa questão precisa ser melhor definida", disse Dias.
O projeto recebeu o nome de
Sisnad (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas).
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