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"Não tenho ódio, mas jamais perdoarei"
DO "AGORA"
"Senti vontade de olhar bem no
fundo dos olhos deles para que
eles tivessem consciência do estrago que fizeram, de graça." A
enfermeira Lenice Silva Caffé, 51,
fala -voz baixa e sofrida- do
que sentiu ao ver, pela TV, os acusados pelo assassinato de seu filho, o estudante Felipe Silva Caffé,
19. Leia a seguir a entrevista.
Agora - Como a sua família está?
Lenice Silva Caffé Isso é indescritível. Eu não saio de casa. Estou
desempregada e fico aqui dentro,
só pensando nisso [no crime].
Agora - Como era o Felipe?
Lenice Fanático por escola e futebol. Domingo passado, iria
prestar vestibular. Mas já nem estava mais entre nós. Ele era um
palhaço. Onde ele estivesse, não
havia tristeza. Eu cheguei a perguntar se ele não ficava de mau
humor. Ele disse: "Às vezes fico,
mas isso não vale à pena".
Agora - O que a sra. sente hoje?
Lenice Não tenho ódio, mas jamais perdoarei. Nada justifica tirar a vida. Mas ódio é faca de um
gume só. Posso estar odiando, e
ele não estar nem aí. Eu sofreria
duas vezes: pela perda e pelo ódio.
Agora - O que a sra. achava de
Liana [namorada de Felipe, que
também foi morta]?
Lenice Não a conheci.
Agora - A sra. acha que eles seriam felizes juntos?
Lenice Acho que seria uma chuva de verão típica da idade. Eles
estavam preocupados em viver
bem aquele momento.
Agora - A sra. queria que o menor
[R.A.A.C., 16, acusado do crime]
fosse para a cadeia?
Lenice Acredito que, se cometeu
um crime, tem de ser punido, independentemente da idade. Crime é crime. Tirou a vida, tem de
pagar como os outros.
Agora - O que a sra. sente em relação aos acusados?
Lenice Não parei ainda para
pensar. Mas, quando os vi pela
TV, senti vontade de olhar bem
no fundo dos olhos deles para que
eles tivessem consciência do estrago que fizeram, de graça.
Agora - E com a família de Liana, a
sra. falou?
Lenice Falei com um amigo da
família. Eles sentem a mesma dor
que a gente. Aliás, não serve de
alento para mim, mas eles sofreram até mais, pelas atrocidades
que fizeram com essa menina.
Agora - E agora?
Lenice - A vida tem de continuar.
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