São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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PATRIMÔNIO

Igreja de São Miguel, erguida por jesuítas em 1622 na zona leste, terá ainda escavação arqueológica; custo é de R$ 3 mi

Capela mais antiga de SP será restaurada

SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

Lendas contam que o corpo do chefe indígena Piquerobi, irmão do cacique Tibiriçá -que facilitou o processo de catequização dos índios- descansa abaixo de uma das duas palmeiras à frente da capela de São Miguel, no bairro de São Miguel Paulista, na zona leste da capital. Em cerca de um ano, a ciência vai poder descobrir se a história é verdadeira.
O templo erguido por padres jesuítas, o mais antigo de São Paulo, vai passar por um processo de restauração e por prospecção (escavação) arqueológica.
A capela na praça Padre Aleixo Monteiro Mafra tem o umbral entalhado com a data de fundação: 18 de julho de 1622. No entanto, de acordo com a historiadora Roseli Santaella Stella, podem haver vestígios de edificações ainda mais antigas. Ela afirma isso com base nas pesquisas que fez para a tese sobre a origem do bairro, dentre as quais, a busca no Vaticano por documentos dos jesuítas.
"Em 1580, a Câmara noticia a existência de uma igreja em São Miguel. Era um documento que dava aos índios a posse da terra, porque eles eram cristãos e ajudavam na defesa", afirma. "A edificação que existe é de 1622. Mas, em geral, as construções eram feitas sobre as antigas."
O padre Geraldo Rodrigues, que está diretamente envolvido no projeto do restauro, também espera encontrar um cemitério. "Fui a uma igreja de jesuítas, muito parecida com esta, perto de Taubaté [130 km de SP], e lá havia um cemitério. Por isso vamos ter a prospecção arqueológica", diz.
O avô da historiadora, que morou em uma pensão de franciscanos próxima à capela, chegou a encontrar uma ossada. "Ele foi cavar um poço e achou o esqueleto. Daí minha avó disse para ele parar com aquilo", conta.
Todo o processo de restauro ainda depende da captação de recursos. O projeto tem o custo estimado de R$ 3 milhões e conta com apoio do Ministério da Cultura, que permite dedução no imposto de renda dos doadores.

Estilos
A igreja foi construída por jesuítas pela técnica de taipa de pilão. As paredes grossas e ocas são sustentadas por pilares de madeira corroídos por cupins. A restauração desses elementos está prevista, pois o material pode ter perdido a resistência. O telhado também deve ser refeito e as infiltrações na parede serão eliminadas.
Foi na época dos jesuítas que foram entalhados totens dos índios andinos nas janelas e portas.
"Eles são a prova material de que os andinos estiveram aqui", afirma a historiadora.
Segundo Roseli, os franciscanos ocuparam o lugar de 1693 a 1803 e também levaram suas características à edificação. "Os ornamentos são franciscanos, e a pintura ficou encoberta", diz, referindo-se ao altar lateral de madeira com vestígios da pintura de um sol, com tinta dourada na decoração.
Em 1938, a capela foi tombada pelo Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), atual Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Pouco tempo depois, imagens de santos da capela foram quebradas, e as peças, levadas para o instituto.
Recuperar essas obras é outro objetivo do projeto. Dentre os intelectuais que se manifestaram sobre a importância da capela de São Miguel estão Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.


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