São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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VIOLÊNCIA
Assassinatos fora do centro expandido aumentaram 8,6% de 97 para 98; no centro, índice foi 1,3%
Violência na periferia de SP cresce seis vezes mais que na área central

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

A violência avança a galope na periferia de São Paulo. No ano passado, ela cresceu 5,6 vezes mais rápido nas bordas da cidade que na área central, segundo dados do CAP (Centro de Análise e Planejamento), da Secretaria da Segurança paulista, não divulgados oficialmente, mas obtidos com exclusividade pela Folha.
Em 98, os assassinatos fora do chamado centro expandido aumentaram 8,6% em relação ao ano anterior -foram 4.704 casos no ano passado contra 4.331 registrados em 97.
No mesmo período, a área central teve um aumento de 1,3% no número de homicídios -447 em 97 contra 453 em 98.
No cálculo feito pela Folha foram considerados como centro expandido os 20 distritos mais centrais, abrangendo a região delimitada pelas áreas das delegacias de Lapa, Pinheiros, Itaim Bibi, Vila Mariana, Vila Clementino, Ipiranga, Mooca, Belém, Pari, Bom Retiro e Perdizes.
As estatísticas dos distritos serão publicadas no anuário do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que deve estar pronto no final do mês.
O menor ritmo de crescimento da violência na região central evitou uma explosão ainda maior da estatística geral da cidade -que teve 5.157 homicídios, recorde de todos os tempos. Na média, os homicídios na capital aumentaram 7,9% de 97 para 98 -14 vezes mais do que a população, que cresceu apenas 0,5%, de acordo com a Fundação Seade.
Além de ficar evidente na diferença percentual em comparação ao centro expandido, a explosão da violência na periferia aparece em outros índices.
Na periferia estão os dez distritos policiais com maior número absoluto de assassinatos em 98 (veja quadro ao lado). Somadas, as dez regiões tiveram 1.528 homicídios dolosos (intencionais) no ano passado -30% dos casos registrados em toda a cidade, que tem 93 delegacias de polícia.
Também estão na periferia os nove distritos que tiveram aumento do número de assassinatos superior a 150% em relação a 97 (veja quadro ao lado).
A explosão é liderada pelo 75º DP (Jardim Arpoador), que engloba uma região pobre às margens da rodovia Raposo Tavares, no extremo oeste da cidade.
O secretário-adjunto da Segurança Pública, Mário Papaterra Limongi, afirma que a diferença de índices entre o centro expandido e a periferia se deve à degradação das regiões mais afastadas, decorrente da ocupação irregular.
Mas, a julgar pelo comportamento da própria secretaria, houve falhas na forma de policiar a cidade. No início do ano, a Polícia Militar informou que mudaria sua forma de trabalhar, passando a priorizar as áreas periféricas.
Agora, o secretário-adjunto informou que as megablitze que vinham sendo feitas desde a gestão do secretário anterior, José Afonso da Silva, não surtiram efeito. Por isso, disse, o governo resolveu mudar a estratégia de combate ao crime (leia texto nesta página).
O ex-secretário da Segurança José Afonso da Silva, titular da pasta em 97 e 98, sustenta que priorizou o combate à violência na periferia. "Por isso, fui levando pancada. A elite não aceita isso", afirmou Silva ao deixar o cargo.
Exemplo disso, afirmava, eram justamente as operações conjuntas de policiais civis e militares, que agora serão deixadas de lado.


Colaborou André Lozano, da Reportagem Local


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