São Paulo, segunda, 13 de abril de 1998

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AVIAÇÃO
Coronéis e brigadeiros, entre eles ex-ministros, "abrem portas" para companhias aéreas após aposentadoria
Oficiais se tornam executivos de empresas

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Oficiais graduados do Ministério da Aeronáutica encontraram uma forma bem remunerada de levar a vida após a aposentadoria: prestam assessoria e até mesmo se empregam em diretorias e conselhos de empresas aéreas.
Coronéis e brigadeiros, entre eles dois ex-ministros, trabalham para companhias de aviação. As empresas dão preferência a militares com passagem pelo DAC (Departamento de Aviação Civil).
O brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro (ministro no governo do ex-presidente Fernando Collor) integra o Conselho Consultivo da Vasp, ao lado de Querubim Rosa Filho, também brigadeiro, e sob as ordens do empresário Wagner Canhedo, dono da companhia.
Primeiro ministro da Aeronáutica na administração Fernando Henrique Cardoso, o brigadeiro Mauro Gandra preside o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas.
Entre outras tarefas, ao sindicato empresarial cabe discutir com o governo as questões relacionadas à atual guerra de tarifas.
A "troca de camisas" é vista com desagrado por parte do oficialato da Aeronáutica.
Em conversas reservadas com a Folha, em situações e locais diferentes, um coronel e um major-brigadeiro (posto equivalente ao de um general de três estrelas do Exército) usaram o mesmo exemplo histórico para ilustrar a contrariedade com a situação.
Eles falaram do brigadeiro Délio Jardim de Mattos, ministro da Aeronáutica no governo de João Baptista Figueiredo, presidente brasileiro de 79 a 85.
Após deixar o governo e passar para a reserva, o brigadeiro foi convidado por várias empresas aéreas para ocupar cargos executivos ou consultivos. A resposta de Mattos foi a mesma em todas as abordagens: não julgava ético ganhar dinheiro para "abrir portas".
O interesse das empresas pelos dirigentes do DAC se deve ao fato de o órgão, com sede no Rio, ter como função básica cuidar de assuntos relacionados à aviação comercial, como preços de passagens, liberação de novas rotas e autorização para o aumento do número de vôos. O oficial que se especializa no órgão adquire conhecimentos bastante úteis ao planejamento das companhias.
O ex-ministro Gandra passou pela direção-geral do DAC. Também veio do órgão de aviação civil da Aeronáutica o brigadeiro Carlos Sérgio de Sant'Anna César, hoje assessor da presidência da Vasp para assuntos internacionais.
A passagem pelo DAC propicia conhecimentos que permitem a um oficial de alta patente até se tornar empresário de aviação.
É o caso do brigadeiro Sérgio Burger, ex-diretor-geral do DAC. Burger montou a empresa Fly, especializada em vôos charters.
Na Varig, o brigadeiro Lino Pereira integra, há cerca de um ano, o Conselho de Administração. É o único oficial da Aeronáutica empregado no primeiro escalão da Varig. Ele não dirigiu o DAC.
O coronel da reserva da Aeronáutica Gabriel Athayde é o vice-presidente da Transbrasil.
A situação de Athayde difere da dos demais oficiais empregados ou a serviço das empresas aéreas. Ele ingressou na Transbrasil há 30 anos, a convite do presidente, Omar Fontana.



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