São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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TRÁFICO EM GUERRA

Na região que era dominada por Uê, morto por Beira-Mar e seus aliados, o comércio e agências bancárias fecharam as portas

Tráfico impõe luto de 3 dias, dizem lojistas

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Na porta da agência do Itaú, na av. Democráticos (perto do morro do Adeus), com anúncio de que estava fechada para o público


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Parte do comércio de pelo menos quatro bairros do Rio não abriu ontem pelo segundo dia consecutivo. Lojistas disseram que o luto imposto por traficantes das facções aliadas TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigos dos Amigos), em razão da morte dos quatro presos em Bangu 1 (zona oeste), vai durar três dias.
Um dos bairros que mais chamava a atenção era Bonsucesso (zona norte). Na estrada de Itararé, lojas e bares do lado direito - próximo ao acesso ao morro do Adeus, principal reduto de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, um dos mortos- estavam fechados.
A 150 metros, o comércio funcionava normalmente. Ali começa o complexo do Alemão, comandado pelo CV (Comando Vermelho), cujo líder, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, liderou o assassinato de adversários em Bangu 1.
Em outras ruas que circundam os morros do Adeus, do Juramento (Vicente de Carvalho, zona norte), do Pára-Pedro (em Irajá, zona norte) e do Quitungo (Vila da Penha, zona norte), quase todos acataram a ordem dos traficantes, inclusive agências bancárias, dando impressão de ser feriado a quem passava pelo local.
Na avenida dos Democráticos, perto do Adeus, as agências do Bradesco e do Itaú fecharam, surpreendendo até policiais militares que fazem ronda ali.
Às 13h, o soldado Senna, do 22º BPM (Batalhão de Polícia Militar), parou o carro da PM em frente ao Itaú e foi em direção à porta, onde estava colado o aviso: "Fechado. Dirija-se à AG [agência" mais próxima". O caixa eletrônico estava aberto e ele conseguiu sacar a quantia que queria.
De acordo com as assessorias de imprensa do Itaú e do Bradesco, as agências deixaram de atender ao público porque houve a decisão de seguir o procedimento da maioria dos lojistas locais.
Na rua Uranus, funcionários de um supermercado escreveram em um cartaz, igual ao usado para oferecer promoções, o aviso: "Fechado". O cartaz foi colocado na grade de entrada, trancada com cadeado. Os funcionários estavam dentro do supermercado.
Um dos poucos lojistas a abrir ontem, Márcio Ferreira, 63, dono de um restaurante, estava com metade da porta fechada.
"Faço quentinhas e resolvi abrir por duas horas. Mas os vizinhos já avisaram que tem gente ligando para eles e mandando fechar. Ontem, foi um motoqueiro que passou avisando. Temos medo de represálias, então a gente obedece", disse o comerciante.
Anteontem, à tarde, enquanto Beira-Mar e seus aliados agiam em Bangu 1, a PM chegou a colocar 2.000 homens para patrulhar os morros da zona norte do Rio. Quatro helicópteros sobrevoaram as favelas da região.


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