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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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CONTRABANDO

Acusação é de receber propina para não fiscalizar carros na fronteira com o Paraguai; ação teve total de 36 prisões

Operação prende 22 policiais federais no PR

Christian Rizzi/Folha Imagem
Policiais federais carregam material apreendido durante operação de repressão ao contrabando realizada em Foz do Iguaçu (PR)


MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Uma operação desencadeada ontem pela Polícia Federal para reprimir o contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Foz do Iguaçu (PR), levou 36 pessoas à prisão. Entre os presos estão 22 policiais da própria PF, acusados de receber propina para não fiscalizar carros que transportavam ilegalmente mercadorias na ponte da Amizade.
As prisões em flagrante ou temporárias começaram às 6h30 de ontem. Às 16h, o delegado-chefe da superintendência de Foz, Joaquim Mesquita, cumpriu os últimos mandados de prisão.

Agentes da Receita
Além dos 22 policiais federais, há três agentes da Receita Federal e dois policiais rodoviários federais entre os presos. Os nove restantes são supostos contrabandistas que operavam na ponte da Amizade -que liga Foz e a cidade paraguaia de Ciudad del Este.
Os policiais e agentes públicos foram indiciados sob acusação de facilitar contrabando, corrupção passiva e formação de quadrilha. O grupo restante responderá, entre outros crimes, por contrabando e formação de quadrilha.
Segundo a PF, os policiais e agentes cobravam propina de R$ 200 por carro não fiscalizado na ponte. Não há um número certo de veículos que operavam no esquema, mas a estimativa é de uma média diária de 20. O resultado do dia seria rateado entre o grupo.
Equipamentos de informática, eletroeletrônicos, cigarros e bebidas alcoólicas compunham a maior parte das mercadorias contrabandeadas do Paraguai para o Brasil. A PF não tem indícios de envolvimento do grupo no tráfico de drogas e de armas ou no esquema de roubo de carros.
De acordo com dados da Delegacia da Receita Federal em Foz do Iguaçu, o ranking das mercadorias contrabandeadas para o Brasil pela ponte da Amizade é liderado pelo cigarro seguido de equipamentos de informática.
No ano passado, a Receita destruiu 3,5 milhões de pacotes (de dez maços) de cigarro apreendidos naquele ponto. No geral, a fiscalização na ponte apreendeu em 2002 um volume de mercadorias avaliado em R$ 61,7 milhões.
Segundo a delegacia da Receita, 35 mil pessoas passam pela ponte da Amizade em dias de pico do comércio de Ciudad del Este -quartas e sábados. Cada morador do Brasil pode adquirir no Paraguai o equivalente a US$ 150 (cerca de R$ 520). As compras são fiscalizadas por amostragem na aduana brasileira. O percentual gira em torno de 7%.
A equipe de agentes do Fisco que atua nessa região é composta por 44 pessoas. Desse grupo, três estão entre os detidos pela polícia.

Operação Sucuri
A investigação que resultou nas prisões de ontem foi batizada de Operação Sucuri. Ela começou há cinco meses e foi aberta por ordem do delegado-chefe da PF em Foz, Joaquim Mesquita, a partir de indícios de facilitação do contrabando por agentes públicos.
"A Polícia Federal não compactua com ações de corrupção e tem a capacidade de coibir esse tipo de situação; tanto tem que prendeu seus próprios policiais", disse Mesquita à Agência Folha. Ele conduz a superintendência de Foz do Iguaçu há 22 meses.
O delegado não quis revelar em quanto os policiais presos desfalcam a unidade. "É um índice expressivo, mas não vou quantificar." Segundo Mesquita, as aduanas da PF localizadas na Tríplice Fronteira não ficaram desguarnecidas com a retirada de circulação dos 22 homens.
A direção geral da PF, em Brasília, destacou policiais de outras unidades para garantir o número necessário.

Apoio de outros Estados
O desfecho da Operação Sucuri envolveu um número elevado de policiais. Segundo Mesquita, cerca de cem. Oitenta foram deslocados de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Brasília. Os 20 restantes foram arregimentados no Paraná.
Os detalhes finais da operação foram definidos na Diretoria de Inteligência do órgão. A Corregedoria da PF e a Divisão de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais também foram participaram da Sucuri.
Segundo o delegado Reinaldo de Almeida César, um dos destacados para a operação, o envio de policiais de outras unidades para cumprir os mandados de busca e prisões "foi para evitar constrangimento" entre colegas.
Segundo a Agência Folha apurou, advogados de vários dos presos tentaram obter habeas corpus para seus clientes, mas, até o final da tarde de ontem, nenhum pedido de liberdade havia sido concedido pela Justiça Federal.


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