São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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Polícia matou garoto na Mangueira

DA SUCURSAL DO RIO

Quando criança, ele queria ser bom de bola como o irmão e jogar futebol com ele. Não houve tempo: Marcos Vinícius dos Santos Carvalho, 12, viu o irmão Alexandro, 14, ser morto por policiais civis numa ação no morro da Mangueira (zona norte).
"Ele não teve tempo nem de falar", conta o garoto, atleta de futebol na Vila Olímpica da Mangueira, um projeto social que atende 5.750 jovens carentes.
A operação que resultou na morte de Alexandro aconteceu em abril do ano passado. Provocou protestos dos moradores, tumulto no morro e acabou levando o governador Anthony Garotinho (PDT) a fazer uma visita de desculpas à Mangueira.
A polícia alegou que o garoto era envolvido com o tráfico, mas as primeiras investigações apontavam um "acerto de contas": policiais estariam recebendo propina dos traficantes e, diante da recusa desses em pagar a última parcela, teriam matado o garoto.
Por ele, mas um pouco também pelo irmão, Marcos aumentou a dedicação ao treinamento na Vila Olímpica. "Meu irmão estava na rua de bobeira e acabou morrendo", conta.
Na Vila Olímpica, criada há dez anos, crianças e adolescentes participam de projetos esportivos e cursos profissionalizantes, têm atendimento médico e são encaminhados para estudar no Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Nação Mangueirense.
Também atletas da Vila Olímpica, Victor Hugo da Silva Santos, 14, e Emerson Glorosa Ferreira, 17, optaram pelo esporte para fugir da rotina de marasmo de adolescentes do morro, perdidos entre o tráfico e o desemprego.
Todo dia, depois da escola, os dois encaram três horas de treino em provas de corrida de velocidade. Para eles, a pista da Mangueira é, mais do que um esporte, uma casa nova, uma opção de vida.
O morro da Mangueira é considerado pela polícia uma área em que o tráfico é firme, porém com poucos episódios de disputa.
A exceção aconteceu em 1994, quando traficantes chegaram a invadir a quadra da escola de samba Mangueira. Foi um período de disputa entre grupos rivais pelo controle dos pontos-de-venda.
Preparador físico da Vila Olímpica, Paulo Balduíno, 62, há 35 no morro, resume: "Se essa vila tivesse existido antes, não teria visto tanta desgraça, tanta morte como eu vi". (FE)

















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