São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
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Fenômeno supera limites da religião

da Reportagem Local

O sucesso do padre Marcelo Rossi pode ser explicado por fatores que ultrapassam o plano da religião propriamente dito.
Para Antônio Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da USP, Marcelo Rossi é "um bom produto", ou seja, foi forjado no momento certo e da maneira correta. "Ele vai ao programa da Xuxa, que o promove. Ele é oferecido, "vendido'", diz.
Na opinião do sociólogo, o padre se insere numa lógica da sociedade atual que estimula a experimentação. "Se há uma demanda, ela é por sensações. São muitos os convites à experimentação. Para comer sushi, para cantar, para experimentar coisas novas e liberar as sensações."
Nesse contexto, a religião incorpora esse modo de funcionamento, participando do "mercado das sensações" -inclusive para conquistar fiéis. "É uma religião que não diz como as pessoas têm de se comportar. Não moraliza. É menos exigente e oferece sensações. O padre Marcelo faz isso."
Reginaldo Prandi, também professor de sociologia da USP, define o padre Marcelo Rossi como um "grande artista" e o situa em um contexto mais amplo: o da segunda fase do movimento Carismático da Igreja Católica. "Na primeira fase, os leigos estavam à frente. Agora, já começam a surgir as lideranças. O padre Marcelo não é o único padre-artista. Também há o padre Zequinha, o Jorjão e o Zezinho, mais antigo."
O antropólogo Pierre Sanchis, aposentado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz que o evento realizado ontem no Rio mostra que há uma dimensão espiritual e não cotidiana que permanece latente em nossa sociedade e que acaba se manifestando nesse tipo de evento.
Essa dimensão assume as formas da sociedade contemporânea -até as usadas na cultura de massa-, escapando ao registro da religião.
Embora intensa, Sanchis diz que ainda é cedo para avaliar se a mobilização em torno do padre Marcelo vai se esgotar em manifestações emocionais individuais, ou se ela vai "dar uma mexida na sociedade". "A impressão é a de que a própria Igreja está indecisa sobre que resposta dar ao que está ocorrendo." (MARTA AVANCINI)



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