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OPINIÃO
Serras do Mar e da Cantareira
WERNER ZULAUF
O município de São Paulo alberga uma megacidade de 10 milhões
de habitantes, que consomem, interagem, trabalham, se deslocam,
constroem, brigam, matam, competem, amam, choram, brincam,
rezam, estudam, lêem, se divertem, se estressam e praticam todas
as formas de arte, da música às artes plásticas. E geram esgotos, lixo
e poluições atmosférica, estética,
de ruídos e de radiações.
Quem vive nessa dinâmica urbana muitas vezes não se dá conta da
existência, nesse mesmo município, de densas florestas nativas ao
norte e ao sul da cidade, as serras
da Cantareira e do Mar. Até mesmo indígenas guaranis semi-aculturados sobrevivem na região dos
rios Capivari e Monos, na vertente
oceânica da serra do Mar.
Esses preciosos recursos naturais, tão necessários para a preservação da biodiversidade e dos mananciais de água, estão seriamente
ameaçados. Os loteamentos clandestinos e as invasões criminosas
lançam seus tentáculos mata
adentro, provocando a derrubada
das árvores e, por meio do fogo e
da destruição da paisagem, o caos
de forma galopante. A erosão e os
esgotos emporcalham e entopem
canais, córregos e até mesmo a
água que a cidade bebe.
A omissão das autoridades para
cobrir a expansão desse câncer urbano deve ser vista à luz das fragilidades técnica, estrutural, de capacitação, da falta de motivação e
do medo de enfrentar a extrema
organização dos empresários delinquentes e seus agentes do mal.
Não adianta as diversas autoridades envolvidas se acusarem
umas às outras por suas omissões.
Isso não leva a soluções. O que pode resolver é a ação conjunta,
coordenada, séria, treinada e integrada das autoridades federais, estaduais e municipais envolvidas,
tanto civis como policiais, judiciais e do Ministério Público.
Não se inicia uma guerra dando
tiros. Antes, há que planejar, organizar os batalhões, estocar munição, conhecer o inimigo, avaliar as
possibilidades de sucesso -e só aí
declarar "guerra".
Para tanto, é importante, antes
de tudo, harmonia política. Neste
tempo de eleições, convém que sejam feitas reflexões sobre as consequências funestas que a cidade
tem sofrido devido a conflitos político-institucionais. É hora de encarar com seriedade e objetividade
o gravíssimo problema apontado,
o que pressupõe conhecimento
em profundidade de todos os ângulos da questão e, essencialmente, um planejamento tático e estratégico, precursor de ações integradas e harmônicas com equipes severamente treinadas.
Werner Eugenio Zulauf, 61, engenheiro civil e
sanitarista, é secretário municipal do Verde e do
Meio Ambiente de São Paulo e presidente da
Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente. Foi presidente da Cetesb-SP e do Ibama.
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