São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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TRÁFICO EM GUERRA

Traficante e seus aliados exigem cinegrafistas e fotógrafos para se renderem; governadora anuncia intervenção em presídio

Polícia vê vitória de Beira-Mar em rebelião

DA SUCURSAL DO RIO

E DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Depois de 23 horas no controle do presídio Bangu 1 (zona oeste do Rio), período em que mataram quatro inimigos, os chefes do CV (Comando Vermelho) libertaram os seis reféns e se renderam.
Principal líder do movimento, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, 34, conseguiu, segundo a polícia, seus objetivos: a morte dos rivais, a hegemonia do CV em Bangu 1 e seu fortalecimento nas favelas.
"Bangu 1 virou um monobloco", afirmou o secretário de Justiça, Paulo Saboya.
A rendição aconteceu às 7h, depois que o comandante-geral da PM (Polícia Militar), coronel Francisco Braz, levou fotógrafos e cinegrafistas para dentro do presídio, sem avisá-los de que era uma exigência dos rebelados para encerrar o motim. Braz proibiu a entrada de repórteres.
À tarde, o comandante da PM deu outra versão. Ele afirmou que avisou aos fotógrafos e aos cinegrafistas que a presença deles era exigência dos presos.
A rebelião deixou quatro mortos: Ernaldo Pinto de Medeiros, 35, o Uê, Wanderlei Soares, 37, o Orelha, Carlos Roberto da Costa, 28, o Robertinho do Adeus, e Elpídio Rodrigues Sabino, 28, o Robô (todos rivais de Beira-Mar).
Uê era o chefe da ADA (Amigo dos Amigos) e principal inimigo de Beira-Mar, com quem disputava o controle do fornecimento de drogas para as favelas do Rio.
À tarde, a governadora Benedita da Silva (PT) anunciou uma intervenção no presídio. Policiais civis e militares assumiram a guarda de Bangu 1 e, em uma semana, todos os agentes serão retirados, anunciou ela. O governo suspeita de conivência dos agentes penitenciários com os amotinados.
Depois da rendição, foram apreendidas com os rebelados cinco armas -só uma era do estoque de emergência do presídio-, pelo menos dez celulares e três granadas artesanais. Quarenta e oito horas antes da rebelião, o presídio passara por uma vistoria. Nada fora encontrado.
Bangu 1 passou o dia de ontem sob o policiamento de mais de 500 homens. Apesar de o governo ter dito que os presos seriam transferidos para o Batalhão de Choque da PM (centro do Rio), os 29 presos restantes, inclusive os líderes do motim, deverão ser mantidos na unidade nos próximos dias.
O presídio está parcialmente destruído, mas em condições de uso, segundo o governo. Beira-Mar ficará "em isolamento", informou a Secretaria de Segurança.
Os participantes do motim serão indiciados sob acusação de homicídio qualificado, motim, dano ao patrimônio público e formação de quadrilha. Uê teve o corpo carbonizado.
A rebelião começou quando o grupo de Beira-Mar rendeu dois agentes e invadiu as galerias rivais, iniciando a chacina e fazendo oito reféns -dois liberados horas mais tarde.
A polícia cercou o presídio e começou a negociar. Durante todo o tempo, Beira-Mar falava ao celular. Comemorou a ação e pediu informações sobre o movimento policial em Bangu e na cidade.
Delegados que participaram das negociações disseram que a rendição foi acertada por volta da 0h, mas, com medo de represálias, os presos decidiram se entregar pela manhã, diante da imprensa.
Para aceitar a exigência dos rebelados, o governo também condicionou a entrada dos jornalistas à retirada da bandeira vermelha do CV do telhado do presídio.
(MARIO HUGO MONKEN, FERNANDA DA ESCÓSSIA E ALESSANDRO SILVA)

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