São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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Salário está entre os mais baixos

DA SUCURSAL DO RIO

A pesquisa da Unesco que traz dados sobre o perfil do professor em diversos países foi divulgada na semana passada, em Paris, por ocasião do Dia Internacional do Professor, comemorado em 5 de outubro. No Brasil, o Dia do Professor é em 15 de outubro.
A pesquisa ainda mostra que o salário médio do professor brasileiro em início de carreira é um dos piores do mundo. Ele é terceiro mais baixo entre 38 países desenvolvidos e em desenvolvimento onde foi possível comparar esse indicador.
No Brasil, o salário médio em 98 era de US$ 4.818 anuais, valor superior ao pago na Indonésia (US$ 1.624) e no Peru (US$ 4.752). Nossos professores recebem, em média, menos da metade do que os docentes no Uruguai (US$ 9.842) e na Argentina (US$ 9.857).
Na Suíça, país onde é pago o maior salário, o valor médio, no início da carreira, é de US$ 33.209.
O estudo destaca a piora nas condições de trabalho. A relação alunos/professor, por exemplo, é um problema crescente.
Em alguns países mais pobres analisados, essa relação chega a 70 alunos por professor. É o caso de Moçambique, Congo e Senegal.
Na comparação do Brasil com os países desenvolvidos ou em desenvolvimento, o que deixa de fora as nações mais pobres da África e Ásia, a situação também é preocupante.
A relação de alunos por professor da 1ª à 6ª série no Brasil é de 28,9, a segunda maior entre 43 países. No ensino médio, o país tem a maior relação entre 33 nações, com média de 38,6 alunos por professor.

Perfil jovem
Além de essencialmente feminino, a pesquisa mostra que nosso magistério é também muito jovem. Mais de um terço (35%) dos professores da 1ª à 6ª série tem menos de 30 anos. A maioria (71,1%) tem menos de 40 anos. Só a Indonésia tem perfil mais jovem, entre 29 nações onde foi possível calcular o indicador.
O dado é preocupante: professores mais jovens são, normalmente, menos experientes, o que pode prejudicar a qualidade da aula. Porém, o perfil da população brasileira é mais jovem se comparado com o de países europeus, o que ajuda a explicar o resultado.
Para Guiomar Namo de Mello, do Conselho Nacional de Educação, a pouca experiência poderia ser menos prejudicial se os professores passassem por um processo semelhante à prática da "residência" em carreiras médicas.
Ela defende um modelo que permita ao professor voltar a complementar sua formação para, depois, assumir estágios mais avançados da carreira.
Para João Batista Oliveira, consultor em educação, o perfil jovem do professor brasileiro "tem a ver com o sistema de aposentadoria do Brasil, onde os professores se aposentam mais cedo".
Pelos dados da pesquisa, só 6,4% dos professores brasileiros têm mais de 50 anos. É a segunda menor média, atrás só da Indonésia. Ele defende o estágio probatório como forma de garantir que o professor esteja mais bem preparado quando assumir sua função.


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