São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Mulher motorista vira "curinga" após a lei seca

Homem leva mulher a bar para beber sem correr risco de ser flagrado em bafômetro

"Como sei que ela vai dirigir, posso tomar 12 em vez de seis chopes", afirma empresário, ao lado da mulher, em bar de SP


PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 15 anos de casamento, a dona-de-casa Cristiane Ferreira, 39, que se define profissionalmente como "do lar", foi promovida: ela agora é motorista do marido. Cristiane assumiu a nova função há pouco mais de duas semanas, depois da aprovação da lei seca.
São 23h15 de quinta-feira no bar Aurora, Itaim, e o empresário Jair Ferreira, 43, marido dela, está tranqüilão no 12º chope, apesar da perspectiva de ter de rodar 38 km até chegar em casa.
"Como sei que ela vai dirigir, posso tomar 12 em vez de seis chopes", diz o empresário, ao lado de Cristiane, com quem tem dois filhos.
Com apenas um guaraná no sangue, Cristiane assume o volante do jipe do casal e ruma para Arujá, Grande São Paulo. "Não gosto de dirigir, mas nunca o deixei ir sozinho para os bares. Só que ele costumava beber e dirigir. Agora, eu dirijo."
Em um giro pelos bares e restaurantes de São Paulo, é possível perceber que a mulher motorista virou uma espécie de "curinga" na lei seca.
Francisco Maestro, manobrista da pizzaria Braz, em Higienópolis, diz, ao fim do expediente, que contou muitos casos de mulheres que assumiram o volante naquela noite. "Alguns homens chegavam a se sentar no banco do motorista, mas, logo em seguida, saíam para deixar a mulher ir dirigindo. E diziam, rindo: "Melhor não facilitar com a lei"."
Orgulhoso ao lado de sua mulher-motorista, o engenheiro Cláudio Batista, 50, explica que Carminha, 43, sempre cuidou da saúde dele. "Valho mais morto do que vivo, estou muito bem segurado, e, no entanto, ela veio para dirigir o carro", diz ele, meio debochado.
Carminha explica: "Ele pode não morrer no acidente, apenas ficar inválido. De que adianta o seguro?", questiona.
Na calçada do restaurante Carlota, o juiz do trabalho Maurício Marquetti, 34, quatro taças de vinho, conta que sua preocupação maior é o filho que a mulher espera.
"Não quero que o bebê corra perigo com um pai alcoolizado ao volante do carro", diz ele, enquanto aponta para a barriga da empresária Flávia Marquetti, 28, grávida de dois meses.
Ela diz: "A preocupação é com o bebê, não comigo." No fim da brincadeira, o juiz afirma que Flávia está dirigindo porque não bebeu.
"Onde eu acho uma "mulé dexa" [sic]?", pergunta, depois de alguns uísques, um companheiro de mesa de Marcão, que no começo da reportagem estava sentado com Jair e a mulher no Aurora. Agora, está no Spot.
"Que machista!", diz uma moça ali perto.
Para evitar reações assim, o chef Juliano Valese, 30, decide no dado quem vai dirigir. Sua namorada, Paula Santos, 34, explica: "Cada face do dado pode ter o desenho de uma taça de vinho com um sinal de interditado ou sem o sinal." Na quinta-feira, ele perdeu, ela bebeu.


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