São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Após erro em teste, mulher pensa ter Aids por seis anos

Moradora de SC ficou sem amamentar o bebê e viu casamento entrar em crise

Falha no diagnóstico só foi descoberta quando ela ficou novamente grávida; casal diz que vai processar Estado e município pelo episódio

JEAN-PHILIP STRUCK
DA AGÊNCIA FOLHA

Ela pensou em suicídio, trancou-se em casa, caiu em depressão e engordou mais de 40 quilos. Era 2003 e Maria Gonçalves, então grávida e com 30 anos, foi informada de que tinha o vírus HIV, com base em amostra de sangue colhida no exame pré-natal. Em outubro de 2009, ela descobriu, no entanto, que não tinha o vírus.
Maria, hoje com 37 anos, moradora de Guabiruba -cidade no interior de Santa Catarina, a 110 km de Florianópolis-, diz que sentiu "seu mundo cair" quando abriu o envelope e viu o resultado. Passou a tomar antivirais para não contaminar o bebê. Quando a filha nasceu, não pôde amamentá-la.
O marido, o carpinteiro Sergio Baumgartner, 47, decidiu fazer o exame para detectar se também estava contaminado. Todos os resultados foram negativos. Desconfiado de que havia sido traído pela mulher, chegou a pensar que a criança nem era sua. O casamento de quatro anos entrou em crise.
Maria e Sergio afirmam que poucas pessoas sabiam do resultado. Até mesmo familiares não tinham conhecimento de nada. Para a filha mais velha, de 15 anos, disseram que a mãe estava com leucemia. O casal temia ser discriminado.

Nova gravidez
O marido afirma que, dois anos depois, em 2005, não aguentou mais usar preservativos nas relações sexuais com a mulher, não se importando com o risco de contaminação. "Se fosse para morrer, que nós morrêssemos juntos", diz.
Maria engravidou de novo. Sérgio conta que o casal foi ao hospital de Brusque. Os médicos reclamaram da gestação. Maria passou novamente a tomar antivirais, e o bebê nasceu sem o vírus. Mesmo assim, o hospital recomendou, e ela se submeteu a uma laqueadura.
Antes de descobrir não portar o vírus, Maria se submetia a exames semestrais para verificar a carga viral do vírus HIV. Todos mostraram que ela estava bem. Em setembro do ano passado, de acordo com a Secretaria da Saúde de Brusque, um novo médico passou a cuidar do caso de Maria. Ele desconfiou dos resultados. Em outubro, um exame mostrou que ela não portava o vírus HIV. Exames suplementares confirmaram o novo diagnóstico.

Justiça
O casal agora pretende processar o município de Brusque e o Estado, responsável pelo Lacen-SC (Laboratório Central de Saúde Pública), que também examinou as amostras de Maria. "Não tenho raiva nem culpo quem cometeu o erro, mas queremos justiça", diz Sérgio.
A secretária de Saúde de Brusque, Maria Aparecida Belli, afirma que o casal tem direito a entrar com ação, mas que o prontuário de Maria aponta que foram usados procedimentos de contraprova no exame.
Segundo a secretária, uma investigação foi aberta para apurar se houve erro. Os responsáveis pelo Lacen-SC não foram localizados pela Folha.


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