São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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Hospital da BA é considerado "calabouço"

DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

O Sanatório São Paulo, em Salvador, um dos mais antigos hospitais psiquiátricos do Brasil, foi considerado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados um "calabouço", com condições de higiene inaceitáveis. Um lugar onde, de acordo com os parlamentares, as instalações físicas acentuam o sofrimento dos pacientes.
Ao tomar conhecimento do relatório, o Ministério da Saúde pediu o descredenciamento da instituição psiquiátrica.
Sem ter para onde transferir os 220 pacientes, a Secretaria de Estado da Saúde da Bahia decretou intervenção estadual e deu um prazo de quatro meses para o hospital realizar obras e melhorar suas instalações físicas.
Trinta dias depois do início das obras, a Folha começou a negociar com a equipe de interventores e com o presidente da comissão de ética do hospital, Augusto Costa Conceição, a entrada no que os deputados chamaram de "calabouço de Salvador".
A entrada da reportagem foi permitida pela proprietária do hospital, que pediu para não ser identificada, e a visita ocorreu na última quinta-feira, das 13h30 às 15h, quando a instituição contava com 203 pacientes, dos quais 25% são alcoólatras.
Construído em uma casa tombada pelo patrimônio histórico, no centro de Salvador, o hospital psiquiátrico passou pela última reforma em 1980.
O primeiro problema da instituição é que dos cinco andares, dois são no subsolo. É lá que ficam as mulheres da ala do SUS.

Alas diferentes
Há dois prédios no hospital. O dos fundos abriga os pacientes de convênios médicos privados e do hospital-dia. Essas alas são limpas, com piso de lajota e os pacientes, no dia da visita da reportagem, jogavam dominó, cartas e realizavam outras atividades.
Com exceção de três mulheres que estavam dormindo, todos podiam conversar sem problemas. Essa parte do hospital fica em dois andares superiores e no térreo.
Diferentemente da área dos convênios privados, todas as alas onde são atendidos os pacientes do SUS têm paredes pichadas e descascadas.
Há infiltração nas paredes dos banheiros e de algumas alas exala um cheiro forte de urina.
No dia da visita, os pacientes estavam deitados no chão ou nas camas. Outros perambulavam pelos corredores e escadas.
A ala feminina do SUS (localizada em dois andares de subsolo), local apontado pela Comissão de Direitos Humanos como o pior em toda a instituição, já está em reforma -em vez de cubículos fechados, a enfermaria feminina será aberta.
Os pacientes do hospital pedem o tempo todo para ir para casa.

Nudez
Algumas mulheres pedem atenção e tentam conversar. Muitas ficam sem roupa.
De acordo com os funcionários, isso é comum em um hospital psiquiátrico. O que não é comum é que essa nudez fique completamente exposta para a rua.
Do lado de fora do Sanatório São Paulo é possível ver as pacientes andando totalmente despidas. Algumas delas chegam a fazer necessidades fisiológicas no chão, à vista de quem passa pela rua.
No bairro, os funcionários do prédio municipal, ao lado do hospital, dizem que a nudez das pacientes já é encarada como "fato comum" por todos.
A equipe da Folha não foi autorizada a fazer fotos dentro do Sanatório São Paulo, mesmo que as imagens não identificassem os pacientes, para não os expor.
O que a reportagem descobriu, ao fazer uma simples caminhada pelo bairro, é que no Sanatório São Paulo não são necessárias câmeras para desvendar a intimidade dos pacientes. (GA)



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