|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI
Lucros bilionários furam as filas dos bancos
Lucros na casa dos bilhões de
reais, enquanto o crescimento da economia brasileira é inferior ao de todos os países em desenvolvimento. A maior taxa de
juros do planeta, que facilita, e
muito, esses lucros bilionários. Se
há algum ramo de atividade que
vive a um passo do Paraíso, do
Xangri-Lá, é o financeiro.
Apesar desse "céu de brigadeiro", os bancos que atuam no Brasil cortam todos os custos possíveis e imagináveis, ainda que em
detrimento de seus clientes e da
população brasileira. As agências
têm cada vez menos bancários,
substituídos pelos sites, pelos terminais de auto-atendimento, por
débitos em conta corrente e outros serviços, que se tornaram viáveis pelos avanços tecnológicos.
Perfeito, para quem tem renda e
é disputado pelos bancos. Mas a
realidade brasileira é de uma pequena classe média, com pouquíssimos habitantes caracterizados como classe A. Os mais pobres, portanto, apesar de maioria
numérica esmagadora, interessam pouco à maioria dos bancos.
Por isso, seu caminho natural são
as filas. Longas, intermináveis,
um pesadelo similar à tormenta
diária para o trajeto casa-trabalho-casa nas principais metrópoles brasileiras.
Não causa estranheza a recusa
da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em reconhecer a
legalidade dessa exigência. Afinal, quem nem aceita o Código de
Defesa do Consumidor (CDC)...
O Banco Central (BC), também
sem estranheza alguma, não se
manifestou em defesa da lei antifilas. Mais um exemplo de uma
bela amizade entre o interesse público e o lucro privado.
Pior situação, ainda, a dos 25
milhões de famílias que não têm
conta em banco. Mas que pagam
contas de água, luz, telefone e
aluguel em agências bancárias
hiperlotadas. Ou em casas lotéricas travestidas de bancos, com
poucos guichês, raros empregados
e nenhuma segurança e conforto.
Ou em agências dos Correios, com
situação similar à das lotéricas.
O tema voltou a ser discutido
devido às leis que aos poucos vão
pipocando pelo país para limitar
o tempo de espera nas filas de
bancos. A expectativa é que o serviço dos bancos seja mais ágil,
com o cumprimento dessa legislação. Em São Paulo, os bancos têm
até 1º de outubro para se adaptar.
Vão ter que instalar equipamentos que registrem o horário de ingresso na fila. Ao chegar no caixa,
o atendente terá que marcar o horário de atendimento e devolver o
bilhete ao usuário. O tempo de espera deve ser de até 15 minutos
em dias normais e de 25 minutos
nas vésperas e após feriados prolongados. Nos dias de pagamento
dos funcionários públicos, o limite de espera será de 30 minutos.
Os bancos que descumprirem a lei
serão multados.
Limitar o tempo de permanência nas filas não é uma afronta à
livre-iniciativa, nem prejudica os
negócios -uma piada, para
quem lucra bilhões! Em lugar de
combater uma lei tão justa, a Febraban poderia sugerir aos governantes e legisladores, sobre quem
parece ter tanta ascendência, que
também criem e aprovem leis para reduzir as filas do Sistema Único de Saúde (SUS), nos postos da
Previdência, e assim por diante.
Quem sabe, também, se essa
primeira lei pró-correntistas ou
clientes não-correntistas abra a
porta para que o CDC, finalmente, seja respeitado pelos bancos.
Algo que não será favor algum,
mas, simplesmente, respeito a um
código que vale para todas as demais relações de consumo.
Sonhar não é demais, embora,
até hoje, somente os lucros bilionários não tenham de enfrentar
filas nos bancos. Porque lucros astronômicos são os verdadeiros
clientes preferenciais dos bancos.
E-mail - midolci@yahoo.com.br
Texto Anterior: Preso é morto a facadas durante rebelião em presídio de Manaus Próximo Texto: Panorâmica - Narcotráfico: Policiais matam três homens em ação no Rio Índice
|