São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2000


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Casal se muda após morte de filho

DA SUCURSAL DO RIO

Não restava muita coisa para a família Ribeiro quando o casal Elaine e Flávio chegou ao acampamento Araguaia com os quatro filhos, há dois meses.
Depois de assistir o assassinato do primogênito, de 20 anos, na sala de casa no bairro de Vasconcelos (zona oeste do Rio), no dia 27 de maio, no dia seguinte a família mudou-se para os barracos de madeira em Campo Grande.
"Meu filho foi assassinado por ciúmes. Ele era casado com a ex-mulher do traficante. Tive que sair de lá, comecei a andar e cheguei aqui", resume Elaine de Moura Ribeiro, 48, que acabou de adotar uma criança.
A família evangélica, que frequentava os cultos da Igreja Universal do Reino de Deus, rompeu com a religião quando a ajuda para construir o barraco no acampamento do MTST foi negada no templo.
"Ficamos todos na pior. Mas vir para cá foi uma terapia para mim. O povo ajudou a fazer o barraco e as conversas com os vizinhos me ajudaram a superar o trauma."
Enquanto o marido vai de bicicleta a Vasconcelos à procura de biscates, Elaine junta os filhos, que não conseguiram matrícula nas escolas da região, para ir às manifestações do MTST.
"Acho que o nosso caminho é com o povo na luta e não fechados dentro da igreja. Temos que procurar Deus dentro de casa", diz.

Violência
Dos sem-teto do Rio acima de 18 anos, 36% foram morar nas ruas devido a problemas familiares. Os casais que vivem nos acampamentos Araguaia e Nova Canudos ilustram a estatística.
A desempregada Jordana Butt,18, saiu da casa da mãe fugindo de um padrasto violento, chegou a morar na rua e fugir da polícia. Casou, mas não conseguiu conviver com a sogra. Há seis meses foi parar com o marido e a filha Letícia de 1 ano e oito meses no acampamento Araguaia.
"Em certas coisas é melhor que na rua, mas em é outras pior. Tem dias que a polícia entra atirando, mas aqui eu posso confiar nas pessoas e na rua não podia confiar em ninguém." Ela conta que aprendeu no Araguaia o significado da palavra consciência. "Não tinha noção disso. A gente aprende com o povo quando enxerga que não é só a gente que precisa das coisas, mas todo o mundo."













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