São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2006

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Refém diz que o ex-marido virou vítima

Ex-mulher do homem que seqüestrou ônibus no Rio por dez horas diz que ele só era violento com ela, "era covardia mesmo", disse

A auxiliar de enfermagem, que mora em Nova Iguaçu, tem o pescoço imobilizado, vários hematomas e a mandíbula fissurada


Carlo Wrede/Agência O Dia
Cristina Ribeiro, que foi refém do ex-marido na sexta-feira


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A auxiliar de enfermagem Cristina Ribeiro, 36, não teve forças ontem para comemorar o aniversário de sete anos do seu segundo filho com o camelô André Luís Ribeiro. Na manhã da última sexta-feira, seu ex-marido seqüestrou o ônibus da linha 499, na rodovia Presidente Dutra, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
Manteve por horas Cristina e dezenas de passageiros reféns. Alegava ter sido traído por ela.
"Ele já tem até advogado. Eu que sofri por dez horas não tenho nada", disse Cristina, que passou o dia na cama da sua pequena casa de quatro cômodos em Austin, Nova Iguaçu. Tinha o pescoço imobilizado, com vários hematomas, o olho esquerdo roxo e a mandíbula fissurada. Passou a tarde ao lado do filho caçula, que não parava de beijá-la. Disse que, apesar de "arrasada", se sentia aliviada.
 

FOLHA - Qual o seu futuro agora que o seu ex-marido foi preso?
CRISTINA RIBEIRO -
Vou poder andar e viver em paz. Tinha medo até de andar na rua. Não conseguia nem fazer compras.

FOLHA - Parentes dele dizem que vocês ainda vão voltar. Há chance?
RIBEIRO -
Não acredito. Não confio mais nele. No ônibus, ele disse que voltaria da prisão já numa facção. Não sou Deus para perdoar. Só de ouvir o nome dele começo a tremer. Ainda não consegui dormir. As dores são muito fortes.

FOLHA - Como era a situação dentro do ônibus?
RIBEIRO -
Muito complicada. Só pensava que iria sair de lá com sangue. Ele me batia muito. Colocava o revólver na minha boca. Ele era tratado o tempo todo como vítima. Depois de algumas horas, só os homens ficaram no ônibus. Todos diziam que não valia a pena brigar por mulher. Falavam que já tinham se separado. Ele me batia, arrancava os meus cabelos e ninguém falava nada. Agora, ele já tem até advogado. Eu, que sofri por dez horas, não tenho nada.

FOLHA - Quando ele começou a bater em você?
RIBEIRO -
Na primeira vez que nos separamos, há cerca de seis anos. Fui buscar as minhas coisas e ele puxou meu cabelo, me derrubou, machuquei o punho e cotovelo. Ali, dei parte dele na delegacia pela primeira vez. Tempos depois, ele foi armado na casa da minha mãe e me obrigou a tirar a queixa.

FOLHA - Você tirou?
RIBEIRO -
Tirei. E tive que voltar porque estava desempregada. Ele ameaçava fazer alguma coisa com minha mãe. Tirei a queixa e voltei. Quando comecei a trabalhar, o ciúme voltou.

FOLHA - Quando piorou?
RIBEIRO -
Neste ano. Ele começou a me perseguir na rua, me prendeu em casa para não me deixar trabalhar. Colocava cadeado nas portas.

FOLHA - Sua irmã disse que você foi duas vezes seqüestrada por ele...
RIBEIRO -
Nas duas vezes ele me abordou na saída do trabalho. Dizia que estava armado.

FOLHA - Ele obrigava você a manter relações sexuais?
RIBEIRO -
Sim. Em São Paulo, fiquei uma semana num hotel. Na outra vez, me levou para um motel aqui em Nova Iguaçu.

FOLHA - Como você saiu de lá?
RIBEIRO -
Disse que ia voltar para casa. Minha mãe tinha dado parte na delegacia. Quando chegamos, um vizinho avisou. Fomos para o posto policial. Os policiais pediram para ele sair, me disseram que sabiam que ele estava mentindo, mas não o prenderam. Me mandaram para a Delegacia de Mulheres. Fora isso, quando minha mãe ia na delegacia, os policiais falavam: ""Deixa eles se divertirem. A senhora está atrapalhando".

FOLHA - Você prestou queixa?
RIBEIRO -
Sim. Fui até chamada para depor, mas ele não. Esqueceram de mandar para ele. Sei que não sou a única mulher nesta situação. Têm muitas passando o mesmo tormento.

FOLHA - Era violento fora de casa?
RIBEIRO -
Não. Só descontava em mim. Era covardia mesmo.


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