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Após 1 ano, mãe revive morte do filho pela TV
No dia 12 de abril de 2006, o marido de Ana Cláudia esqueceu o filho de um ano e três meses no carro
por cinco horas e meia
Ela disse ter passado o ano
mais difícil de sua vida e que
teve vontade de falar com a
mãe do menino morto
ontem após saber da notícia
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há exatamente um ano, no
dia 12 de abril de 2006, o consultor Carlos Alberto Legal
perdeu o filho André do mesmo
jeito que o biólogo Ricardo Garcia: esqueceu o menino de um
ano e três meses, por cerca de
cinco horas e meia no carro.
Ontem, Carlos Alberto estava viajando, mas a Folha conversou com sua mulher, a publicitária Ana Cláudia, com
quem o consultor está casado
há dez anos e tem uma filha de
9. A publicitária tomou conhecimento da trágica coincidência zapiando a TV:
"Acho que ele [Carlos Alberto] não soube, porque não comentou nada quando falamos
ao telefone. Disse apenas que
não pregou o olho a noite inteira [de anteontem para ontem,
véspera do aniversário de um
ano da morte do filho]."
Durante a entrevista, no portão do sobrado do casal em Vila
Gustavo (zona norte), Ana
Cláudia ficou com os olhos marejados, mas manteve a tranqüilidade ao falar do "pior ano"
de sua vida.
FOLHA - O que a sra. sentiu, hoje,
quando viu a notícia na TV?
ANA CLÁUDIA LEGAL- Queria falar
com a mãe do menino, você
tem o telefone?
FOLHA - O que diria a ela?
ANA CLÁUDIA- Queria ir até ela.
Foi o ano mais difícil da minha
vida. Não sei se há um jeito de
fazer o dela ser menos. O problema é que a gente tem de passar o ciclo todo, aniversários,
Páscoa, Natal, e, mesmo assim,
hoje, um ano depois, desagüei.
FOLHA - A notícia de uma história
parecida com a sua a faz sentir-se
mais triste?
ANA CLÁUDIA - Não muda. O caso dela não anula o meu. É horrível, como sempre será para
mim. A sensação de perder um
filho é muito ruim, acredito, em
qualquer circunstância.
FOLHA - Tem mágoa?
ANA CLÁUDIA - Nunca, meu marido é uma pessoa iluminada.
Tanto a minha família quanto a
dele jamais o culparam do que
aconteceu, porque sabem que
foi uma fatalidade. Eles estiveram o tempo todo do nosso lado. Você não sabe o que ele sofre. Ainda mais porque faz aniversário no mesmo dia do André (o filho). Isso significa que
ele nunca vai se esquecer do filho, especialmente no dia do
próprio aniversário.
FOLHA - Ele mudou?
ANA CLÁUDIA - É a mesma pessoa, só que triste. Quando aconteceu, os jornalistas ficavam
aqui na porta de casa, buscando
alguma coisa errada na gente,
mas somos uma família absolutamente normal.
FOLHA - Pretende ter mais filhos?
ANA CLÁUDIA - Sim, se Deus quiser, este ano. O André foi planejado, esperamos a irmã dele
crescer, para acompanhar todas as fases dela, a dentição, as
primeiras palavras. Ele freqüentava o berçário do mesmo
colégio religioso que ela.
FOLHA - A relação entre a sra. e seu
marido mudou?
ANA CLÁUDIA - Nada mudou. É
como eu disse, somos apenas
mais tristes.
FOLHA - Como a sra. passou o dia?
ANA CLÁUDIA - Fui ao cemitério,
levar flores, e chorei.
FOLHA - Com que freqüência visita
o túmulo de seu filho?
ANA CLÁUDIA - De quinze em
quinze dias.
FOLHA - Não houve missa de um
ano de morte?
ANA CLÁUDIA - Não se reza missa
para criança, eu me informei.
Criança é anjo.
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