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Atropelamento é frequente, diz morador
DA REPORTAGEM LOCAL
Os moradores da favela Pé Sujo
afirmam que os atropelamentos
são frequentes nos arredores. Na
quinta-feira passada, uma menina chamada Kelly, 11, foi enterrada, vítima de um motorista bêbado que a atropelou na calçada.
O caso da menina foi contado
por Helena Felix Bonfim, cujo
marido está há meses internado
na Santa Casa de Misericórdia, vítima de atropelamento.
"Ah, você está procurando atropelado?", pergunta uma vizinha
de Helena. "Tem também o Vicente (Ferreira da Silva), que ficou
uns tempos com ferro na barriga,
mas sobreviveu."
E as pessoas vão lembrando de
Michele, 13, a garotinha que morreu atropelada no fim do ano passado. E do filho do seu Sebastião,
que "não durou nem um mês" na
capital paulista.
O carvoeiro Sebastião Pereira
da Silva, 60, percebeu que sua
venda de carvão estava dando
mais ou menos certo e, no fim de
março, mandou chamar o filho
Reginaldo, 31, de Itabuna, na Bahia, para ajudá-lo.
Três semanas depois de chegar,
Reginaldo foi atropelado e morreu. Os vizinhos ainda conseguiram anotar a placa do carro, que
não parou.
Silva vendeu a Kombi 78 para
pagar um "caixão ajeitado" para o
filho, mas não foi ao funeral. "É o
coração."
Na favela Pé Sujo, tomada de ratos e de sujeira de esgoto a céu
aberto, os códigos mínimos de cidadania foram se apagando.
Quando Neuza, uma das figuras
mais conhecidas da favela, foi
atropelada e levada ao hospital da
Cruz Vermelha, na semana passada, percebeu que havia esquecido
o sobrenome.
"Ela deu o meu, que é Silva",
conta Claudionor, seu ex-companheiro. "Quem vai dizer que está
errado?", pergunta.
No dia em que foi pegar a ex-mulher no hospital, a pé, seu braço foi atingido pelo espelho retrovisor de um dos "apressados".
"Nem dá pra chamar de acidente.
Foi só um susto", diz ele.
É por essas coisas que Helena,
cujo marido está na Santa Casa,
diz não entender a "mania que esse povo" tem de comprar cachorro de raça.
Os bichos são vendidos em um
hipermercado vizinho da favela e
são uma espécie de "febre": tem
poodle, chiuaua e outros felpudos. Só que, sem banho, tosa e escovação, eles ficam com aparência de cães de rua.
"Imagina se isso aqui é lugar para cachorro de raça. Já não basta
que a gente está aqui?" , questiona
Helena.
(GA)
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