São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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Atropelamento é frequente, diz morador

DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores da favela Pé Sujo afirmam que os atropelamentos são frequentes nos arredores. Na quinta-feira passada, uma menina chamada Kelly, 11, foi enterrada, vítima de um motorista bêbado que a atropelou na calçada.
O caso da menina foi contado por Helena Felix Bonfim, cujo marido está há meses internado na Santa Casa de Misericórdia, vítima de atropelamento.
"Ah, você está procurando atropelado?", pergunta uma vizinha de Helena. "Tem também o Vicente (Ferreira da Silva), que ficou uns tempos com ferro na barriga, mas sobreviveu."
E as pessoas vão lembrando de Michele, 13, a garotinha que morreu atropelada no fim do ano passado. E do filho do seu Sebastião, que "não durou nem um mês" na capital paulista.
O carvoeiro Sebastião Pereira da Silva, 60, percebeu que sua venda de carvão estava dando mais ou menos certo e, no fim de março, mandou chamar o filho Reginaldo, 31, de Itabuna, na Bahia, para ajudá-lo.
Três semanas depois de chegar, Reginaldo foi atropelado e morreu. Os vizinhos ainda conseguiram anotar a placa do carro, que não parou.
Silva vendeu a Kombi 78 para pagar um "caixão ajeitado" para o filho, mas não foi ao funeral. "É o coração."
Na favela Pé Sujo, tomada de ratos e de sujeira de esgoto a céu aberto, os códigos mínimos de cidadania foram se apagando. Quando Neuza, uma das figuras mais conhecidas da favela, foi atropelada e levada ao hospital da Cruz Vermelha, na semana passada, percebeu que havia esquecido o sobrenome.
"Ela deu o meu, que é Silva", conta Claudionor, seu ex-companheiro. "Quem vai dizer que está errado?", pergunta.
No dia em que foi pegar a ex-mulher no hospital, a pé, seu braço foi atingido pelo espelho retrovisor de um dos "apressados". "Nem dá pra chamar de acidente. Foi só um susto", diz ele.
É por essas coisas que Helena, cujo marido está na Santa Casa, diz não entender a "mania que esse povo" tem de comprar cachorro de raça.
Os bichos são vendidos em um hipermercado vizinho da favela e são uma espécie de "febre": tem poodle, chiuaua e outros felpudos. Só que, sem banho, tosa e escovação, eles ficam com aparência de cães de rua.
"Imagina se isso aqui é lugar para cachorro de raça. Já não basta que a gente está aqui?" , questiona Helena. (GA)


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