São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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OPINIÃO

Serras do Mar e da Cantareira

WERNER ZULAUF

O município de São Paulo alberga uma megacidade de 10 milhões de habitantes, que consomem, interagem, trabalham, se deslocam, constroem, brigam, matam, competem, amam, choram, brincam, rezam, estudam, lêem, se divertem, se estressam e praticam todas as formas de arte, da música às artes plásticas. E geram esgotos, lixo e poluições atmosférica, estética, de ruídos e de radiações.
Quem vive nessa dinâmica urbana muitas vezes não se dá conta da existência, nesse mesmo município, de densas florestas nativas ao norte e ao sul da cidade, as serras da Cantareira e do Mar. Até mesmo indígenas guaranis semi-aculturados sobrevivem na região dos rios Capivari e Monos, na vertente oceânica da serra do Mar.
Esses preciosos recursos naturais, tão necessários para a preservação da biodiversidade e dos mananciais de água, estão seriamente ameaçados. Os loteamentos clandestinos e as invasões criminosas lançam seus tentáculos mata adentro, provocando a derrubada das árvores e, por meio do fogo e da destruição da paisagem, o caos de forma galopante. A erosão e os esgotos emporcalham e entopem canais, córregos e até mesmo a água que a cidade bebe.
A omissão das autoridades para cobrir a expansão desse câncer urbano deve ser vista à luz das fragilidades técnica, estrutural, de capacitação, da falta de motivação e do medo de enfrentar a extrema organização dos empresários delinquentes e seus agentes do mal.
Não adianta as diversas autoridades envolvidas se acusarem umas às outras por suas omissões. Isso não leva a soluções. O que pode resolver é a ação conjunta, coordenada, séria, treinada e integrada das autoridades federais, estaduais e municipais envolvidas, tanto civis como policiais, judiciais e do Ministério Público.
Não se inicia uma guerra dando tiros. Antes, há que planejar, organizar os batalhões, estocar munição, conhecer o inimigo, avaliar as possibilidades de sucesso -e só aí declarar "guerra".
Para tanto, é importante, antes de tudo, harmonia política. Neste tempo de eleições, convém que sejam feitas reflexões sobre as consequências funestas que a cidade tem sofrido devido a conflitos político-institucionais. É hora de encarar com seriedade e objetividade o gravíssimo problema apontado, o que pressupõe conhecimento em profundidade de todos os ângulos da questão e, essencialmente, um planejamento tático e estratégico, precursor de ações integradas e harmônicas com equipes severamente treinadas.


Werner Eugenio Zulauf, 61, engenheiro civil e sanitarista, é secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e presidente da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente. Foi presidente da Cetesb-SP e do Ibama.



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