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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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SAÚDE FEMININA

O objetivo é oferecer acompanhamento que vai de tratamentos profiláticos a mudanças nos hábitos de vida

Hospital do Câncer investe em prevenção

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital do Câncer de São Paulo inaugura neste mês um Ambulatório de Prevenção do Câncer de Mama. A intenção é oferecer às mulheres com maior risco um acompanhamento que vai de tratamentos profiláticos a mudanças nos hábitos de vida.
A equipe multidisciplinar do ambulatório, além de oncologistas e geneticistas, terá assistente social, nutricionista e mesmo um especialista em exercícios físicos.
Segundo Mário Mourão Netto, 64, diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer, o ambulatório não se limitará a um aconselhamento genético. As mulheres serão acompanhadas e seguidas de perto, com consultas e exames frequentes. Também será um local de informação para as interessadas no tema.
Segundo Mourão, cerca de 70% dos casos desse tipo de câncer que chegavam ao hospital 20 anos atrás eram "localmente avançados", com poucas chances de responder ao tratamento. "Hoje, 65% dos casos são iniciais e 35% avançados." Abaixo, trechos da entrevista que Mourão Netto concedeu à Folha.

Folha - Como se faz a detecção precoce?
Mário Mourão Netto -
A mamografia é o melhor método para detectar tumores, mesmo os mais pequenos, de até 1 cm. O exame deve ser feito a partir dos 40 anos para quem não tem antecedentes na família, e a partir dos 35 para quem tem um parente de primeiro grau com câncer de mama.
As campanhas, as informações na mídia e a evolução da mamografia -hoje temos mamógrafos de alta resolução- estão mudando o cenário, há um número muito maior de casos iniciais sendo diagnosticados. O problema está na rede pública de saúde, que nem sempre tem disponível um mamógrafo de alta resolução e um médico que oriente a paciente. O fundamental na detecção precoce é que, muitas vezes você vai evitar o tratamento mutilante.
Quando se trata de tumores invasivos, com a possibilidade de a doença progredir a outros órgãos, a detecção precoce permite que se faça uma quimioterapia, diminuindo os riscos de metástase.
Em grandes centros, nos EUA, Paris, todos os tumores encontrados têm em média 1 cm. Se tivéssemos uma campanha de diagnóstico precoce, daria para reduzir a mortalidade infinitamente.
Nos EUA, a curva está assim, o número de diagnóstico aumentando e a mortalidade diminuindo. No Brasil, a curva de mortalidade é quase paralela à incidência, o que significa muita gente sem acesso aos serviços de saúde.

Folha - Se todas as mulheres tivessem acesso a um médico e a um mamógrafo, isso resolveria?
Mourão Netto -
Esse é o sonho da Sociedade Brasileira de Mastologia, da qual faço parte. Eu estou neste hospital desde 67, quando era estressante. Eu sabia que, a cada dez mulheres que entravam, sete iriam morrer em cinco anos.
Hoje esse quadro mudou muito, mas essa é a realidade dos centros de referência. Não adianta só diagnosticar, é preciso também tratar. Em alguns centros norte-americanos, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento não passa de alguns dias.
Aqui em São Paulo, mesmo em hospitais públicos de referência, a espera é de seis meses entre o diagnóstico e a primeira consulta.
Aqui no nosso hospital também há demora, pois atendemos 65% SUS e temos uma capacidade limitada de internação.

Folha - Como é feita a reconstrução simultânea da mama e quem pode se beneficiar?
Mourão Netto -
Para a mulher, a mama é o símbolo da feminilidade. Daí a importância de evitar os procedimentos mutilantes. Mas há casos, mesmo iniciais, que não podem ser submetidos a um tratamento conservador. É quando se descobre, por achado radiológico ou mesmo por processo intraoperatório, que o câncer pode comprometer vários pontos da mama e ser multicêntrico ou multifocal. Então é preciso tirar toda a mama, ou seja, fazer uma mastectomia. Faz-se então um planejamento anterior de forma que a mama seja retirada e imediatamente reconstruída pelo cirurgião plástico. Das mulheres com câncer inicial, que são 65% aqui no hospital, cerca de metade delas não retira a mama toda, mas apenas uma parte, o que chamamos de quadrantectomia. Retira-se apenas o tumor e o tecido adjacente. A outra metade dessas mulheres terá de retirar totalmente a mama, e, dessas, a maioria poderá se beneficiar de uma reconstrução imediata da mama.

Folha - E quando não há necessidade de se retirar toda a mama?
Mourão Netto -
Também se faz um tratamento cirúrgico, retirando apenas parte da mama. E faz-se, em alguns casos, esvaziamento axilar. Em casos seletos, não mais se esvazia as axilas.
A biópsia vai permitir saber se é necessário ou não esvaziar as axilas. Se houver comprometimento, vai ser necessário o esvaziamento. O não-esvaziamento evita o inchaço do braço.



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