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TRÁFICO EM GUERRA
Traficante e seus aliados exigem cinegrafistas e fotógrafos para se renderem; governadora anuncia intervenção em presídio
Polícia vê vitória de Beira-Mar em rebelião
DA SUCURSAL DO RIO
E DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Depois de 23 horas no controle do presídio Bangu 1 (zona oeste do Rio), período em que mataram quatro inimigos, os chefes do CV (Comando Vermelho) libertaram
os seis reféns e se renderam.
Principal líder do movimento, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, 34, conseguiu, segundo a polícia, seus objetivos: a morte dos rivais, a hegemonia do CV em Bangu 1 e seu
fortalecimento nas favelas.
"Bangu 1 virou um monobloco", afirmou o secretário de Justiça, Paulo Saboya.
A rendição aconteceu às 7h, depois que o comandante-geral da
PM (Polícia Militar), coronel
Francisco Braz, levou fotógrafos e
cinegrafistas para dentro do presídio, sem avisá-los de que era
uma exigência dos rebelados para
encerrar o motim. Braz proibiu a
entrada de repórteres.
À tarde, o comandante da PM
deu outra versão. Ele afirmou que
avisou aos fotógrafos e aos cinegrafistas que a presença deles era
exigência dos presos.
A rebelião deixou quatro mortos: Ernaldo Pinto de Medeiros,
35, o Uê, Wanderlei Soares, 37, o
Orelha, Carlos Roberto da Costa,
28, o Robertinho do Adeus, e Elpídio Rodrigues Sabino, 28, o Robô
(todos rivais de Beira-Mar).
Uê era o chefe da ADA (Amigo
dos Amigos) e principal inimigo
de Beira-Mar, com quem disputava o controle do fornecimento de
drogas para as favelas do Rio.
À tarde, a governadora Benedita
da Silva (PT) anunciou uma intervenção no presídio. Policiais civis
e militares assumiram a guarda de
Bangu 1 e, em uma semana, todos
os agentes serão retirados, anunciou ela. O governo suspeita de
conivência dos agentes penitenciários com os amotinados.
Depois da rendição, foram
apreendidas com os rebelados
cinco armas -só uma era do estoque de emergência do presídio-, pelo menos dez celulares e
três granadas artesanais. Quarenta e oito horas antes da rebelião, o
presídio passara por uma vistoria.
Nada fora encontrado.
Bangu 1 passou o dia de ontem
sob o policiamento de mais de 500
homens. Apesar de o governo ter
dito que os presos seriam transferidos para o Batalhão de Choque
da PM (centro do Rio), os 29 presos restantes, inclusive os líderes
do motim, deverão ser mantidos
na unidade nos próximos dias.
O presídio está parcialmente
destruído, mas em condições de
uso, segundo o governo. Beira-Mar ficará "em isolamento", informou a Secretaria de Segurança.
Os participantes do motim serão indiciados sob acusação de
homicídio qualificado, motim,
dano ao patrimônio público e formação de quadrilha. Uê teve o
corpo carbonizado.
A rebelião começou quando o
grupo de Beira-Mar rendeu dois
agentes e invadiu as galerias rivais, iniciando a chacina e fazendo oito reféns -dois liberados
horas mais tarde.
A polícia cercou o presídio e começou a negociar. Durante todo o
tempo, Beira-Mar falava ao celular. Comemorou a ação e pediu
informações sobre o movimento
policial em Bangu e na cidade.
Delegados que participaram das
negociações disseram que a rendição foi acertada por volta da 0h,
mas, com medo de represálias, os
presos decidiram se entregar pela
manhã, diante da imprensa.
Para aceitar a exigência dos rebelados, o governo também condicionou a entrada dos jornalistas
à retirada da bandeira vermelha
do CV do telhado do presídio.
(MARIO HUGO MONKEN, FERNANDA DA ESCÓSSIA E ALESSANDRO SILVA)
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