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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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SEGURANÇA

Procuradoria Geral de Justiça transferiu, por divergências internas, dois dos responsáveis por investigar facção criminosa

Promotores deixam força-tarefa anti-PCC

DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a uma das maiores crises envolvendo o PCC (Primeiro Comando da Capital), que estaria por trás da série de atentados contra a polícia de São Paulo desde o dia 2, a Procuradoria Geral de Justiça do Estado decidiu transferir seus dois promotores da força-tarefa que investigava a facção desde a megarrebelião de 2001.
Na decisão publicada no "Diário Oficial" de ontem, os promotores Roberto Porto e Márcio Sérgio Christino solicitaram a saída do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). A Folha apurou que a Procuradoria Geral pediu a saída deles por divergências internas.
Procurados ontem à tarde, os dois promotores não quiseram falar sobre o caso. Porto estava no Gaeco desde 99, tendo participado das investigações da máfia da propina, que envolvia fiscais da Prefeitura de São Paulo, e Christino entrou no grupo no ano passado, após a primeira onda de atentados feita pelo PCC. Os dois, mais o delegado Rui Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), formavam a principal frente de combate à facção.
Segundo o procurador-geral de Justiça do Estado, Luiz Antonio Guimarães Marrey, a saída deles está relacionada com a divulgação de uma entrevista gravada com o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, divulgada no último domingo pela TV Globo, na qual ele reclama do regime disciplinar.
"A entrevista do Fernandinho Beira-Mar foi filmada pelo Ministério Público para arquivo interno. A veiculação é indevida e inaceitável, confrontando com a Lei de Execuções Penais", disse Marrey, afirmando que os dois promotores são "excelentes".
Segundo ele, outros promotores do Gaeco vão assumir os casos que envolvem o PCC. "Não haverá prejuízo à sociedade", disse. O procurador-geral não quis falar se os dois serão punidos.
Porto e Christino montaram nos últimos dois anos uma rede de captação de informações, em parceria com a Polícia Civil, com informantes próprios e que alimentava ações repressivas e preventivas. Esse trabalho, por exemplo, levou à prisão, no mês passado, do advogado Mário Sérgio Mungioli, que estaria ajudando o PCC a planejar atentados, como "pombo-correio".
Promotores ouvidos ontem, que não querem ser identificados, disseram que a Promotoria vai levar um tempo para recompor o que existia e criticaram a decisão.
Sobre a fita divulgada pela TV Globo, a Folha apurou que ela foi feita no mesmo dia da prisão de Mungioli e que Beira-Mar autorizou a gravação. Os promotores disseram a amigos que, por engano, a fita com as imagens da prisão do advogado, divulgadas no dia da prisão, saíram do Gaeco para a Globo com a entrevista do traficante. (ALESSANDRO SILVA)


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