São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Redução nos ganhos foi de 9,6% de 1996 a 2001, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

IBGE mostra nova queda da renda familiar

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A tendência de queda no rendimento médio das famílias brasileiras não foi revertida em 2001, de acordo com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desde 1996, foi a quarta pesquisa consecutiva em que houve redução no valor médio que uma família ganha por mês.
Em 1996, as famílias brasileiras ganhavam, em média, R$ 1.098 por mês. Em 2001, a renda familiar média passou a R$ 993, uma queda de 9,6%. Não houve Pnad em 2000.
Apesar dos maus resultados acumulados desde 1996, a renda de 2001 ainda é maior do que a registrada há dez anos. Em 1992, era de R$ 769.
A mesma tendência de queda no rendimento em relação a 1996, mas de aumento em relação a 1992, é encontrada quando são analisados os dados de rendimento médio do trabalho das pessoas ocupadas. Houve redução de 10,3% em relação a 1996, mas incremento de 28,8% em relação ao ano de 1992.
Os dados de queda no rendimento das famílias de 1996 a 2001 contrastam com as informações sobre posse de bens de consumo no mesmo período, na maioria dos itens avaliados pelo IBGE. Houve aumento nos domicílios com telefone (131%), máquina de lavar roupa (10,4%), geladeira (8,6%) e televisão (5,5%).
"Com preços estáveis, ficou mais fácil para a população ter acesso a crediários e ter uma programação orçamentária. Além disso, alguns bens tiveram redução no preço real", disse o presidente do IBGE, Sérgio Besserman.
Para Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), é preciso também levar em conta que a queda na renda foi menor nas camadas mais pobres da população.
"Apesar da queda, os níveis de renda ainda estão superiores ao período anterior ao Plano Real. Além disso, as pessoas das camadas mais pobres têm uma propensão maior para o consumo do que as classes mais ricas, que já possuem mais eletrodomésticos em casa", afirmou Ramos.
A Pnad de 2001 mostra que, entre os brasileiros que estavam na faixa dos 50% com menor rendimento, a variação de 1996 para 2001 foi quase inexistente, com o rendimento médio passando de R$ 180 em 1996 para R$ 177 em 2001. Em 1992, esse valor era de R$ 130.

Desigualdade
A concentração de renda do trabalho, medida pelo chamado índice de Gini, vem caindo lentamente desde 1995. Esse índice varia de 0 a 1, sendo zero uma situação utópica em que todos os habitantes de um país tenham a mesma renda, e 1, a situação oposta, em que toda a renda está na mão de uma só pessoa. No Brasil, esse índice hoje é de 0,566.
O Relatório sobre o Desenvolvimento Humano de 2002, da ONU, coloca o Brasil como o quarto país com maior concentração de renda.
Besserman afirma que, apesar de pequena, a queda na concentração de renda na década de 90 foi positiva porque aconteceu num período de pouco crescimento econômico.
Outro dado da Pnad mostra que 1% dos brasileiros mais ricos concentram 13,6% de toda a renda do país. É quase o mesmo que foi acumulado pelos 50% que estão na base da pirâmide de renda, que concentram 14,4% da renda total.


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