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São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

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EDUCAÇÃO

Projeto Unirede foi criado em 2000 para formar 600 mil professores até 2007, mas só abriu até hoje 13 mil vagas

Graduação à distância descumpre metas

LUIS RENATO STRAUSS
DA REPORTAGEM LOCAL

Três anos depois de inaugurada com a promessa de formar 600 mil professores até 2007 em cursos de ensino à distância, a Unirede, um consórcio composto por 74 universidades públicas, abriu até o momento somente 13 mil vagas de graduação. O governo receberá hoje um novo plano estratégico da associação.
A rede nasceu de uma preocupação dos reitores das universidades federais com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases para a Educação), aprovada em 1996. Para se adequar às novas leis, cerca de um milhão de professores precisariam, na época, procurar um curso de graduação em licenciatura. Para os reitores das universidades, a rede de ensino superior não suportaria essa demanda.
Neste mês, o Ministério da Educação aprovou um parecer do CNE (Conselho Nacional de Educação) que permite que 773 mil professores da educação infantil (para crianças de até seis anos) e das primeiras quatro séries do ensino fundamental exerçam suas funções sem a necessidade de diploma universitário. Eles representam 72% dos docentes desse nível de ensino -os demais possuem a graduação.
A exigência de diploma de licenciatura se mantém para os professores da segunda etapa do fundamental (da 5ª à 8ª série) e do ensino médio (antigo colegial) -há 249 mil professores leigos nesse nível de ensino, cerca de 25% do total.
O projeto de graduação à distância da Unirede ainda não decolou. Apenas em 2002 foram abertas as primeiras 13 mil vagas de licenciatura -segundo o projeto inicial, 100 mil pessoas deveriam ser atendidas em 2001.
Dóris Santos de Faria, que presidiu comitê gestor da Unirede até 2002, diz que, apesar de o então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, estar presente na inauguração da universidade virtual e ter declarado que iria apoiar o programa, não houve suporte do governo federal para o projeto.
Segundo ela, pela novidade da graduação à distância no país, a Secretaria de Educação Superior do MEC procurou, na gestão passada, criar normas para o setor. O plano era regulamentar o setor para, então, expandir os projetos à distância. Já o gabinete do ministério, diz Santos de Faria, tentava não beneficiar as universidade públicas, para não desestimular as iniciativas privadas de cursos à distância.
A Secretaria de Educação à Distância do MEC, por sua vez, deixou de lado a graduação, mas investiu em cursos de capacitação de professores. O ex-ministro Paulo Renato Souza, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não iria comentar o assunto.

Sindicatos
Representantes dos professores são contra os projetos de graduação em licenciatura à distância. Segundo eles, essa ferramenta pedagógica deve ser um complemento ao ensino presencial e não um substituto.
Para Marta Vanelli, secretária de assuntos educacionais da CNTE (Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação), um educador precisa ser formado em cursos que permitam o contato humano, pois esse será o "material" de trabalho dele.
"Os cursos à distância certificam os profissionais, mas não os qualificam", afirma Ariovaldo de Camargo, diretor de comunicação da Apeoesp (sindicato dos professores das escolas estaduais de São Paulo).
Para obter a licenciatura em biologia, Cilene de Souza Silva, 34, professora de 1ª à 4ª série, se inscreveu no curso à distância oferecido pela Cederj (uma parceria entre as seis universidades públicas do Estado, a Secretaria de Estado da Educação e as secretarias municipais de Educação) na cidade de Paracambi, interior do Rio.
Ela diz que as primeiras aulas foram de informática e que, para cada disciplina do curso, há, em média, um dia por mês de aulas presenciais, quando faz as experiências de laboratório e os trabalhos de campo -um tutor de cada matéria está disponível duas horas por semana para tirar as dúvidas. Além disso, pode falar com os professores por telefone ou pela internet. Nos demais momentos, a tarefa é solitária: lê o material didático e faz os exercícios no computador.


Colaborou ALESSANDRA BALLES, da Redação


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