São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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TRÁFICO EM GUERRA

Detentos perderão privilégios, como a visita íntima; serviço de inteligência irá investigar rendimento de agentes penitenciários

Governo anuncia retaliações contra presos

DA SUCURSAL DO RIO

DO ENVIADO ESPECIAL

Após o assassinato de quatro presos em Bangu 1, o governo do Rio anunciou ontem retaliações contra os líderes das facções criminosas e medidas para conter a corrupção nas prisões.
Foi instituído para os presos da unidade um RDES (Regime Disciplinar Especial de Segurança), que corta privilégios e benefícios. É o mesmo regime adotado na Casa de Custódia de Taubaté (SP), onde estão os líderes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O preso de Bangu 1 terá direito a duas horas por semana de contato com parentes, entrega de alimentos e roupas uma vez por mês e proibição de visita íntima, entre outras restrições previstas na Lei de Execuções Penais, segundo a coordenadora de Segurança do Rio, Jacqueline Muniz.
A Secretaria de Segurança informou que instalará bloqueadores de celular em Bangu 1 ao concluir a reforma das galerias destruídas.
Outra medida do pacote atingirá os 3.800 agentes penitenciários do Rio: a obrigatória apresentação de cópia de declaração de Imposto de Renda, do número do telefone celular (com nota fiscal do aparelho), do endereço atualizado e de documentos de propriedade de veículos.
O objetivo é saber se o patrimônio dos agentes é compatível com a renda e se eles estariam sendo corrompidos pelos traficantes. As informações serão enviadas ao serviço de inteligência da secretaria para monitoramento, por exemplo, de casos de enriquecimento ilícito.
Pelo menos 13 agentes de Bangu 1 (12 que deram expediente e um que faltou ao trabalho) serão chamados a depor, além do ex-diretor Ricardo Couto, afastado do cargo. Estão sendo identificados os agentes que impediram a entrada do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM em Bangu 1. O Bope invadiria o presídio, por determinação da governadora Benedita da Silva (PT). Eles também serão chamados a depor.
O diretor foi afastado, segundo o secretário Paulo Saboya (Justiça), porque teve informações sobre a iminência de uma rebelião e não tomou providências. Ele não foi localizado ontem pela Folha.
A juíza Sônia Maria Gomes Pinto, da 1ª Vara Criminal de Bangu, disse que, no dia 5 de junho, recebeu um telefonema do diretor de Bangu 1 em que ele contava ter sabido, por uma denúncia anônima, que haveria um "banho de sangue" em Bangu 1.
No dia seguinte, o traficante Marcos Antônio da Silva, o Marquinhos Niterói, contou em audiência ter sabido do "banho de sangue", informado por um agente. A juíza comunicou o fato, em ofício, ao Ministério Público.
O procurador-geral de Justiça, José Muiños Piñeiro Filho, disse ter sabido que a direção do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) tomara conhecimento de que as facções estavam planejando um resgate de presos.
O secretário de Justiça informou, porém, que só o diretor do presídio recebera a denúncia. Segundo ele, a direção do Desipe não fora avisada. (FERNANDA DA ESCÓSSIA E ALESSANDRO SILVA)

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