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Prefeitura manda Itaú tirar anúncio do Conjunto Nacional
Relógio permanecerá no alto do prédio na av. Paulista; não está definido ainda quem pagará, agora, por sua manutenção
Também foi decidido por comissão que o logotipo da universidade Mackenzie
na rua da Consolação
deverá ser removido
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A comissão da Prefeitura de
São Paulo encarregada de julgar os casos omissos da Lei Cidade Limpa decidiu ontem que
o relógio do Conjunto Nacional, na avenida Paulista, não
poderá mais ter a propaganda
do banco Itaú.
A decisão foi tomada em uma
reunião que durou mais de quatro horas, ontem -a primeira
da recém-formada CPPU (Comissão de Proteção da Paisagem Urbana), uma espécie de
"juiz" da Cidade Limpa.
Uma consulta ao Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio histórico)
colocou fim à discussão. O Conjunto Nacional é tombado, e o
Itaú anexou, no processo em
que pedia a manutenção do
anúncio, um parecer do próprio Condephaat que apontava
que o relógio é um "bem aderente" ao prédio tombado.
Em resposta à Folha, na semana passada, a vice-presidente do Condephaat, Juliana Prata, afirmou que o relógio realmente é considerado bem aderente e, portanto, precisa ser
mantido. Porém, ela explicou
que a logomarca não estava
protegida. A mesma explicação
foi dada à CPPU.
Ilegal
"A decisão é que o anúncio do
Itaú é ilegal, sem prejuízo de
outras providências que possam ser tomadas sobre aquele
relógio", disse Regina Monteiro, presidente da CPPU e mentora da Lei Cidade Limpa.
O banco paga cerca de R$ 300
mil ao Conjunto Nacional para
manter sua propaganda no alto
do prédio, em uma das regiões
mais nobres de São Paulo (o valor não é confirmado por nenhuma das partes).
O logotipo não poderá mais
permanecer, mas o relógio está
tombado pelo patrimônio histórico e não poderá ser retirado. Com a decisão da CPPU, o
Itaú poderia desistir de custear
a manutenção.
Durante a reunião de ontem,
um representante do banco
afirmou que, mesmo sem a logomarca, o banco estava disposto a discutir formas de continuar cuidando da manutenção do relógio.
O assunto voltará a ser discutido na próxima semana. Enquanto isso, o banco afirmou
que, por respeito à decisão, irá
retirar o logotipo.
Desde janeiro, todos os tipos
de publicidade exterior estão
proibidos em São Paulo -outdoors, banners, faixas, luminosos etc. As empresas tiveram
até o mês de março para adequar os anúncios indicativos de
suas fachadas aos limites impostos pela lei aprovada em setembro do ano passado.
Porém, a própria lei previa
que anúncios que estivessem
"incorporados à paisagem urbana" poderiam ser mantidos,
após análise da CPPU.
A comissão, no entanto, só foi
criada no mês passado e ontem
fez sua primeira reunião de trabalho. Enquanto isso, todos os
anúncios que aguardavam a decisão puderam ser mantidos.
Estavam nessa condição os
logotipos da Universidade
Presbiteriana Mackenzie (na
rua da Consolação), do banco
Itaú (nos prédios administrativos do Jabaquara e da avenida
do Estado), do banco Safra (na
avenida Faria Lima) e do Bic
Banco (na avenida Paulista).
Havia pedidos também da Wachovia Seguros e da Redecard.
"Todos os pedidos foram indeferidos. A gente entendeu
que não é o momento de abrir
mão de defender a cidade, até
por respeito a quem já tirou os
anúncios", afirmou Regina
Monteiro. Apenas a representante da ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes) na comissão votou contra.
Também ficou definido que a
CPPU avaliará individualmente a situação dos teatros e casas
de shows, que podem usar até
10% de suas fachadas para divulgar os espetáculos.
O urbanista e arquiteto Ruy
Ohtake diz que os símbolos comerciais não devem ser poupados pela Lei Cidade Limpa. "O
luminoso do Itaú na verdade foi
sobreposto a um projeto arquitetônico original, veio depois
para ser publicidade para o
banco. Portanto, não é uma referência histórica", diz.
"Algumas pessoas me perguntam se não acho que a cidade perdeu um pouco da memória. Discordo. Na verdade, são hábitos culturais mal colocados", diz Ohtake, que afirma
que, com a nova lei, "os espaços
da cidade estão ajudando, paulatinamente, os moradores a
valorizar o que é culturalmente
mais interessante".
Colaborou Willian Vieira
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