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Polícia matou garoto na Mangueira
DA SUCURSAL DO RIO
Quando criança, ele queria ser
bom de bola como o irmão e jogar
futebol com ele. Não houve tempo: Marcos Vinícius dos Santos
Carvalho, 12, viu o irmão Alexandro, 14, ser morto por policiais civis numa ação no morro da Mangueira (zona norte).
"Ele não teve tempo nem de falar", conta o garoto, atleta de futebol na Vila Olímpica da Mangueira, um projeto social que atende
5.750 jovens carentes.
A operação que resultou na
morte de Alexandro aconteceu
em abril do ano passado. Provocou protestos dos moradores, tumulto no morro e acabou levando
o governador Anthony Garotinho
(PDT) a fazer uma visita de desculpas à Mangueira.
A polícia alegou que o garoto
era envolvido com o tráfico, mas
as primeiras investigações apontavam um "acerto de contas": policiais estariam recebendo propina dos traficantes e, diante da recusa desses em pagar a última
parcela, teriam matado o garoto.
Por ele, mas um pouco também
pelo irmão, Marcos aumentou a
dedicação ao treinamento na Vila
Olímpica. "Meu irmão estava na
rua de bobeira e acabou morrendo", conta.
Na Vila Olímpica, criada há dez
anos, crianças e adolescentes participam de projetos esportivos e
cursos profissionalizantes, têm
atendimento médico e são encaminhados para estudar no Ciep
(Centro Integrado de Educação
Pública) Nação Mangueirense.
Também atletas da Vila Olímpica, Victor Hugo da Silva Santos,
14, e Emerson Glorosa Ferreira,
17, optaram pelo esporte para fugir da rotina de marasmo de adolescentes do morro, perdidos entre o tráfico e o desemprego.
Todo dia, depois da escola, os
dois encaram três horas de treino
em provas de corrida de velocidade. Para eles, a pista da Mangueira
é, mais do que um esporte, uma
casa nova, uma opção de vida.
O morro da Mangueira é considerado pela polícia uma área em
que o tráfico é firme, porém com
poucos episódios de disputa.
A exceção aconteceu em 1994,
quando traficantes chegaram a
invadir a quadra da escola de
samba Mangueira. Foi um período de disputa entre grupos rivais
pelo controle dos pontos-de-venda.
Preparador físico da Vila Olímpica, Paulo Balduíno, 62, há 35 no
morro, resume: "Se essa vila tivesse existido antes, não teria visto
tanta desgraça, tanta morte como
eu vi".
(FE)
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