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SP prioriza trânsito, mas "esquece" CET
Enquanto prefeitura discute projetos polêmicos, como restringir caminhões, CET tem deficiências básicas, como câmeras e carros quebrados
Mais da metade das
câmeras nas ruas não
funciona e 1 em cada 5
veículos da companhia está
em manutenção
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aumento da proibição de estacionamento nas ruas, estudo
para a ampliação do rodízio de
veículos, restrição mais severa
à circulação dos caminhões.
Enquanto discute ou adota
projetos polêmicos para atenuar a piora dos engarrafamentos na cidade de São Paulo, a
gestão Gilberto Kassab (DEM)
ainda não resolveu deficiências
básicas de controle do trânsito
-definidas por especialistas
como lição de casa elementar.
O raio-X de problemas da
CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) mostra que
mais de metade das câmeras
de monitoramento nas vias da
cidade não funciona e quase
10% delas operam apenas de
forma parcial.
Praticamente um em cada
quatro cruzamentos segue com
semáforos eletromecânicos, ultrapassados, que não permitem
ajustes flexíveis. E menos de
20% da rede de semáforos inteligentes têm operado com sua
função principal -abrir e fechar dependendo do fluxo.
Se a prefeitura considera um
carro de dez anos velho, a ponto
de taxistas serem proibidos de
trabalhar com algum deles, a
frota da CET contraria a lógica:
tem veículos com até 14 anos.
Na média, a idade é de 8,2 anos.
Não é à toa que um em cada
cinco veículos da companhia fica na oficina, em manutenção.
Numa das gerências, só 67% da
frota estava disponível no dia 8.
Em 1999, já passou de 90%.
O quadro de serviços básicos
em condição precária abrange
também a falta de guinchos terceirizados para a remoção de
veículos estacionados em lugar
proibido -suspensos desde
2004 e não retomados ainda.
A interdição de uma faixa na
via por 15 minutos é suficiente
para provocar 3 km de congestionamento -que leva meia
hora para ser dissipado.
Ligação a cobrar
Os problemas se estendem à
comunicação entre as equipes
da CET e com a população.
Os marronzinhos têm ido para as ruas sem equipamentos
para avisar sobre ocorrências
que atrapalham a fluidez e são
até orientados a ligar a cobrar
de celular pessoal ou orelhão.
A crise se agravou no final de
2007, com a interrupção dos
contratos de palmtops -usados como celular ou rádio.
As informações do trânsito
recebidas ou dadas por telefone
despencaram devido à extinção
do serviço 194, que era exclusivo da CET. Desde então, os
atendimentos foram desviados
ao 156, que atende todos os serviços da prefeitura. As ligações,
que beiravam 140 mil em 2003,
limitaram-se a 20 mil em 2007.
A crise em serviços básicos
da CET não é de hoje. Muitos
dos problemas se arrastam desde a gestão Marta Suplicy (PT).
"Continua do mesmo jeito. Até
gastaram bastante, mas errado", afirma Alfredo Coletti, diretor do sindicato que representa os empregados da CET.
Especialistas avaliam que resolver essas deficiências não levaria a milagres, mas haveria
benefícios tão ou mais eficazes
do que outras idéias ousadas.
"O congestionamento não
vai deixar de existir, mas ficaria
mais civilizado, mais previsível", afirma Cláudio Senna Frederico, ex-secretário dos
Transportes Metropolitanos.
"Mais importante é fazer, primeiro, aquilo que já existe ser
cumprido e funcionar direito."
Ele cita dois exemplos: de
que vale aumentar as vias onde
não se pode estacionar antes de
ter guinchos suficientes para
remover os carros infratores e
de que vale aumentar as restrições aos caminhões se as que
existem são descumpridas?
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