São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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Cocaína fortaleceu crime organizado

DA SUCURSAL DO RIO

No início dos anos 70, o tráfico de drogas no Rio ainda era sinônimo de maconha e revólver. Cocaína até que havia, mas era rara. "Era para quem tinha muita grana", lembra o escritor Paulo Lins.
Morros como São Carlos, Mangueira e Providência, localizados perto do centro do Rio, tinham o maior movimento de compra e venda de tóxicos, embora também existisse tráfico em outros morros.
"Era importante a facilidade de acesso às bocas-de-fumo. Não havia, como hoje, a chegada de carregamentos e mais carregamentos de droga", lembra o delegado Luiz Torres, um ex-detetive da área da Mangueira, hoje titular da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
Na virada dos anos 70 para os 80, um novo produto chegou às favelas: a cocaína vinda da Bolívia. O Brasil entrou definitivamente na rota da droga, como ponto de distribuição para a Europa e como mercado consumidor da cocaína de baixa qualidade.
Em 1979, surgiu no presídio da Ilha Grande -onde bandidos comuns conviviam com presos políticos- a facção criminosa chamada de Comando Vermelho, uma modificação da antiga Falange Vermelha. Com o lema "Paz, Justiça e Liberdade", o CV institucionalizou o mito de organizações criminosas no tráfico do Rio. Depois dele, surgiu o rival Terceiro Comando.
Com os anos 80, a cocaína se massificou. Na segunda metade da década, o Rio conheceu outra novidade, tão ou mais fatal que a droga: o armamento pesado, como fuzis e pistolas.
Para o ex-chefe de Polícia Civil e hoje deputado estadual Hélio Luz (PT-RJ), a chegada dos fuzis foi o "o início do banho de sangue".
"Até então, era revólver contra revólver. Aí começou metralhadora com metralhadora, fuzil com fuzil, granada com granada. Os enfrentamentos com a polícia ficaram mais violentos", afirma Luz.
O antropólogo Rubem César Fernandes, do movimento Viva Rio, diz que a entrada de drogas e armas mudou o padrão da criminalidade no Rio.
"No início dos anos 80, a taxa de homicídios era de 25 por 100 mil habitantes. Em 1994, já era de 78 por 100 mil. A polícia foi engolida pela lógica do tiroteio. Em 99, o quadro havia melhorado um pouco, com taxa de 49 homicídios por 100 mil habitantes", diz.
Alguns estudiosos apontam a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, como o início da participação intensa de menores no tráfico.
Sujeitos a penas mais leves, eles se tornaram o exército preferencial para a linha de frente do trabalho. Hoje, segundo dados da 2ª Vara da Infância e da Juventude, cerca de 40% das ocorrências relacionadas a drogas envolvem adolescentes.



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