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Refém diz que o ex-marido virou vítima
Ex-mulher do homem que seqüestrou ônibus no Rio por dez horas diz que ele só era violento com ela, "era covardia mesmo", disse
A auxiliar de enfermagem, que mora em Nova Iguaçu, tem o pescoço imobilizado, vários hematomas e a mandíbula fissurada
Carlo Wrede/Agência O Dia
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Cristina Ribeiro, que foi refém do ex-marido na sexta-feira |
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
A auxiliar de enfermagem
Cristina Ribeiro, 36, não teve
forças ontem para comemorar
o aniversário de sete anos do
seu segundo filho com o camelô
André Luís Ribeiro. Na manhã
da última sexta-feira, seu ex-marido seqüestrou o ônibus da
linha 499, na rodovia Presidente Dutra, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
Manteve por
horas Cristina e dezenas de
passageiros reféns. Alegava ter
sido traído por ela.
"Ele já tem até advogado. Eu
que sofri por dez horas não tenho nada", disse Cristina, que
passou o dia na cama da sua pequena casa de quatro cômodos
em Austin, Nova Iguaçu. Tinha
o pescoço imobilizado, com vários hematomas, o olho esquerdo roxo e a mandíbula fissurada. Passou a tarde ao lado do filho caçula, que não parava de
beijá-la. Disse que, apesar de
"arrasada", se sentia aliviada.
FOLHA - Qual o seu futuro agora
que o seu ex-marido foi preso?
CRISTINA RIBEIRO - Vou poder andar e viver em paz. Tinha medo
até de andar na rua. Não conseguia nem fazer compras.
FOLHA - Parentes dele dizem que
vocês ainda vão voltar. Há chance?
RIBEIRO - Não acredito. Não
confio mais nele. No ônibus, ele
disse que voltaria da prisão já
numa facção. Não sou Deus para perdoar. Só de ouvir o nome
dele começo a tremer. Ainda
não consegui dormir. As dores
são muito fortes.
FOLHA - Como era a situação dentro do ônibus?
RIBEIRO - Muito complicada. Só
pensava que iria sair de lá com
sangue. Ele me batia muito. Colocava o revólver na minha boca. Ele era tratado o tempo todo
como vítima. Depois de algumas horas, só os homens ficaram no ônibus. Todos diziam
que não valia a pena brigar por
mulher. Falavam que já tinham
se separado. Ele me batia, arrancava os meus cabelos e ninguém falava nada. Agora, ele já
tem até advogado. Eu, que sofri
por dez horas, não tenho nada.
FOLHA - Quando ele começou a bater em você?
RIBEIRO - Na primeira vez que
nos separamos, há cerca de seis
anos. Fui buscar as minhas coisas e ele puxou meu cabelo, me
derrubou, machuquei o punho
e cotovelo. Ali, dei parte dele na
delegacia pela primeira vez.
Tempos depois, ele foi armado
na casa da minha mãe e me
obrigou a tirar a queixa.
FOLHA - Você tirou?
RIBEIRO - Tirei. E tive que voltar
porque estava desempregada.
Ele ameaçava fazer alguma coisa com minha mãe. Tirei a queixa e voltei. Quando comecei a
trabalhar, o ciúme voltou.
FOLHA - Quando piorou?
RIBEIRO - Neste ano. Ele começou a me perseguir na rua, me
prendeu em casa para não me
deixar trabalhar. Colocava cadeado nas portas.
FOLHA - Sua irmã disse que você foi
duas vezes seqüestrada por ele...
RIBEIRO - Nas duas vezes ele me
abordou na saída do trabalho.
Dizia que estava armado.
FOLHA - Ele obrigava você a manter relações sexuais?
RIBEIRO - Sim. Em São Paulo, fiquei uma semana num hotel.
Na outra vez, me levou para um
motel aqui em Nova Iguaçu.
FOLHA - Como você saiu de lá?
RIBEIRO - Disse que ia voltar para casa. Minha mãe tinha dado
parte na delegacia. Quando
chegamos, um vizinho avisou.
Fomos para o posto policial. Os
policiais pediram para ele sair,
me disseram que sabiam que
ele estava mentindo, mas não o
prenderam. Me mandaram para a Delegacia de Mulheres. Fora isso, quando minha mãe ia
na delegacia, os policiais falavam: ""Deixa eles se divertirem.
A senhora está atrapalhando".
FOLHA - Você prestou queixa?
RIBEIRO - Sim. Fui até chamada
para depor, mas ele não. Esqueceram de mandar para ele. Sei
que não sou a única mulher
nesta situação. Têm muitas
passando o mesmo tormento.
FOLHA - Era violento fora de casa?
RIBEIRO - Não. Só descontava
em mim. Era covardia mesmo.
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