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SAÚDE
Taxa de mortalidade dos médicos nas primeiras 48 horas de internação é cinco vezes maior do que entre outros profissionais
Médico não cuida da própria saúde, diz estudo
MALU GASPAR
da Reportagem Local
Casa de ferreiro, espeto de pau.
O velho ditado popular cai como
luva sobre a situação dos médicos
que passam a ser pacientes.
Uma tese de doutorado aprovada em maio na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de
São Paulo) constatou que os médicos não cuidam da própria saúde como deveriam.
A pesquisa, que coletou dados
sobre 183 médicos, engenheiros e
advogados que estiveram internados no Incor (Instituto do Coração, em São Paulo), em 1995,
constatou que a taxa de mortalidade dos médicos nas primeiras
48 horas de internação é cinco vezes maior do que entre os outros
profissionais.
Para a autora do estudo, a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do
Hospital das Clínicas, essa é a
maior prova de que os médicos
geralmente negligenciam a própria saúde.
"Esse índice mostra que, quando o médico chega ao hospital, ele
já se arriscou tanto e a situação é
tão grave que já não é possível fazer mais nada", diz a psiquiatra.
Os dados indicam ainda que, ao
contrário do que exigem dos pacientes, eles são os que menos seguem à risca a prescrição médica- 20,8%, contra 90,3% de advogados e 84,5% dos engenheiros.
Além disso, são os que mais têm
dificuldade para mudar seus hábitos de vida depois do infarto (veja
quadro ao lado).
Onipotência
Para Alexandrina, um dos fatores que faz com que esse comportamento seja adotado é o fato de o
médico frequentemente se sentir
imune a doenças.
"Essa impressão de que o médico é onipotente, principalmente
quando é jovem, é algo difícil de
reverter e traz problemas quando
vem a doença. Eu também já me
senti assim", afirma o cardiologista Mauricio Vajn Garden, professor livre-docente do Incor, que
tem pacientes médicos.
A irritação pelo fato de estar
doente foi mais sentida pelos médicos do que pelos outros profissionais. Eles são a minoria
(37,7%) entre os que afirmam não
estar nada irritados com a doença.
A demora em procurar o hospital teve consequências. Apenas
3,7% escaparam de ser submetidos a procedimentos cirúrgicos
no hospital, enquanto 15,3% dos
advogados e 10,3% dos engenheiros tiveram a mesma sorte.
Na opinião da psiquiatra, cuja
clientela é formada na maioria
(cerca de 80%) por médicos, é
possível estender os resultados da
pesquisa para outras situações que
não apenas problemas cardíacos.
"Antes de escolher o Incor como
local da pesquisa, fiz várias entrevistas com pacientes médicos em
outros institutos do HC, e as respostas eram muito parecidas."
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