UOL


São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE FEMININA

Usando modelos estatísticos, médicos definem riscos para cada mulher e iniciam discussão sobre o tipo de tratamento

Individualização do risco é nova tendência

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova tendência para a detecção precoce do câncer de mama, o tipo que mais mata mulheres brasileiras, é a individualização do risco. Usando modelos estatísticos, os médicos dos centros de aconselhamento genético fazem o cruzamento dos riscos individuais da mulher e dos fatores hereditários e calculam as chances de a pessoa ter câncer.
Quando as taxas de risco são altas, sugere-se a realização de um teste genético, que irá detectar se há ou não a mutação dos genes BRCA1 e BRCA2 -envolvidos tanto no câncer de mama quanto no câncer de ovário. Se for constatada a mutação, as chances de desenvolvimento do câncer serão de 50% até os 45 anos e de 80% até 85 anos. Até 10% dos casos de câncer de mama são hereditários.
Nesses casos, há três orientações médicas: exames clínicos e mamografias semestrais, e não anuais como ocorre normalmente, o uso de medicamentos para prevenir o desenvolvimento do tumor, como o tamoxifeno, e a mastectomia preventiva, ou seja, a retirada das mamas antes mesmo de o tumor se manifestar.
"As mulheres que têm um alto risco de câncer olham as mamas como duas armas apontadas para elas. E ficam aliviadas após a cirurgia", afirma o mastologista e cirurgião oncológico José Luiz Bevilacqua, 35, do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer) e do hospital Sírio Libanês.
Nos últimos dois anos, pelo menos 15 mulheres já retiraram as mamas e os ovários como forma de prevenir o câncer em três serviços de oncologia de São Paulo.
Mas, mesmo com a retirada das mamas, ainda há 10% de chances de o câncer se manifestar em algum tecido que tenha sobrado, afirma o oncologista Artur Katz, do Hospital Albert Einstein. "É preciso muita reflexão. A iniciativa tem que ser da paciente", diz.
A tendência de individualização também deve chegar ao tratamento. Novas drogas têm sido desenvolvidas a partir do perfil genético do tumor, o que trará mais eficácia na terapia. Assim, uma mulher com câncer de mama vai receber um remédio específico para o seu tipo de tumor.
"Ainda tratamos os tumores como se estivéssemos em um quarto escuro. Com o quarto claro, veremos que as pessoas têm tumores vermelhos, amarelos, verdes e trataremos cada um com um remédio específico", diz o oncologista José Bines, 38, responsável pelo setor de câncer de mama do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Segundo Carlos Alberto Moreira Filho, coordenador do Centro de Pesquisa Experimental Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, 1/4 das mulheres com câncer de mama já pode se beneficiar da droga herceptina, que age diretamente em um tipo de gene (HER-NEU2), que, por ter sofrido uma mutação, estimula a divisão celular. A droga atua, então, na inibição do crescimento das células do tumor.
O uso do remédio, porém, não é isento de riscos. Segundo Bevilacqua, o remédio, com outros quimioterápicos, produz uma reação tóxica ao coração. Esses efeitos seriam reversíveis, diz o médico.



Texto Anterior: Saúde feminina: Hospital do Câncer investe em prevenção
Próximo Texto: Operação para reconstituir seio reduz trauma
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.