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Cocaína fortaleceu crime organizado
DA SUCURSAL DO RIO
No início dos anos 70, o tráfico
de drogas no Rio ainda era sinônimo de maconha e revólver. Cocaína até que havia, mas era rara.
"Era para quem tinha muita grana", lembra o escritor Paulo Lins.
Morros como São Carlos, Mangueira e Providência, localizados
perto do centro do Rio, tinham o
maior movimento de compra e
venda de tóxicos, embora também existisse tráfico em outros
morros.
"Era importante a facilidade de
acesso às bocas-de-fumo. Não havia, como hoje, a chegada de carregamentos e mais carregamentos de droga", lembra o delegado
Luiz Torres, um ex-detetive da
área da Mangueira, hoje titular da
DRE (Delegacia de Repressão a
Entorpecentes).
Na virada dos anos 70 para os
80, um novo produto chegou às
favelas: a cocaína vinda da Bolívia.
O Brasil entrou definitivamente
na rota da droga, como ponto de
distribuição para a Europa e como mercado consumidor da cocaína de baixa qualidade.
Em 1979, surgiu no presídio da
Ilha Grande -onde bandidos comuns conviviam com presos políticos- a facção criminosa chamada de Comando Vermelho,
uma modificação da antiga Falange Vermelha. Com o lema "Paz,
Justiça e Liberdade", o CV institucionalizou o mito de organizações
criminosas no tráfico do Rio. Depois dele, surgiu o rival Terceiro
Comando.
Com os anos 80, a cocaína se
massificou. Na segunda metade
da década, o Rio conheceu outra
novidade, tão ou mais fatal que a
droga: o armamento pesado, como fuzis e pistolas.
Para o ex-chefe de Polícia Civil e
hoje deputado estadual Hélio Luz
(PT-RJ), a chegada dos fuzis foi o
"o início do banho de sangue".
"Até então, era revólver contra
revólver. Aí começou metralhadora com metralhadora, fuzil
com fuzil, granada com granada.
Os enfrentamentos com a polícia
ficaram mais violentos", afirma
Luz.
O antropólogo Rubem César
Fernandes, do movimento Viva
Rio, diz que a entrada de drogas e
armas mudou o padrão da criminalidade no Rio.
"No início dos anos 80, a taxa de
homicídios era de 25 por 100 mil
habitantes. Em 1994, já era de 78
por 100 mil. A polícia foi engolida
pela lógica do tiroteio. Em 99, o
quadro havia melhorado um
pouco, com taxa de 49 homicídios
por 100 mil habitantes", diz.
Alguns estudiosos apontam a
promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente, em
1990, como o início da participação intensa de menores no tráfico.
Sujeitos a penas mais leves, eles
se tornaram o exército preferencial para a linha de frente do trabalho. Hoje, segundo dados da 2ª
Vara da Infância e da Juventude,
cerca de 40% das ocorrências relacionadas a drogas envolvem
adolescentes.
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