São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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MARIA INÊS DOLCI

Lucros bilionários furam as filas dos bancos

Lucros na casa dos bilhões de reais, enquanto o crescimento da economia brasileira é inferior ao de todos os países em desenvolvimento. A maior taxa de juros do planeta, que facilita, e muito, esses lucros bilionários. Se há algum ramo de atividade que vive a um passo do Paraíso, do Xangri-Lá, é o financeiro.
Apesar desse "céu de brigadeiro", os bancos que atuam no Brasil cortam todos os custos possíveis e imagináveis, ainda que em detrimento de seus clientes e da população brasileira. As agências têm cada vez menos bancários, substituídos pelos sites, pelos terminais de auto-atendimento, por débitos em conta corrente e outros serviços, que se tornaram viáveis pelos avanços tecnológicos.
Perfeito, para quem tem renda e é disputado pelos bancos. Mas a realidade brasileira é de uma pequena classe média, com pouquíssimos habitantes caracterizados como classe A. Os mais pobres, portanto, apesar de maioria numérica esmagadora, interessam pouco à maioria dos bancos. Por isso, seu caminho natural são as filas. Longas, intermináveis, um pesadelo similar à tormenta diária para o trajeto casa-trabalho-casa nas principais metrópoles brasileiras.
Não causa estranheza a recusa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em reconhecer a legalidade dessa exigência. Afinal, quem nem aceita o Código de Defesa do Consumidor (CDC)...
O Banco Central (BC), também sem estranheza alguma, não se manifestou em defesa da lei antifilas. Mais um exemplo de uma bela amizade entre o interesse público e o lucro privado.
Pior situação, ainda, a dos 25 milhões de famílias que não têm conta em banco. Mas que pagam contas de água, luz, telefone e aluguel em agências bancárias hiperlotadas. Ou em casas lotéricas travestidas de bancos, com poucos guichês, raros empregados e nenhuma segurança e conforto. Ou em agências dos Correios, com situação similar à das lotéricas.
O tema voltou a ser discutido devido às leis que aos poucos vão pipocando pelo país para limitar o tempo de espera nas filas de bancos. A expectativa é que o serviço dos bancos seja mais ágil, com o cumprimento dessa legislação. Em São Paulo, os bancos têm até 1º de outubro para se adaptar. Vão ter que instalar equipamentos que registrem o horário de ingresso na fila. Ao chegar no caixa, o atendente terá que marcar o horário de atendimento e devolver o bilhete ao usuário. O tempo de espera deve ser de até 15 minutos em dias normais e de 25 minutos nas vésperas e após feriados prolongados. Nos dias de pagamento dos funcionários públicos, o limite de espera será de 30 minutos. Os bancos que descumprirem a lei serão multados.
Limitar o tempo de permanência nas filas não é uma afronta à livre-iniciativa, nem prejudica os negócios -uma piada, para quem lucra bilhões! Em lugar de combater uma lei tão justa, a Febraban poderia sugerir aos governantes e legisladores, sobre quem parece ter tanta ascendência, que também criem e aprovem leis para reduzir as filas do Sistema Único de Saúde (SUS), nos postos da Previdência, e assim por diante.
Quem sabe, também, se essa primeira lei pró-correntistas ou clientes não-correntistas abra a porta para que o CDC, finalmente, seja respeitado pelos bancos. Algo que não será favor algum, mas, simplesmente, respeito a um código que vale para todas as demais relações de consumo.
Sonhar não é demais, embora, até hoje, somente os lucros bilionários não tenham de enfrentar filas nos bancos. Porque lucros astronômicos são os verdadeiros clientes preferenciais dos bancos.


E-mail - midolci@yahoo.com.br

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