São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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Prefeitura manda Itaú tirar anúncio do Conjunto Nacional

Relógio permanecerá no alto do prédio na av. Paulista; não está definido ainda quem pagará, agora, por sua manutenção

Também foi decidido por comissão que o logotipo da universidade Mackenzie na rua da Consolação deverá ser removido

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A comissão da Prefeitura de São Paulo encarregada de julgar os casos omissos da Lei Cidade Limpa decidiu ontem que o relógio do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, não poderá mais ter a propaganda do banco Itaú. A decisão foi tomada em uma reunião que durou mais de quatro horas, ontem -a primeira da recém-formada CPPU (Comissão de Proteção da Paisagem Urbana), uma espécie de "juiz" da Cidade Limpa. Uma consulta ao Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio histórico) colocou fim à discussão. O Conjunto Nacional é tombado, e o Itaú anexou, no processo em que pedia a manutenção do anúncio, um parecer do próprio Condephaat que apontava que o relógio é um "bem aderente" ao prédio tombado.
Em resposta à Folha, na semana passada, a vice-presidente do Condephaat, Juliana Prata, afirmou que o relógio realmente é considerado bem aderente e, portanto, precisa ser mantido. Porém, ela explicou que a logomarca não estava protegida. A mesma explicação foi dada à CPPU.

Ilegal
"A decisão é que o anúncio do Itaú é ilegal, sem prejuízo de outras providências que possam ser tomadas sobre aquele relógio", disse Regina Monteiro, presidente da CPPU e mentora da Lei Cidade Limpa. O banco paga cerca de R$ 300 mil ao Conjunto Nacional para manter sua propaganda no alto do prédio, em uma das regiões mais nobres de São Paulo (o valor não é confirmado por nenhuma das partes). O logotipo não poderá mais permanecer, mas o relógio está tombado pelo patrimônio histórico e não poderá ser retirado. Com a decisão da CPPU, o Itaú poderia desistir de custear a manutenção. Durante a reunião de ontem, um representante do banco afirmou que, mesmo sem a logomarca, o banco estava disposto a discutir formas de continuar cuidando da manutenção do relógio.
O assunto voltará a ser discutido na próxima semana. Enquanto isso, o banco afirmou que, por respeito à decisão, irá retirar o logotipo. Desde janeiro, todos os tipos de publicidade exterior estão proibidos em São Paulo -outdoors, banners, faixas, luminosos etc. As empresas tiveram até o mês de março para adequar os anúncios indicativos de suas fachadas aos limites impostos pela lei aprovada em setembro do ano passado. Porém, a própria lei previa que anúncios que estivessem "incorporados à paisagem urbana" poderiam ser mantidos, após análise da CPPU. A comissão, no entanto, só foi criada no mês passado e ontem fez sua primeira reunião de trabalho. Enquanto isso, todos os anúncios que aguardavam a decisão puderam ser mantidos. Estavam nessa condição os logotipos da Universidade Presbiteriana Mackenzie (na rua da Consolação), do banco Itaú (nos prédios administrativos do Jabaquara e da avenida do Estado), do banco Safra (na avenida Faria Lima) e do Bic Banco (na avenida Paulista). Havia pedidos também da Wachovia Seguros e da Redecard.
"Todos os pedidos foram indeferidos. A gente entendeu que não é o momento de abrir mão de defender a cidade, até por respeito a quem já tirou os anúncios", afirmou Regina Monteiro. Apenas a representante da ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes) na comissão votou contra. Também ficou definido que a CPPU avaliará individualmente a situação dos teatros e casas de shows, que podem usar até 10% de suas fachadas para divulgar os espetáculos. O urbanista e arquiteto Ruy Ohtake diz que os símbolos comerciais não devem ser poupados pela Lei Cidade Limpa. "O luminoso do Itaú na verdade foi sobreposto a um projeto arquitetônico original, veio depois para ser publicidade para o banco. Portanto, não é uma referência histórica", diz.
"Algumas pessoas me perguntam se não acho que a cidade perdeu um pouco da memória. Discordo. Na verdade, são hábitos culturais mal colocados", diz Ohtake, que afirma que, com a nova lei, "os espaços da cidade estão ajudando, paulatinamente, os moradores a valorizar o que é culturalmente mais interessante".


Colaborou Willian Vieira


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