São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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EDUCAÇÃO
Ameaça de greve de fome em 14 das 50 universidades federais leva governo a rever a posição de segurar salários
FHC recua e paga professores em greve

FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local

Diante de uma iminente greve de fome em pelo menos 14 das 50 universidades federais paralisadas há mais de dois meses, o presidente FHC recuou, determinando "o pagamento imediato dos salários de maio a todos os professores e servidores, mesmo daqueles que aderiram à greve".
Os salários -que deveriam ter sido pagos no último dia 25- foram retidos em todas as instituições onde havia greve, sob o argumento de que isso é uma determinação legal e que o governo tem que cumprir a lei. Liberados ontem, devem cair na conta dos professores já na segunda-feira.
"Não foi um recuo, e sim mais uma demonstração de que o governo está disposto a negociar", afirmou à Folha o ministro da Educação, Paulo Renato Souza -que anunciaria a liberação dos salários em cadeia nacional de rádio e televisão ontem às 20h, após a conclusão desta edição.
Ao contrário de praticamente todos os pronunciamentos feitos pelo ministro nos últimos três anos, o texto da fala de ontem foi liberado para a imprensa às 17h -antes, portanto, da transmissão (leia íntegra nesta página).
A greve de fome vinha sendo articulada desde a semana passada pelo comando da greve para forçar o governo a liberar os salários. Até as 19h30 de ontem, a liderança grevista estava em reunião para discutir o novo quadro e, por isso, ainda não havia posição sobre a manutenção ou não da greve de fome.
A Folha apurou que o governo avalia que um movimento desse tipo neste momento seria ainda mais prejudicial à imagem de Fernando Henrique Cardoso -candidato à reeleição-, do que manter a posição, estabelecida no início do governo, em 95, de que grevista do setor público federal não deve receber o salário.
Na terça-feira passada, o governo FHC também recuou em um dos pontos de honra do novo Código de Trânsito Brasileiro: o valor elevado das multas, para garantir seu sucesso. Por sugestão do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o governo começou a estudar a redução dos valores das multas, consideradas impopulares.
No caso do setor universitário, a situação de popularidade do presidente é ainda mais grave. O extrato da população com formação no ensino superior foi o primeiro a demonstrar, ainda em maio, intensão de voto tecnicamente empatada entre FHC e Lula, em pesquisa do Datafolha.
Com o pagamento dos salários aos grevistas, o impasse nas negociações assume novo contorno. Agora, a questão central é quanto vai custar o aumento.
A proposta do governo envolve em torno de R$ 320 milhões ao ano; a do comando de greve, R$ 790 milhões. Qualquer aumento tem que ser votado pelo Congresso até o dia 30 deste mês -já que isso é vedado no segundo semestre pela lei eleitoral.



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