São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
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SAÚDE
Meta de erradicação foi alcançada, mas controle deve ser mantido
País comemora dez anos sem casos de poliomielite

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O Brasil completa hoje dez anos livre da poliomielite. O último caso da doença foi registrado em Sousa (município a 434 km de João Pessoa), na Paraíba, em 1989.
A vítima, Davson Rodrigues Gonçalves, tinha 2 anos na época. A erradicação foi certificada pela Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) em 1994.
A representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância) no Brasil, Reiko Nimi, disse à Folha que considera o sucesso brasileiro "gratificante", mas adverte que ainda há riscos.
"A luta não acaba só porque não há registro. A cobertura das campanhas de vacinação é muito desigual de uma região para outra, e há sempre o risco de a pólio ser importada de outros países."
De 1980 -quando foi realizada a primeira campanha nacional de vacinação no país- a 1989, a pólio infectou 2.934 pessoas no Brasil e fez 320 vítimas fatais.
Em 1983, o país chegou perto de eliminar a doença, com o registro de apenas 45 casos. Mas a falta de mobilização para as campanhas de vacinação fizeram a doença voltar a crescer, atingindo o pico de 612 vítimas em 1986.

Epidemia
A pólio ainda é considerada hoje uma epidemia na África, no sul da Ásia e na região próxima ao Mediterrâneo.
Até 1º de agosto, 2.468 casos de pólio haviam sido registrados nas três regiões. A maioria deles (1.609) ocorreu na África, onde 30 dos 48 países ainda são afetados pela doença.
Angola é o campeão mundial, com 1.001 casos confirmados até agosto. A Índia aparece em segundo lugar, com 541 casos.
Em 1988, a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia estabelecido como meta a erradicação mundial da pólio até o ano 2000. Entretanto, a eliminação do vírus que causa a doença só foi certificada até agora nas Américas e na região do Pacífico Ocidental.
No continente americano, o último caso confirmado da doença aconteceu no Peru, em 91. Já no Pacífico Ocidental, o última registro é de 96, no Camboja.
Na Europa, houve um caso de pólio no ano passado, na Turquia. Como ainda há chances de um dos três vírus que causam a doença estar circulando no continente, a OMS não certificou a erradicação da pólio na região.

Falta dinheiro
Por causa das dificuldades em combater a pólio na África (sobretudo em países em guerra, como Congo, Serra Leoa, Libéria e Angola) a meta da OMS foi revista e agora a expectativa é que a doença esteja erradicada até 2003.
Estimativas da OMS indicam que será necessário o investimento de US$ 700 milhões nos próximos três anos para eliminar a circulação do vírus da pólio. Até agora, entretanto, só foram arrecadados US$ 375 milhões.
As doações foram feitas por quatro dos laboratórios que produzem a vacina oral contra a pólio, pelo Rotary Internacional, por agências de cooperação técnica de países desenvolvidos e por esportistas, como o jogador de futebol Ronaldo.
Se a previsão de erradicação da pólio para 2003 se confirmar, as campanhas de vacinação poderão ser suspensas em 2005.
Com isso, a estimativa é que o mundo economizará US$ 1,5 bilhão por ano -dinheiro que é gasto hoje com vacinação, exames laboratoriais, vigilância epidemiológica e reabilitação das vítimas.


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