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Eletrobrás investe menos da metade da verba
Maior estatal do setor energético do Brasil gastou apenas 48% do orçamento e culpa problemas legais e ambientais
Para especialistas, tornar
o sistema elétrico do país
menos exposto a situações
imprevisíveis tem um preço
alto e exige investimentos
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
O Grupo Eletrobrás, que controla grande parte dos sistemas
de geração e transmissão de
energia elétrica do Brasil, investiu, até o fim de setembro,
48% da verba prevista no orçamento do ano, tanto para geração quanto para transmissão.
No total, o orçamento prevê R$
7,2 bilhões em investimentos.
Tornar o sistema elétrico
mais seguro e menos exposto a
situações imprevisíveis, como
raios e falhas humanas, tem um
preço alto e exige investimentos, afirmam especialistas.
A Eletrobrás é a empresa
controlada pelo governo que
detém metade do capital da
Itaipu, desligada totalmente
pela primeira vez na história
durante o apagão que atingiu 18
Estados nesta semana.
A Eletrobrás prevê que, até o
fim de ano, executará de 70% a
80% do orçamento. Segundo a
estatal, a execução depende de
fatores como "procedimentos
legais e ambientais que necessitam ser cumpridos". Como
exemplo cita a usina Angra 3,
cuja construção deveria começar em março, mas, devido à espera pelo licenciamento ambiental, só iniciou em outubro.
Nos últimos nove anos, os investimentos da Eletrobrás ficaram abaixo de 0,5% do PIB
(Produto Interno Bruto). Em
2000, um ano antes do maior
apagão energético do país, as
aplicações no setor foram equivalentes a 0,18% do PIB.
"Quando acontece algo assim
[blecaute], todo mundo acha
que investiu pouco. Mas só o
planejamento do setor pode
definir o investimento ideal",
afirmou o deputado Nelson
Bornier (PMDB-RJ), vice-presidente da Comissão de Minas
e Energia da Câmara.
Investimentos
De imediato, o custo para
aperfeiçoar, expandir, modernizar e dar mais segurança à rede de fios que trazem energia
das usinas ao consumidor seria
de R$ 6 bilhões. O cálculo é da
Trevisan Consultoria e não inclui a construção de usinas de
geração. Em relação à segurança, os investimentos seriam dirigidos ao uso de equipamentos
com maior precisão, computadores e sistemas de tecnologia
da informação mais avançados.
"Depois de investir em geração, o Brasil apostou em um
modelo que dá prioridade ao
preço da tarifa e optou por não
dar prioridade à segurança na
transmissão. Foi uma aposta,
que agora se mostrou errada",
diz Antônio Carlos Porto, consultor de energia e sustentabilidade da Trevisan.
Porto defende a criação de
sistemas "redundantes", em
que, na falta de energia das hidrelétricas, cidades ou regiões
tivessem capacidade para gerar
energia e uma rede para transportá-la internamente, criando
ilhas de abastecimento.
Independentemente disso, já
deveria estar em discussão no
país a substituição dos equipamentos para monitorar a rede.
"Essa rede permitiria ampliar a quantidade de dados disponíveis. Poderíamos ter dados
meteorológicos ou informações mais precisas de sobrecarga, de forma automatizada e
menos dependente da análise
do homem", diz Jamil Haddad,
da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético.
A decisão de pagar para criar
redes inteligentes com capacidade de geração de energia não
é uma unanimidade. "É muito
dinheiro a ser investido que poderia ser aplicado em outra coisa. A sociedade deveria fazer as
contas e decidir: é melhor pagar
uma conta muito mais alta ou
sofrer um risco de raio a cada
dez anos?", diz Ennio Peres,
professor de física da Unicamp.
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