São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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SP prioriza trânsito, mas "esquece" CET

Enquanto prefeitura discute projetos polêmicos, como restringir caminhões, CET tem deficiências básicas, como câmeras e carros quebrados

Mais da metade das câmeras nas ruas não funciona e 1 em cada 5 veículos da companhia está em manutenção

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aumento da proibição de estacionamento nas ruas, estudo para a ampliação do rodízio de veículos, restrição mais severa à circulação dos caminhões.
Enquanto discute ou adota projetos polêmicos para atenuar a piora dos engarrafamentos na cidade de São Paulo, a gestão Gilberto Kassab (DEM) ainda não resolveu deficiências básicas de controle do trânsito -definidas por especialistas como lição de casa elementar.
O raio-X de problemas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) mostra que mais de metade das câmeras de monitoramento nas vias da cidade não funciona e quase 10% delas operam apenas de forma parcial.
Praticamente um em cada quatro cruzamentos segue com semáforos eletromecânicos, ultrapassados, que não permitem ajustes flexíveis. E menos de 20% da rede de semáforos inteligentes têm operado com sua função principal -abrir e fechar dependendo do fluxo.
Se a prefeitura considera um carro de dez anos velho, a ponto de taxistas serem proibidos de trabalhar com algum deles, a frota da CET contraria a lógica: tem veículos com até 14 anos. Na média, a idade é de 8,2 anos.
Não é à toa que um em cada cinco veículos da companhia fica na oficina, em manutenção. Numa das gerências, só 67% da frota estava disponível no dia 8. Em 1999, já passou de 90%.
O quadro de serviços básicos em condição precária abrange também a falta de guinchos terceirizados para a remoção de veículos estacionados em lugar proibido -suspensos desde 2004 e não retomados ainda.
A interdição de uma faixa na via por 15 minutos é suficiente para provocar 3 km de congestionamento -que leva meia hora para ser dissipado.

Ligação a cobrar
Os problemas se estendem à comunicação entre as equipes da CET e com a população.
Os marronzinhos têm ido para as ruas sem equipamentos para avisar sobre ocorrências que atrapalham a fluidez e são até orientados a ligar a cobrar de celular pessoal ou orelhão.
A crise se agravou no final de 2007, com a interrupção dos contratos de palmtops -usados como celular ou rádio.
As informações do trânsito recebidas ou dadas por telefone despencaram devido à extinção do serviço 194, que era exclusivo da CET. Desde então, os atendimentos foram desviados ao 156, que atende todos os serviços da prefeitura. As ligações, que beiravam 140 mil em 2003, limitaram-se a 20 mil em 2007.
A crise em serviços básicos da CET não é de hoje. Muitos dos problemas se arrastam desde a gestão Marta Suplicy (PT). "Continua do mesmo jeito. Até gastaram bastante, mas errado", afirma Alfredo Coletti, diretor do sindicato que representa os empregados da CET.
Especialistas avaliam que resolver essas deficiências não levaria a milagres, mas haveria benefícios tão ou mais eficazes do que outras idéias ousadas.
"O congestionamento não vai deixar de existir, mas ficaria mais civilizado, mais previsível", afirma Cláudio Senna Frederico, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos. "Mais importante é fazer, primeiro, aquilo que já existe ser cumprido e funcionar direito."
Ele cita dois exemplos: de que vale aumentar as vias onde não se pode estacionar antes de ter guinchos suficientes para remover os carros infratores e de que vale aumentar as restrições aos caminhões se as que existem são descumpridas?


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