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RETRATO DO BRASIL
Redução nos ganhos foi de 9,6% de 1996 a 2001, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
IBGE mostra nova queda da renda familiar
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A tendência de queda no rendimento médio das famílias brasileiras não foi revertida em 2001, de acordo com os dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios), divulgada ontem
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Desde
1996, foi a quarta pesquisa consecutiva em que houve redução no
valor médio que uma família ganha por mês.
Em 1996, as famílias brasileiras
ganhavam, em média, R$ 1.098
por mês. Em 2001, a renda familiar média passou a R$ 993, uma
queda de 9,6%. Não houve Pnad
em 2000.
Apesar dos maus resultados
acumulados desde 1996, a renda
de 2001 ainda é maior do que a registrada há dez anos. Em 1992, era
de R$ 769.
A mesma tendência de queda
no rendimento em relação a 1996,
mas de aumento em relação a
1992, é encontrada quando são
analisados os dados de rendimento médio do trabalho das pessoas
ocupadas. Houve redução de
10,3% em relação a 1996, mas incremento de 28,8% em relação ao
ano de 1992.
Os dados de queda no rendimento das famílias de 1996 a 2001
contrastam com as informações
sobre posse de bens de consumo
no mesmo período, na maioria
dos itens avaliados pelo IBGE.
Houve aumento nos domicílios
com telefone (131%), máquina de
lavar roupa (10,4%), geladeira
(8,6%) e televisão (5,5%).
"Com preços estáveis, ficou
mais fácil para a população ter
acesso a crediários e ter uma programação orçamentária. Além
disso, alguns bens tiveram redução no preço real", disse o presidente do IBGE, Sérgio Besserman.
Para Lauro Ramos, economista
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), é preciso
também levar em conta que a
queda na renda foi menor nas camadas mais pobres da população.
"Apesar da queda, os níveis de
renda ainda estão superiores ao
período anterior ao Plano Real.
Além disso, as pessoas das camadas mais pobres têm uma propensão maior para o consumo do
que as classes mais ricas, que já
possuem mais eletrodomésticos
em casa", afirmou Ramos.
A Pnad de 2001 mostra que, entre os brasileiros que estavam na
faixa dos 50% com menor rendimento, a variação de 1996 para
2001 foi quase inexistente, com o
rendimento médio passando de
R$ 180 em 1996 para R$ 177 em
2001. Em 1992, esse valor era de
R$ 130.
Desigualdade
A concentração de renda do trabalho, medida pelo chamado índice de Gini, vem caindo lentamente desde 1995. Esse índice varia de 0 a 1, sendo zero uma situação utópica em que todos os habitantes de um país tenham a mesma renda, e 1, a situação oposta,
em que toda a renda está na mão
de uma só pessoa. No Brasil, esse
índice hoje é de 0,566.
O Relatório sobre o Desenvolvimento Humano de 2002, da
ONU, coloca o Brasil como o
quarto país com maior concentração de renda.
Besserman afirma que, apesar
de pequena, a queda na concentração de renda na década de 90
foi positiva porque aconteceu
num período de pouco crescimento econômico.
Outro dado da Pnad mostra que
1% dos brasileiros mais ricos concentram 13,6% de toda a renda do
país. É quase o mesmo que foi
acumulado pelos 50% que estão
na base da pirâmide de renda, que
concentram 14,4% da renda total.
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