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GILBERTO DIMENSTEIN
A idade da burrice
Depois dos 45 anos de idade,
as chances de conseguir emprego de executivo são mínimas.
De acordo com levantamento
da Catho, especializada em recursos humanos, apenas 9%
das empresas contratam gerentes acima dessa idade - o levantamento é baseado em entrevistas com 1.356 empregadores.
Se analisarmos, pela mesma
pesquisa, a faixa etária de 51 a
55 anos, a média despenca para 2%.
Um degrau acima, de 56 a 60
anos, atinge-se o patamar próximo de zero, mais precisamente, 0,65%.
Esses números revelam a idade da burrice, combinação de
preconceito e ignorância -é
mais uma face de uma sociedade excludente.
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Essa visão excludente é baseada em dados ultrapassados;
prática antiga de apontar os
mais velhos como imprestáveis
e improdutivos.
O fato, porém, é que, com os
avanços da ciência, seja da medicina ou da informática, foi redefinida não apenas a idade da
velhice -mas o que é ser velho.
Em 1940, ou seja, pouquíssimo
tempo atrás, a expectativa de
vida do brasileiro era de 38
anos.
Em 1994, já tinha saltado para
66 anos; fechamos o século próximos dos 70 anos.
A expectativa de vida em todo
o mundo não pára de crescer.
Cientistas prevêem que, com os
novos remédios, tratamentos
genéticos, combinados com
exercícios físicos e dieta saudável, viver 130 anos será comum.
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Com 40 anos, portanto, alguém está, hoje, no meio de sua
vida; é como se tivesse 19 anos
em 1940.
"A maturidade valoriza o trabalhador", afirma o headhunter A.H. Fuerstenthal, formado
em psicologia na Suíça e naturalizado brasileiro.
Segundo ele, a maturidade está associada a experiência, estabilidade e autocontrole. "Os
mais maduros estão mais abertos a se dedicar apenas a uma
empresa", afirma.
Um detalhe: esse headhunter
tem 86 anos, viaja todas as semanas e, até os 79 anos, jogava
tênis.
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Se a medicina ajuda a alongar
a vida, a informática transforma os poderes dos seres humanos, alongando seus limites intelectuais.
Transforma a tal ponto que
está também redefinindo o que
é ser deficiente físico; cegos, surdos, mudos, paralíticos ganham
habilidades até então monopolizadas aos " normais", graças
aos programas de computador.
O computar vai desobrigando
as atividades repetitivas; deixa
para a máquina o antigo "trabalho braçal" e mesmo a memória.
Passa a valorizar, assim, características mais profundas como intuição, sensibilidade,
criatividade.
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Um exemplo doméstico, aqui
mesmo na Folha, mostra com
nitidez como a idade da burrice
é perversa.
Fosse aplicado o critério da
idade dos executivos para a
contratação de colunistas, vocês
não leriam textos que esbanjam
vigor e criatividade.
Estariam eliminados, entre
outros, José Simão, Clóvis Rossi,
Jânio de Freitas, Cony, Celso
Pinto ou Elio Gaspari.
Bela lógica. Nelson Mandela é
capaz de libertar a África do
Sul, mas não seria chamado para gerenciar uma fábrica de sapatos.
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Se na era da informação o que
se valoriza é inteligência e experiência, excluir trabalhadores
no auge do seu poder intelectual
é sinônimo de burrice.
Se tiver dúvida sobre o tamanho da burrice, pegue um álbum de fotos antigas, veja uma
mulher de 35 anos, na década
de 40. Imagine-se dormindo
com ela - e, depois, compare
com uma mulher dessa mesma
idade hoje.
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P.S. - O caminho mais rápido
para envelhecer é investir na
aposentadoria.
Sonhar em não fazer nada é,
na prática, desejar a ausência
de criação. Nenhum projeto pode ser mais medíocre. Para uns,
mediocridade forçada por inexistência de alternativa; para
outros, falta de grandeza.
Passar os dias sem produzir
não é ideal de vida. É ideal de
morte.
Se Fernando Henrique Cardoso tivesse sido mais habilidoso
em sua frase, ressalvando aqueles que são forçados a se aposentar, teria emplacado a idéia de
que o sonho da aposentadoria é
uma visão vagabunda da existência.
E-mail: gdimen@uol.com.br
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