AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

MOACYR LOPES JÚNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Cerca de 50 árvores foram decepadas nos últimos dias na rua Rui Barbosa, no Bexiga, um dos bairros mais tradicionais de São Paulo. No novo cenário, restaram só os troncos das árvores -alguns com meio metro de altura.
Os cortes foram feitos durante a noite por equipes da prefeitura, segundo funcionários de restaurantes da região.
Procurada pela reportagem, a Subprefeitura da Sé, responsável pela região da Rui Barbosa, disse que ontem, em razão do feriado, não seria possível explicar os motivos da poda tampouco se foi realizada a pedido de moradores ou por decisão da administração. Afirmou, no entanto, que os cortes sempre são feitos de acordo com laudos técnicos de engenheiros agrônomos.
Consultado pela Folha, o paisagista João Chaddad Júnior, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), afirma que as podas como as realizadas na região do Bexiga podem matar as árvores, deixá-las com doenças ou buracos.
"O ideal seria fazer podas apenas nos ramos finos, que cicatrizam rapidamente, e não no tronco." Se a árvore está condenada com broca ou cupim, o toco, depois do corte, deve ser removido, afirma o paisagista.
Ele diz ainda que os períodos mais indicados para as podas são os chuvosos, pois a árvore precisa absorver bastante água para conseguir sobreviver e voltar a crescer. Afirma também que as podas feitas na primavera têm um agravante. Como é a época de acasalamento dos pássaros, com a poda, ninhos com ovos são destruídos.
Na opinião do engenheiro agrônomo Waltemir Cruz Munhoz, um corte como esse pode ser considerado uma "eliminação". "As espécies usadas na arborização urbana normalmente não suportam uma poda tão radical", afirma.

Árvores atrapalham
Algumas pessoas que moram e trabalham na região aprovaram a decisão de cortar as árvores.
Segundo Pilar Franciulli, dona de uma padaria na Rui Barbosa, as árvores cobriam a luz dos postes e, por isso, deveriam ser podadas. Entretanto, ela acredita que a prefeitura "ficou no meio do caminho". "Deveria arrancá-las de uma vez e colocar arbustos, árvores menores", diz.
Orlando Costa, funcionário de uma cantina da rua, afirma que as raízes das árvores têm forçado o muro do canteiro central da Rui Barbosa e há risco de ele cair em alguns pontos. "A prefeitura precisa deixar o lugar bem bonito, fazer um jardim para atrair clientes para a região e alegrar os moradores. Nós podemos colaborar com a manutenção", diz.
Outro problema, segundo ele, é a presença de ratos nas árvores da rua Rui Barbosa. Seus ninhos, localizados embaixo dos troncos, continuam no local.

Conflito na Lapa
Ontem, o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, não foi localizado para comentar o caso. Anteontem, porém, envolveu-se numa polêmica com a Subprefeitura da Lapa, que iniciava a poda de uma seringueira na praça Jesuíno Bandeira.
Quando chegou à praça, moradores disseram que na árvore podada havia muitos ninhos de passarinhos. O secretário, então, exigiu que a engenheira agrônoma Nelma Heiffig parasse o trabalho.
"Podaram na época errada. Não vou admitir ninhos no chão. Vamos fazer uma reunião com o subprefeito do bairro e, após uma análise com outros engenheiros agrônomos, vamos tomar uma decisão", disse o secretário.
A tradutora Marilia Branbilla, que lidera o movimento contra a poda de árvores no local, considerou o ato um crime ambiental. "Na Europa, derrubaria até prefeito. Aqui tem joão-de-barro, sabiá. Não é possível que a prefeitura não saiba que estamos na primavera. Esta é a estação do renascimento da natureza, agora não é o momento de decepar a vida."
A engenheira Heiffig, que tinha o objetivo de podar cinco árvores, só conseguiu fazer uma poda. Ao deixar a praça, dizia estar confiante em seu laudo sobre a necessidade dos cortes. Porém, reconheceu que a prefeitura, devido à demanda, não tem como fazer uma programação de podas baseada nas estações do ano.


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