São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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SEXUALIDADE
Jovens buscam respeito e admiração na marginalidade, dizem pesquisadores
Obrigação de ser 'macho' leva ao crime

AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Oaxaca, México

O estereótipo do homem admirado no grupo, respeitado pela força e pelo dinheiro que ganha, está contribuindo para empurrar um maior número de adolescentes para a marginalidade e a violência.
Assustados diante da falta de emprego e desafiados em seus dotes como "machos", muitos estão buscando amparo no tráfico de drogas e nas gangues.
Nas classes média e alta, os adolescentes se exibem nos rachas por avenidas, na prática de esportes violentos e até no sexo sem camisinha. O homem idealizado, em lugar de ser um modelo de proteção, está cada vez mais colocando os adolescentes em risco.
A preocupação com os danos do machismo sobre os jovens é um dos temas do simpósio internacional sobre a "participação masculina na saúde sexual e reprodutiva" que acontece em Oaxaca, no México.
Vários estudos apresentados mostram os jovens em perigo e angustiados diante do desempenho que cobram dele.
Gary Barker, pesquisador da Universidade de Chicago, acompanhou dois grupos de adolescentes no Rio de Janeiro e um terceiro em Chicago (EUA).
No Rio, eram moradores de favela e de bairros da periferia. "Há uma pressão muito grande para que ele seja o provedor", afirma Barker. "Diante do desemprego, a marginalidade e a violência surgem como opção, embora um número grande de jovens esteja resistindo a isso."
Nas entrevistas, os jovens identificam o chefe do tráfico dos morros cariocas e os líderes das gangues de Chicago como o ideal de masculinidade. "A cobrança pelo papel de homem está associada ao abandono escolar, ao aumento do uso de drogas, da violência e dos problemas de saúde", afirma o pesquisador.
Margareth Arilha, diretora da Ecos, um grupo de estudos em comunicação em sexualidade de São Paulo, relata casos de adolescentes que cometeram violências para se integrar ao grupo e que, quando adultos, sofrem com isso.
Um deles contou ter participado de vários estupros na periferia onde morava para ser aceito na turma. José Olavarría, sociólogo e pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, do Chile, chega a relacionar o suicídio na adolescência às pressões impostas sobre os jovens.
Teresa Valdés, socióloga da mesma faculdade e especialista no mesmo tema, diz que as "questões de gênero" em todo o mundo estão ajudando a entender a marginalização e a violência de muitos jovens.



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