|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hospital da BA é considerado "calabouço"
DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
O Sanatório São Paulo, em Salvador, um dos mais antigos hospitais psiquiátricos do Brasil, foi
considerado pela Comissão de
Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados um "calabouço",
com condições de higiene inaceitáveis. Um lugar onde, de acordo
com os parlamentares, as instalações físicas acentuam o sofrimento dos pacientes.
Ao tomar conhecimento do relatório, o Ministério da Saúde pediu o descredenciamento da instituição psiquiátrica.
Sem ter para onde transferir os
220 pacientes, a Secretaria de Estado da Saúde da Bahia decretou
intervenção estadual e deu um
prazo de quatro meses para o hospital realizar obras e melhorar
suas instalações físicas.
Trinta dias depois do início das
obras, a Folha começou a negociar com a equipe de interventores e com o presidente da comissão de ética do hospital, Augusto
Costa Conceição, a entrada no
que os deputados chamaram de
"calabouço de Salvador".
A entrada da reportagem foi
permitida pela proprietária do
hospital, que pediu para não ser
identificada, e a visita ocorreu na
última quinta-feira, das 13h30 às
15h, quando a instituição contava
com 203 pacientes, dos quais 25%
são alcoólatras.
Construído em uma casa tombada pelo patrimônio histórico,
no centro de Salvador, o hospital
psiquiátrico passou pela última
reforma em 1980.
O primeiro problema da instituição é que dos cinco andares,
dois são no subsolo. É lá que ficam as mulheres da ala do SUS.
Alas diferentes
Há dois prédios no hospital. O
dos fundos abriga os pacientes de
convênios médicos privados e do
hospital-dia. Essas alas são limpas, com piso de lajota e os pacientes, no dia da visita da reportagem, jogavam dominó, cartas e
realizavam outras atividades.
Com exceção de três mulheres
que estavam dormindo, todos podiam conversar sem problemas.
Essa parte do hospital fica em dois
andares superiores e no térreo.
Diferentemente da área dos
convênios privados, todas as alas
onde são atendidos os pacientes
do SUS têm paredes pichadas e
descascadas.
Há infiltração nas paredes dos
banheiros e de algumas alas exala
um cheiro forte de urina.
No dia da visita, os pacientes estavam deitados no chão ou nas
camas. Outros perambulavam
pelos corredores e escadas.
A ala feminina do SUS (localizada em dois andares de subsolo),
local apontado pela Comissão de
Direitos Humanos como o pior
em toda a instituição, já está em
reforma -em vez de cubículos
fechados, a enfermaria feminina
será aberta.
Os pacientes do hospital pedem
o tempo todo para ir para casa.
Nudez
Algumas mulheres pedem atenção e tentam conversar. Muitas ficam sem roupa.
De acordo com os funcionários,
isso é comum em um hospital psiquiátrico. O que não é comum é
que essa nudez fique completamente exposta para a rua.
Do lado de fora do Sanatório
São Paulo é possível ver as pacientes andando totalmente despidas.
Algumas delas chegam a fazer necessidades fisiológicas no chão, à
vista de quem passa pela rua.
No bairro, os funcionários do
prédio municipal, ao lado do hospital, dizem que a nudez das pacientes já é encarada como "fato
comum" por todos.
A equipe da Folha não foi autorizada a fazer fotos dentro do Sanatório São Paulo, mesmo que as
imagens não identificassem os
pacientes, para não os expor.
O que a reportagem descobriu,
ao fazer uma simples caminhada
pelo bairro, é que no Sanatório
São Paulo não são necessárias câmeras para desvendar a intimidade dos pacientes.
(GA)
Texto Anterior: Paciente é tratado por um "amigo" Próximo Texto: Estadia prolongada cria laços afetivos Índice
|