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Após erro em teste, mulher pensa ter Aids por seis anos
Moradora de SC ficou sem amamentar o bebê e viu casamento entrar em crise
Falha no diagnóstico só foi descoberta quando ela ficou novamente grávida; casal diz que vai processar Estado e município pelo episódio
JEAN-PHILIP STRUCK
DA AGÊNCIA FOLHA
Ela pensou em suicídio, trancou-se em casa, caiu em depressão e engordou mais de 40
quilos. Era 2003 e Maria Gonçalves, então grávida e com 30
anos, foi informada de que tinha o vírus HIV, com base em
amostra de sangue colhida no
exame pré-natal. Em outubro
de 2009, ela descobriu, no entanto, que não tinha o vírus.
Maria, hoje com 37 anos, moradora de Guabiruba -cidade
no interior de Santa Catarina, a
110 km de Florianópolis-, diz
que sentiu "seu mundo cair"
quando abriu o envelope e viu o
resultado. Passou a tomar antivirais para não contaminar o
bebê. Quando a filha nasceu,
não pôde amamentá-la.
O marido, o carpinteiro Sergio Baumgartner, 47, decidiu
fazer o exame para detectar se
também estava contaminado.
Todos os resultados foram negativos. Desconfiado de que havia sido traído pela mulher,
chegou a pensar que a criança
nem era sua. O casamento de
quatro anos entrou em crise.
Maria e Sergio afirmam que
poucas pessoas sabiam do resultado. Até mesmo familiares
não tinham conhecimento de
nada. Para a filha mais velha, de
15 anos, disseram que a mãe estava com leucemia. O casal temia ser discriminado.
Nova gravidez
O marido afirma que, dois
anos depois, em 2005, não
aguentou mais usar preservativos nas relações sexuais com a
mulher, não se importando
com o risco de contaminação.
"Se fosse para morrer, que nós
morrêssemos juntos", diz.
Maria engravidou de novo.
Sérgio conta que o casal foi ao
hospital de Brusque. Os médicos reclamaram da gestação.
Maria passou novamente a tomar antivirais, e o bebê nasceu
sem o vírus. Mesmo assim, o
hospital recomendou, e ela se
submeteu a uma laqueadura.
Antes de descobrir não portar o vírus, Maria se submetia a
exames semestrais para verificar a carga viral do vírus HIV.
Todos mostraram que ela estava bem. Em setembro do ano
passado, de acordo com a Secretaria da Saúde de Brusque,
um novo médico passou a cuidar do caso de Maria. Ele desconfiou dos resultados. Em outubro, um exame mostrou que
ela não portava o vírus HIV.
Exames suplementares confirmaram o novo diagnóstico.
Justiça
O casal agora pretende processar o município de Brusque
e o Estado, responsável pelo
Lacen-SC (Laboratório Central
de Saúde Pública), que também
examinou as amostras de Maria. "Não tenho raiva nem culpo
quem cometeu o erro, mas queremos justiça", diz Sérgio.
A secretária de Saúde de
Brusque, Maria Aparecida Belli, afirma que o casal tem direito a entrar com ação, mas que o
prontuário de Maria aponta
que foram usados procedimentos de contraprova no exame.
Segundo a secretária, uma
investigação foi aberta para
apurar se houve erro. Os responsáveis pelo Lacen-SC não
foram localizados pela Folha.
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