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PATRIMÔNIO
Igreja de São Miguel, erguida por jesuítas em 1622 na zona leste, terá ainda escavação arqueológica; custo é de R$ 3 mi
Capela mais antiga de SP será restaurada
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
Lendas contam que o corpo do
chefe indígena Piquerobi, irmão
do cacique Tibiriçá -que facilitou o processo de catequização
dos índios- descansa abaixo de
uma das duas palmeiras à frente
da capela de São Miguel, no bairro
de São Miguel Paulista, na zona
leste da capital. Em cerca de um
ano, a ciência vai poder descobrir
se a história é verdadeira.
O templo erguido por padres jesuítas, o mais antigo de São Paulo,
vai passar por um processo de
restauração e por prospecção
(escavação) arqueológica.
A capela na praça Padre Aleixo
Monteiro Mafra tem o umbral entalhado com a data de fundação:
18 de julho de 1622. No entanto,
de acordo com a historiadora Roseli Santaella Stella, podem haver
vestígios de edificações ainda
mais antigas. Ela afirma isso com
base nas pesquisas que fez para a
tese sobre a origem do bairro,
dentre as quais, a busca no Vaticano por documentos dos jesuítas.
"Em 1580, a Câmara noticia a
existência de uma igreja em São
Miguel. Era um documento que
dava aos índios a posse da terra,
porque eles eram cristãos e ajudavam na defesa", afirma. "A edificação que existe é de 1622. Mas,
em geral, as construções eram feitas sobre as antigas."
O padre Geraldo Rodrigues, que
está diretamente envolvido no
projeto do restauro, também espera encontrar um cemitério.
"Fui a uma igreja de jesuítas, muito parecida com esta, perto de
Taubaté [130 km de SP], e lá havia
um cemitério. Por isso vamos ter
a prospecção arqueológica", diz.
O avô da historiadora, que morou em uma pensão de franciscanos próxima à capela, chegou a
encontrar uma ossada. "Ele foi cavar um poço e achou o esqueleto.
Daí minha avó disse para ele parar com aquilo", conta.
Todo o processo de restauro
ainda depende da captação de recursos. O projeto tem o custo estimado de R$ 3 milhões e conta
com apoio do Ministério da Cultura, que permite dedução no imposto de renda dos doadores.
Estilos
A igreja foi construída por jesuítas pela técnica de taipa de pilão.
As paredes grossas e ocas são sustentadas por pilares de madeira
corroídos por cupins. A restauração desses elementos está prevista, pois o material pode ter perdido a resistência. O telhado também deve ser refeito e as infiltrações na parede serão eliminadas.
Foi na época dos jesuítas que foram entalhados totens dos índios
andinos nas janelas e portas.
"Eles são a prova material de
que os andinos estiveram aqui",
afirma a historiadora.
Segundo Roseli, os franciscanos
ocuparam o lugar de 1693 a 1803 e
também levaram suas características à edificação. "Os ornamentos são franciscanos, e a pintura
ficou encoberta", diz, referindo-se ao altar lateral de madeira com
vestígios da pintura de um sol,
com tinta dourada na decoração.
Em 1938, a capela foi tombada
pelo Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), atual Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Pouco tempo depois,
imagens de santos da capela foram quebradas, e as peças, levadas para o instituto.
Recuperar essas obras é outro
objetivo do projeto. Dentre os intelectuais que se manifestaram
sobre a importância da capela de
São Miguel estão Gilberto Freyre e
Sérgio Buarque de Holanda.
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