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SOB NOVA DIREÇÃO
Saraiva Felipe diz que não há documento formal e que negociação sobre remédio para Aids continuará
Após críticas, União revê acordo com Abbott
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após críticas da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e de
ONGs de combate à Aids, o ministro da Saúde, Saraiva Felipe,
afirmou ontem que não existe
acordo escrito entre o governo federal e a multinacional Abbott e
que a pasta retomará as negociações para a redução do preço do
Kaletra, medicamento destinado
a pacientes com Aids.
Saraiva Felipe disse que, com a
última proposta feita pela empresa, o governo teria uma redução
no preço de US$ 13,850 milhões
em 2006 e não de US$ 18 milhões,
como havia sido divulgado na
sexta pelo ministério. Na sexta, último dia de Humberto Costa na
pasta, o ministério divulgou nota
informando a conclusão do acordo e a desistência de quebrar a patente do Kaletra, como anunciado
no dia 24. Agora, Saraiva Felipe
diz que a quebra de patente seria a
"última possibilidade a recorrer".
"Vou ter que me debruçar juntamente com os técnicos para
analisarmos essa proposta. Em
princípio, ela não atende aos interesses nacionais", afirmou o ministro em entrevista à Folha.
Segundo a nota de sexta, o acordo com a Abbott assegura "uma
redução significativa no preço do
medicamento durante os próximos seis anos", garante acesso à
nova formulação do Kaletra -a
ser lançada em dois anos- e permite a transferência de tecnologia
para o país a partir de 2009.
Dizia também que, com isso,
havia sido obtida redução de, pelo
menos, US$ 18 milhões em 2006 e
US$ 259 milhões em seis anos.
No mesmo dia, a empresa discordou da nota. Informou que a
redução do custo do remédio citada pelo governo ocorrerá só se aumentar o número de usuários e
que a transferência de tecnologia
começaria em 2012. Segundo a
Abbott, o acordo previa apenas
que os gastos atuais, estimados
em R$ 257 milhões neste ano, serão congelados por seis anos.
Para o ministro Saraiva Felipe, a
proposta acertada não atende a
três pontos principais: o custo
apresentado não corresponde aos
valores divulgados; a transferência de tecnologia seria inócua porque a partir de 2013 ela poderia
começar a ser feita mesmo sem o
acordo; e o governo se comprometeria a comprar o Kaletra até
2010, não podendo substitui-lo
por produto de outras empresas.
"Fui informado de que havia
um acordo, mas não encontrei
documento oficializando", disse
Felipe, logo após se reunir com o
coordenador nacional do Programa de DST-Aids, Pedro Chequer.
A decisão do novo ministro foi
tomada um dia após Marco Vitória, responsável pelo programa de
acesso a medicamentos contra a
Aids da OMS, ter chamado o
acordo de "vil" e afirmado que ele
só beneficiaria o laboratório.
A Folha tentou falar ontem à
noite por telefone com o ex-ministro Humberto Costa, mas não
conseguiu localizá-lo.
À tarde, Costa havia dito que os
termos do acordo ficaram próximos aos benefícios a serem obtidos com a quebra de patente.
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