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Fenômeno supera limites da religião
da Reportagem Local
O sucesso do padre Marcelo
Rossi pode ser explicado por fatores que ultrapassam o plano da
religião propriamente dito.
Para Antônio Flávio Pierucci,
professor do Departamento de
Sociologia da USP, Marcelo Rossi
é "um bom produto", ou seja, foi
forjado no momento certo e da
maneira correta. "Ele vai ao programa da Xuxa, que o promove.
Ele é oferecido, "vendido'", diz.
Na opinião do sociólogo, o padre se insere numa lógica da sociedade atual que estimula a experimentação. "Se há uma demanda, ela é por sensações. São muitos os convites à experimentação.
Para comer sushi, para cantar, para experimentar coisas novas e liberar as sensações."
Nesse contexto, a religião incorpora esse modo de funcionamento, participando do "mercado das
sensações" -inclusive para conquistar fiéis. "É uma religião que
não diz como as pessoas têm de se
comportar. Não moraliza. É menos exigente e oferece sensações.
O padre Marcelo faz isso."
Reginaldo Prandi, também professor de sociologia da USP, define o padre Marcelo Rossi como
um "grande artista" e o situa em
um contexto mais amplo: o da segunda fase do movimento Carismático da Igreja Católica. "Na primeira fase, os leigos estavam à
frente. Agora, já começam a surgir as lideranças. O padre Marcelo
não é o único padre-artista. Também há o padre Zequinha, o Jorjão e o Zezinho, mais antigo."
O antropólogo Pierre Sanchis,
aposentado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais),
diz que o evento realizado ontem
no Rio mostra que há uma dimensão espiritual e não cotidiana
que permanece latente em nossa
sociedade e que acaba se manifestando nesse tipo de evento.
Essa dimensão assume as formas da sociedade contemporânea -até as usadas na cultura de
massa-, escapando ao registro
da religião.
Embora intensa, Sanchis diz
que ainda é cedo para avaliar se a
mobilização em torno do padre
Marcelo vai se esgotar em manifestações emocionais individuais,
ou se ela vai "dar uma mexida na
sociedade". "A impressão é a de
que a própria Igreja está indecisa
sobre que resposta dar ao que está
ocorrendo."
(MARTA AVANCINI)
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