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BARBARA GANCIA
Feliz aniversário, Leonilson!
A Pinacoteca está exibindo 96 ilustrações feitas para a minha coluna, mas esqueceu de me mandar convite
A ESTAÇÃO PINACOTECA inaugurou a mostra "Leo, 50" para
comemorar o cinqüentenário
de Leonilson. Morto em decorrência da Aids em 1993, o artista teria
completado 50 anos em 1º de março.
A exposição traz um pouco de tudo: esboços, desenhos e objetos do
artista, que hoje é considerado o
maior expoente da chamada "Geração 80". Traz ainda 96 ilustrações
publicadas entre 1991 e 1993 em coluna que esta humilde datilógrafa
que vos fala assinava no extinto caderno São Paulo, nesta Folha.
Quem for à exposição irá pensar
que Leonilson já nasceu ilustrador
ou que criar ilustrações para jornal
faz parte da atribuição básica do
artista. Não é bem assim. Leonilson tornou-se ilustrador de minhas colunas por conta da estima
que nos unia, uma amizade forjada
por insistência dele quando ainda
éramos jovens demais para saber
por onde a vida nos levaria.
Conheci Leo em uma festa, não
lembro bem onde ou quando. Sei
apenas que, no dia seguinte ao nosso primeiro encontro, ele apareceu
na porta do meu prédio para me
entregar o desenho de um piano,
que guardo até hoje pendurado na
parede. Meio sem saber o que fazer, eu o convidei a entrar. Não deu
outra. Passamos a tarde conversando e começamos a ir juntos a
festas, fins de semana na praia, esse tipo de coisa que a garotada faz.
Já éramos chapinhas quando
Matinas Suzuki Jr., então secretário de Redação, me convidou para
escrever uma coluna em um novo
caderno que seria lançado pela Folha e pediu que eu lhe sugerisse nomes para ilustrá-la. Adivinhe? Leo
topou na hora e suas ilustrações foram um sucesso imediato.
Até mesmo quando já estava
muito doente e passava longas
temporadas no hospital, Leonilson
continuou a fazer as ilustrações. Eu
lhe ditava o tema do dia e ele fazia o
o desenho em nanquim, que tentava levar pessoalmente ao jornal
(eram tempos pré-internet).
Mas veja como são as coisas. Depois da morte de Leonilson, uma
briga horrorosa se instalou entre
aqueles que se achavam detentores
de seu legado. Nunca me meti nessa história e nem mesmo sei quem
são os envolvidos. Só sei que, depois que Leo morreu, nenhuma
dessas pessoas teve a delicadeza de
me consultar.
Há coisa de dez anos, um livro
com as ilustrações feitas para a minha coluna foi publicado sem que
eu fosse ouvida. No ano passado, o
editor Charles Cosac, da Cosac
Naify, entrou em contato comigo,
desculpou-se gentilmente, disse
que estava sendo lançada uma segunda edição e perguntou se eu não
queria escrever a apresentação, o
que fiz com grande prazer. Foi a
única vez, desde que Leo morreu,
que alguém me chamou para dar
um depoimento sobre nossa experiência conjunta.
Na atual exposição da Pinacoteca, 96 ilustrações feitas para a Folha foram usadas. Pois o nobre leitor acredita que, até agora, ainda
não recebi meu convite?
É assim que se lida com o nosso
patrimônio. Na base do mercantilismo, do interesse, da panelinha.
Mas não pense o leitor que estou
melindrada. Esse sentimento não
faz parte do meu repertório. Apenas achei que estava na hora de dizer publicamente como a memória
do meu amigo vem sendo tratada.
barbara@uol.com.br
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