São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Funcionários de laboratório oferecem amostras grátis a quem comprar medicamento; Anvisa proíbe a prática

Propagandista dá remédio a paciente

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Propagandistas do laboratório farmacêutico Eurofarma estão distribuindo amostras grátis de medicamentos diretamente a consumidores. A prática contraria resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que estabelece que essas amostras devem ser dadas "exclusivamente aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar" tais produtos -médicos, farmacêuticos, veterinários e dentistas.
De acordo com Maria José Fagundes, gerente de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa, o procedimento é "totalmente ilegal". "Só o médico pode distribuir a amostra. A relação tem que ser entre ele e o paciente, não pode ter alguém intermediando."
A empresa diz que os representantes não são orientados a agir assim (leia texto nesta página).
O esquema funciona da seguinte maneira: na caixa das amostras que distribuem aos médicos, os propagandistas colocam etiquetas com o dizer ""economize 30% mensalmente" e números de telefones celulares.
Após receber do médico o remédio, o paciente pode ligar e pedir o desconto. O representante do laboratório explica, então, que esse desconto é dado na forma de mais caixas com amostras grátis, entregues à pessoa quando ela comprova que comprou na farmácia uma caixa nova do medicamento pelo preço de mercado.
A Folha teve acesso a duas dessas caixas, ambas de remédios psiquiátricos controlados (cloridrato de paroxetina e cloridrato de fluoxetina, antidepressivos). Os telefones são de Porto Alegre e Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Em conversa telefônica na qual a repórter da Folha se identificou como consumidora, o propagandista de Porto Alegre disse que o cliente poderia comprar o remédio em qualquer farmácia, guardar a caixa e ligar para ele para ganhar ""um complemento de amostra". "A cada caixa que for comprada, eu dou outra." Questionado se o consumidor teria algum custo com a amostra, disse: "Não paga nada, sou propagandista do laboratório".
Um psiquiatra de Pelotas, que não quis se identificar, confirmou que o propagandista da Eurofarma deixou em seu consultório as amostras etiquetadas. Ele afirmou que não sabia que o desconto, nesse caso, era dado em amostras grátis. "Eles deixam as amostras e dão descontos nos programas de fidelização. Como quero que o paciente tenha acesso ao remédio, não vejo problema. Mas não sabia como era dado esse desconto."
Para Roberto Dávila, corregedor do CFM (Conselho Federal de Medicina), os médicos podem estar sendo intermediários no esquema por desinformação ou por querer ajudar o paciente.
"Muitos não sabem ou não prestam atenção, e outros acham que vão beneficiar o paciente. Isso é antiético, o caminho não é esse", afirma Dávila.
Segundo ele, o CFM se reunirá com a Anvisa para discutir o assédio da indústria farmacêutica e começará a orientar os médicos sobre a questão.


Texto Anterior: Patrimônio: Capela mais antiga de SP será restaurada
Próximo Texto: Outro lado: Laboratório diz que vai apurar a irregularidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.