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Mulher motorista vira "curinga" após a lei seca
Homem leva mulher a bar para beber sem correr risco de ser flagrado em bafômetro
"Como sei que ela vai dirigir,
posso tomar 12 em vez
de seis chopes", afirma
empresário, ao lado da
mulher, em bar de SP
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de 15 anos de casamento, a dona-de-casa Cristiane Ferreira, 39, que se define
profissionalmente como "do
lar", foi promovida: ela agora é
motorista do marido. Cristiane
assumiu a nova função há pouco mais de duas semanas, depois da aprovação da lei seca.
São 23h15 de quinta-feira no
bar Aurora, Itaim, e o empresário Jair Ferreira, 43, marido dela, está tranqüilão no 12º chope,
apesar da perspectiva de ter de
rodar 38 km até chegar em casa.
"Como sei que ela vai dirigir,
posso tomar 12 em vez de seis
chopes", diz o empresário, ao
lado de Cristiane, com quem
tem dois filhos.
Com apenas um guaraná no
sangue, Cristiane assume o volante do jipe do casal e ruma para Arujá, Grande São Paulo.
"Não gosto de dirigir, mas nunca o deixei ir sozinho para os
bares. Só que ele costumava beber e dirigir. Agora, eu dirijo."
Em um giro pelos bares e restaurantes de São Paulo, é possível perceber que a mulher motorista virou uma espécie de
"curinga" na lei seca.
Francisco Maestro, manobrista da pizzaria Braz, em Higienópolis, diz, ao fim do expediente, que contou muitos casos de mulheres que assumiram o volante naquela noite.
"Alguns homens chegavam a se
sentar no banco do motorista,
mas, logo em seguida, saíam para deixar a mulher ir dirigindo.
E diziam, rindo: "Melhor não
facilitar com a lei"."
Orgulhoso ao lado de sua mulher-motorista, o engenheiro
Cláudio Batista, 50, explica que
Carminha, 43, sempre cuidou
da saúde dele. "Valho mais
morto do que vivo, estou muito
bem segurado, e, no entanto,
ela veio para dirigir o carro", diz
ele, meio debochado.
Carminha explica: "Ele pode
não morrer no acidente, apenas
ficar inválido. De que adianta o
seguro?", questiona.
Na calçada do restaurante
Carlota, o juiz do trabalho
Maurício Marquetti, 34, quatro
taças de vinho, conta que sua
preocupação maior é o filho
que a mulher espera.
"Não quero que o bebê corra
perigo com um pai alcoolizado
ao volante do carro", diz ele, enquanto aponta para a barriga da
empresária Flávia Marquetti,
28, grávida de dois meses.
Ela diz: "A preocupação é
com o bebê, não comigo." No
fim da brincadeira, o juiz afirma que Flávia está dirigindo
porque não bebeu.
"Onde eu acho uma "mulé dexa" [sic]?", pergunta, depois de
alguns uísques, um companheiro de mesa de Marcão, que
no começo da reportagem estava sentado com Jair e a mulher
no Aurora. Agora, está no Spot.
"Que machista!", diz uma
moça ali perto.
Para evitar reações assim, o
chef Juliano Valese, 30, decide
no dado quem vai dirigir. Sua
namorada, Paula Santos, 34,
explica: "Cada face do dado pode ter o desenho de uma taça de
vinho com um sinal de interditado ou sem o sinal." Na quinta-feira, ele perdeu, ela bebeu.
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