São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Após 1 ano, mãe revive morte do filho pela TV

No dia 12 de abril de 2006, o marido de Ana Cláudia esqueceu o filho de um ano e três meses no carro por cinco horas e meia

Ela disse ter passado o ano mais difícil de sua vida e que teve vontade de falar com a mãe do menino morto ontem após saber da notícia

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há exatamente um ano, no dia 12 de abril de 2006, o consultor Carlos Alberto Legal perdeu o filho André do mesmo jeito que o biólogo Ricardo Garcia: esqueceu o menino de um ano e três meses, por cerca de cinco horas e meia no carro. Ontem, Carlos Alberto estava viajando, mas a Folha conversou com sua mulher, a publicitária Ana Cláudia, com quem o consultor está casado há dez anos e tem uma filha de 9. A publicitária tomou conhecimento da trágica coincidência zapiando a TV: "Acho que ele [Carlos Alberto] não soube, porque não comentou nada quando falamos ao telefone. Disse apenas que não pregou o olho a noite inteira [de anteontem para ontem, véspera do aniversário de um ano da morte do filho]." Durante a entrevista, no portão do sobrado do casal em Vila Gustavo (zona norte), Ana Cláudia ficou com os olhos marejados, mas manteve a tranqüilidade ao falar do "pior ano" de sua vida.

 

FOLHA - O que a sra. sentiu, hoje, quando viu a notícia na TV?
ANA CLÁUDIA LEGAL
- Queria falar com a mãe do menino, você tem o telefone?

FOLHA - O que diria a ela?
ANA CLÁUDIA
- Queria ir até ela. Foi o ano mais difícil da minha vida. Não sei se há um jeito de fazer o dela ser menos. O problema é que a gente tem de passar o ciclo todo, aniversários, Páscoa, Natal, e, mesmo assim, hoje, um ano depois, desagüei.

FOLHA - A notícia de uma história parecida com a sua a faz sentir-se mais triste?
ANA CLÁUDIA
- Não muda. O caso dela não anula o meu. É horrível, como sempre será para mim. A sensação de perder um filho é muito ruim, acredito, em qualquer circunstância.

FOLHA - Tem mágoa?
ANA CLÁUDIA
- Nunca, meu marido é uma pessoa iluminada. Tanto a minha família quanto a dele jamais o culparam do que aconteceu, porque sabem que foi uma fatalidade. Eles estiveram o tempo todo do nosso lado. Você não sabe o que ele sofre. Ainda mais porque faz aniversário no mesmo dia do André (o filho). Isso significa que ele nunca vai se esquecer do filho, especialmente no dia do próprio aniversário.

FOLHA - Ele mudou?
ANA CLÁUDIA
- É a mesma pessoa, só que triste. Quando aconteceu, os jornalistas ficavam aqui na porta de casa, buscando alguma coisa errada na gente, mas somos uma família absolutamente normal.

FOLHA - Pretende ter mais filhos?
ANA CLÁUDIA
- Sim, se Deus quiser, este ano. O André foi planejado, esperamos a irmã dele crescer, para acompanhar todas as fases dela, a dentição, as primeiras palavras. Ele freqüentava o berçário do mesmo colégio religioso que ela.

FOLHA - A relação entre a sra. e seu marido mudou?
ANA CLÁUDIA
- Nada mudou. É como eu disse, somos apenas mais tristes.

FOLHA - Como a sra. passou o dia?
ANA CLÁUDIA
- Fui ao cemitério, levar flores, e chorei.

FOLHA - Com que freqüência visita o túmulo de seu filho?
ANA CLÁUDIA
- De quinze em quinze dias.

FOLHA - Não houve missa de um ano de morte?
ANA CLÁUDIA
- Não se reza missa para criança, eu me informei. Criança é anjo.


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